Ciência e Saúde

Apesar de serem alvo de depressão e ansiedade, brasileiros vivem mais

Relatório mundial de doenças e fatores de risco mostra que os brasileiros vivem mais, só que comprometidos principalmente por depressão, ansiedade e dores lombares

Vilhena Soares
postado em 07/10/2016 06:05


O brasileiro tem vivido mais. Porém, com complicações que atrapalham o bem-estar físico e psicológico. Depressão, ansiedade e dor lombar são as principais delas, segundo o relatório anual Global Burden of Disease Study 2015, divulgado ontem pela revista inglesa The Lancet. O trabalho, resultado da participação de 1.800 colaboradores em 130 países e territórios, faz um panorama, tanto local quanto geral, de aspectos que comprometem a saúde da população e interferem na mortalidade.

Globalmente, o tempo de vida pulou de 62 para 72 anos, de 1980 a 2015. Uma criança nascida no Brasil em 2015 pode esperar viver até aos 74 anos, enquanto a mãe dela, se tiver nascido em 1990, tem uma expectativa de vida de 68. De acordo com os autores, a extensão de longevidade é positiva, mas evidencia os impactos dos maus hábitos adquiridos desde a juventude, como a ingestão alta de calorias.

A obesidade, aponta o estudo, é justamente um dos fatores que desencadeiam os problemas de saúde que mais ameaçam os brasileiros. ;O aumento da expectativa de vida reduz muito a mortalidade em geral, mas, por outro lado, você tem um padrão de envelhecimento mundial que aumenta a taxa de doenças crônicas. É o que vemos também na lista de doenças que mais causam mortes no Brasil, com a doença isquêmica do coração em primeiro lugar e, em segundo, o AVC (derrame);, explicou ao Correio Fátima Marinho, diretora na área de Promoção de Saúde do Ministério da Saúde e uma das autoras do trabalho.

De acordo com Marinho, as enfermidades que mais acometem homens e mulheres no país ; depressão, ansiedade e dor lombar ; refletem o baixo nível de qualidade de vida. ;As necessidades de trabalho estão muito estressantes, olhando a situação no âmbito geral, até mesmo a forma como anda a economia influi nesse cenário. Isso aumenta o que chamamos de cargas de doença, e, consequentemente, a perda de saúde. Resumindo, as pessoas têm morrido menos, mas perderam a qualidade de vida;, destacou.

Para a especialista, melhoras no bem-estar dos brasileiros serão alcançadas se houver mudanças de comportamento. ;A nossa preocupação é continuar com a redução da mortalidade, com interações que promovam a prevenção desses problemas e reduzam a perda de saúde. Para isso acontecer, temos que trabalhar agora, mudar, por exemplo, o comportamento alimentar, comer menos produtos industrializados, ingerir mais frutas e fazer mais exercícios físicos;, ilustrou.

Mães seguras

Outro ponto do estudo que impressionou os autores e que refletiu melhoras na saúde global foi a redução de mortes maternas (gestantes e mulheres com filhos recém-nascidos) e de crianças. O cenário brasileiro destacou-se nessas áreas. A nível mundial, 12,1 milhões de crianças com menos de 5 anos morreram em 1990. O número caiu 52% considerando 2015, quando foram registrados 5,8 milhões de óbitos. A queda foi ainda maior no Brasil: 73%, de 191.505 para 51.226.

Na maior parte do mundo, dar à luz é mais seguro para as mães e os recém-nascidos que há 25 anos. A morte dessas mulheres caiu de 3.081 em 1990 para 1.972 em 2015, um índice de 29% no país. ;O Brasil teve uma redução grande, com a América Latina. Isso mostra uma melhora muito importante. O único país dessa região que ficou para trás foi o Haiti. Acredito que esse é um processo pelo qual estamos passando e que devemos evoluir. Os países ricos tiveram mais tempo e recursos para fazer isso, mas nós já melhoramos muito. Não tem muito tempo, nos anos de 1980, estávamos no mapa da fome;, relembrou Marinho.

Nathalia Sarkis, pediatra do Hospital Santa Lúcia em Brasília e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), avalia que os dados do relatório refletem uma maior atenção à saúde infantil. ;Esses números são muito positivos porque mostram que o país está investindo em saúde pública e no atendimento. Crianças menores de 5 anos geralmente morrem de asfixia, um problema recorrente na hora do parto. A queda é um sinal de que tem existido um cuidado maior na sala de cirurgia;, explicou.

A pediatra também ressalta que mudanças quanto à saúde das crianças é algo percebido nos consultórios. ;Os pais têm sido mais cuidadosos, não temos mais lidado com as doenças e sim com o desenvolvimento da prevenção. A diarreia mesmo era um problema que antes causava morte e, agora, não gera a mesma preocupação do passado;, ilustrou. Para Sarkis, a redução de mortes maternas também merece destaque. ;Essa sobrevida de gestantes e de mães asseguram o aleitamento materno, que é superimportante para garantir a saúde e o desenvolvimento das crianças.;

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