Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Macacos brasileiros podem mudar a arqueologia

Estudo mostra que os macacos da Serra da Capivara (PI) criam, acidentalmente, pedras pontiagudas semelhantes a ferramentas fabricadas por ancestrais do homem

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A descoberta de que macacos-prego da Serra da Capivara fabricam lascas de pedra pontiagudas de maneira não intencional coloca em xeque recentes descobertas arqueológicas. O achado foi apresentado nesta quarta-feira (20) na revista Nature por pesquisadores brasileiros e britânicos.

No estudo, os cientistas descrevem o curioso hábito que esses macacos, também chamados de capuchinhos, têm de bater seixos soltos contra rochas, o que resulta na formação de pedras lascadas em formato de lâminas afiadas. O detalhe curioso é que esses objetos são idênticos a outros, encontrados na África, e atribuídos a ancestrais humanos.

A arqueologia em xeque

No ano passado, uma controversa pesquisa de cientistas da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, apresentou peças de 3,3 milhões de anos escavadas em um sítio arqueológico do Quênia como sendo ferramentas produzidas por ancestrais humanos. Elas precederiam as mais antigas já descobertas até agora em 700 mil anos.

Porém, uma análise feita por Tomos Proffitt, da Universidade de Oxford e um dos autores do estudo na Serra da Capivara, mostra que não há diferença entre as pedras encontradas no Quênia e a produzidas pelos macacos. Ou seja, não é possível afirmar que ancestrais humanos já produziam ferramentas intencionalmente há 3,3 milhões de anos.

"Essas ferramentas (achadas na África) podem ser produto de um hominíneo (membro da subfamília Homininae, formada pelo homem moderno e seus antecessores, além de gorilas e chimpanzés). Mas a fabricação delas pode ter sido tão acidental quanto a realizada pelo macaco-prego. Isso gera um problema sério para alguns estudos arqueológicos", diz Eduardo Ottoni, pesquisador do Departamento de Psicologia Experimental da USP e também coautor do novo artigo.