Ninguém passou tantos dias na Terra quanto Jeanne Louise Calment. Ao morrer, em 4 de agosto de 1997, ela havia completado 122 anos de existência. Desde então, ninguém superou seu feito. E muito dificilmente alguém o fará. Segundo um estudo publicado na edição mais recente da revista Nature, o limite natural para a vida humana está em torno dos 115 anos, sendo que, muito eventualmente, alguém pode ultrapassar essa marca, como Jeanne fez. Além disso, a probabilidade de alguém ultrapassar os 125 anos seria baixíssima.
Principal autor da pesquisa, Jan Vijg, professor da Faculdade de Medicina Albert Einstein, nos Estados Unidos, explica ao Correio que a análise foi inspirada no caso da francesa supercentenária (termo usado para descrever pessoas que vivem mais de 110 anos). ;Nos pareceu estranho que, duas décadas depois de Jeanne Calment morrer, ninguém tenha chegado perto de alcançar sua idade, apesar das melhorias em curso nos cuidados médicos e de saúde em geral;, diz.
Em busca de uma resposta, ele e sua equipe passaram a estudar dados de mortalidade de mais de 40 países. notando que as nações mostraram um declínio contínuo nas taxas de mortalidade a partir de 1900. Porém, no grupo das pessoas que atingiam os 100 anos, esse aumento do tempo de vida não acompanhava a tendência geral. ;Essa descoberta indica um possível limite para vida humana;, completa Vijg. As análises estatísticas indicam que a probabilidade de alguém superar os 125 anos é menor do que 1 em 10 mil.
Apontar um teto para o tempo de vida dos seres humanos sugere que os avanços da medicina também terão um limite, sendo esse um dos pontos mais polêmicos do estudo. Para alguns especialistas, é impossível prever o impacto de futuras descobertas na área da saúde. Vijg, contudo, acredita que esses achados devem elevar a expectativa de vida média da humanidade, mas não fazer com que pessoas cheguem aos 130, 140, ou 150 anos.
;Os progressos contra as doenças infecciosas e crônicas podem continuar aumentando a expectativa média de vida, mas não nosso tempo máximo. Embora seja concebível que os avanços terapêuticos possam aumentar a longevidade humana para além dos limites já calculados, seria necessário superar as muitas variantes genéticas que parecem determinar coletivamente a existência do homem;, argumenta.
Qualidade
Para Jay Olshansky, pesquisador da Universidade de Saúde Pública de Illinois, ressaltar os limites da longevidade e da medicina podem estimular mudanças relevantes na forma como os cuidados com a saúde são encarados. ;Espero que o reconhecimento de que há um limite para a vida encoraje nossa comunidade médica a despertar para a ideia de que chegou a hora de criar um paradigma de saúde pública focado em retardar a taxa de envelhecimento como uma nova forma de prevenção primária;, opina.
;Temos que lembrar que o objetivo da ciência do envelhecimento é prolongar a vida saudável. A extensão da vida não é o nosso objetivo. Estou otimista que a ciência nos levará para esse caminho;, acrescenta o especialista. ;Esses pesquisadores apenas reforçaram o que muitos vêm dizendo há décadas. Esse artigo surpreende apenas algumas pessoas que querem acreditar que podemos sempre fabricar mais tempo de sobrevivência através da tecnologia médica.;
Jarbas Roriz, médico geriatra e diretor científico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), também aponta que o estudo americano está em sintonia com outros trabalhos recentes que indicam um limite para a existência. ;Dentro do processo de envelhecimento humano, existe a perda da função de diversos órgãos, causados pelo envelhecimento celular;, aponta o brasileiro. Segundo ele, pesquisas sugerem, por exemplo, que a perda gradual de funções do cérebro levaria a um quadro de demência senil gravíssimo por volta dos 125 anos, número que coincide com os apontados no trabalho de Vijg.
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