Estava tudo correndo tão bem que, no centro de operações da Agência Espacial Europeia (ESA), em Darmstadt, na Alemanha, muita gente já estava de pé, com os braços para o alto. Mas eis que, depois de percorrer 500 milhões de quilômetros pelo espaço e entrar na inóspita atmosfera marciana, o módulo Schiaparelli, da ambiciosa missão que pretende buscar vestígios de vida no Planeta Vermelho, parou de se comunicar um minuto antes de tocar o solo. A apenas 1km da superfície, o robô se calou. As comemorações deram lugar à apreensão. Ontem, em uma coletiva de imprensa transmitida pela internet, a diretoria da ESA admitiu, oficialmente, que o paradeiro do Schiaparelli é desconhecido.
;Quando a colocamos no ambiente marciano, a nave não se comportou exatamente como o esperado, e pode levar algum tempo até que possamos localizá-la;, disse Andrea Accomazzo, gerente de operações planetárias da ESA. Ele explicou que os primeiros passos do módulo de 577kg em Marte ocorreram dentro do planejado: o robô abriu o paraquedas, e o escudo térmico funcionou perfeitamente. Antes de sumir do radar, ele chegou a enviar dados para a sonda TGO, que está na órbita do planeta. A falha ocorreu pouco antes do minuto final do pouso, depois que o Schiaparelli se libertou do paraquedas.
Embora os sinais ainda estejam sendo analisados ; as informações recebidas pela TGO devem ser anunciadas nos próximos dias, assim como imagens do pouso ;, os especialistas suspeitam que o módulo tenha se libertado do paraquedas antes do indicado. Não se sabe se o robô se espatifou no contato com o solo ou se apenas os sensores pararam de funcionar. O desfecho do Shciaparelli em território marciano lembra a malograda missão europeia que, em 2003, mandou para o planeta o módulo Beagle 2. O robô também conseguiu chegar, mas nunca enviou sinais para a Terra.
Otimismo
Na entrevista de ontem, os executivos da ESA tentaram, porém, passar uma mensagem de otimismo. ;Essa missão é composta por dois elementos: a nave-mãe e o módulo;, disse Accomazzo. ;A sonda TGO se posicionou perfeitamente na órbita de Marte e está pronta para a ciência;, complementou Jan Woerner, o diretor-geral da ESA.
O objetivo do programa ExoMars é encontrar sinais da existência de vida em Marte (exo refere-se à exobiologia, também chamada de astrobiologia, o campo que investiga vida surgida fora da Terra) e, para isso, divide-se em duas missões. A primeira, lançada em março, consistia no envio da nave TGO e do módulo Schiaparelli. Até o minuto final, ela foi bem-sucedida. A segunda parte está prevista para 2020, quanto se tentará instalar uma plataforma científica na superfície do planeta.
Embora o robô provavelmente esteja inutilizado, a TGO continua na órbita marciana, de onde buscará metano e traços de outros gases atmosféricos que podem ser assinaturas de processos biológicos ou geológicos. O módulo perdido testaria tecnologias para as próximas missões ao planeta. ;Sempre ficou claro que o Schiaparelli era um teste como muitos outros;, disse Accomazzo. ;Nós temos informações chegando que vão nos permitir compreender os passos (do módulo Schiaparelli) e por que o pouso não ocorreu (como previsto). Do ponto de vista da engenharia, era o que esperávamos de um teste, e, agora, temos dados extremamente valorosos com os quais trabalhar;, garantiu David Parker, diretor de exploração robótica da ESA.
Júpiter
A semana não foi ruim apenas em Marte. A mais ou menos 550 milhões de quilômetros dali, em Júpiter, a nave Juno, da agência espacial americana, a Nasa, entrou em modo de segurança. Em princípio, um software induziu o reinício do computador de bordo. ;A nave agiu como o esperado durante a transição ao modo de segurança, reiniciou com sucesso e está saudável;, disse a Nasa em um comunicado. Todos os instrumentos, porém, estão desligados, o que impediu a coleta de dados prevista para ontem. Quando o desligamento aconteceu, Juno estava a menos de 13 horas do ponto mais próximo de Júpiter.