postado em 02/12/2016 21:23
A 13; conferência da ONU sobre biodiversidade começou nesta sexta-feira (2/12) em meio a um pessimismo ante a evidência de que a maioria das suas metas urgentes para preservar as espécies e usar os recursos de maneira sustentável não serão alcançadas em 2020, como tinha sido pactado.
Durante as reuniões, que serão realizadas no balneário de Cancún até 17 de dezembro, serão avaliados estudos que demonstram que cerca de dois terços das metas estabelecidas em 2010 - chamadas de metas de Aichi - não serão alcançadas nos quatro anos que restam de prazo, indica um comunicado divulgado pela ONU.
"Diante dos relatórios pouco animadores" se pedirá que as mais de 190 nações que formam o Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB) "intensifiquem seus esforços" para proteger os ecossistemas, "nos quais se baseiam a segurança alimentar, o acesso à água e a saúde de bilhões de pessoas", acrescenta o comunicado, que prognostica "graves repercussões para o bem-estar humano".
O próprio CDB emitiu um informe no qual assegura que entre 6% e 44% dos relatórios sobre as 20 diferentes metas "contém informação que sugere que não ocorreu nenhuma mudança significativa, ou que o país está se afastando do cumprimento de uma meta determinada".
"Hoje, os progressos não são suficientes para alcançar as metas de Aichi", reconhece.
A ONG ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF) calcula que apenas 5% dos países poderão cumprir a tempo os objetivos de melhorar as condições das florestas, dos oceanos, da água doce e das espécies silvestres.
Atualmente, mais da metade das florestas no mundo foram perdidas, assim como mais de 90% das zonas úmidas, enquanto que a taxa de extinção de espécies é mil vezes mais alta hoje do que antes da revolução industrial, apontou em conferência de imprensa Braulio Ferreira, secretário-executivo do CDB.
E agora, "o que nos fará crer que podemos acelerar o passo e alcançar as metas de Aichi? Porque o enfoque habitual das empresas não nos levará a isso", disse à AFP Deon Nel, diretor global de conservação na WWF.
Oportunidade de negócio
Diante deste panorama, o México - como anfitrião - levará à mesa líderes dos setores agrícola, florestal, pesqueiro e turístico, que têm um impacto negativo sobre a biodiversidade, para que incorporem em suas políticas critérios de conservação e uso sustentável dos recursos.
Para Erik Solheim, diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, preservar a vida como a conhecemos não é só um imperativo moral, senão uma questão econômica.
"O turismo é a maior fonte de empregos do planeta Terra", disse, ao defender a utilização "das enormes forças do mercado pelo bem do ambiente".
Solheim descreveu um programa em Ruanda para aumentar a população de gorilas das montanhas, que teve êxito porque a preservação da espécie foi abordada como uma "oportunidade de negócio".
"Cada gorila vale um milhão de dólares em receita para o turismo em Ruanda, de modo que a preservação se converteu em uma enorme oportunidade de criar empregos", explicou.
Mas para Nel isso não será suficiente.
A inclusão da biodiversidade "deve partir do coração do planejamento econômico e financeiro (...) em um nível mais fundamental", para posteriormente ir até os setores mais específicos, explicou.
EUA só observador
O Convênio sobre a Diversidade Biológica foi ratificado por todos os Estados-membro da ONU, exceto os Estados Unidos, que vai comparecer à reunião em Cancún como país observador.
Há alguns dias, foi realizada em Marrakesh a 22; Conferência da ONU sobre o Clima, em meio a incertezas pela chegada à presidência dos Estados Unidos de Donald Trump, que chegou a qualificar as mudanças climáticas de "mito".
"Estados Unidos é um país muito influente" e a atual mudança de administração traz "muita incerteza em questões ambientais", comentou Nel.
Solheim, por sua vez, fez um apelo à união.
";Juntos;, essa é a chave para resolver qualquer problema, sejam guerras, terrorismo, paz, meio ambiente, (...) juntos podemos fazer milagres", assegurou.
Os ambientalistas temem que no mandato de Trump, os Estados Unidos se retirem da convenção da ONU sobre o clima, renunciem a limitar as emissões de gases do efeito estufa procedente principalmente da queima de combustíveis fósseis e deixem de financiar as energias limpas nos países em desenvolvimento.
Por France-Presse