Margareth Lourenço - Especial para o Correio
postado em 12/12/2016 07:37
O popular hormônio do sono ganhou mais um atributo à sua extensa lista de potencialidades, que passa por auxiliar no emagrecimento, tratar o Parkinson e até prevenir e combater o câncer. Pela primeira vez, é demonstrado cientificamente que a melatonina melhora a performance esportiva. A afirmação está sustentada nos resultados da pesquisa realizada pelo professor Wladimir Rafael Beck, da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
[SAIBAMAIS]Por três anos, ele conduziu experimentos que comprovam um aumento de até 150% no tempo de duração dos exercícios feitos por ratos que receberam doses do hormônio. A melhora do desempenho físico, porém, não acompanhou a proteção aos músculos dos animais. ;Esperávamos esse efeito pela conhecida capacidade anti-inflamatória desempenhada pela melatonina;, ressalta o pesquisador.
Com os resultados, é possível concluir que a melatonina tem um efeito ergogênico, ligado à produção de trabalho, mais potente que o protetor, explica Beck. Antes de dar início à pesquisa, ele tinha como hipótese que a propriedade anti-inflamatória da substância poderia causar a ergogenia. ;A surpresa veio com o fato de que, mesmo com mais inflamação, mais danos ao tecido e mais estresse oxidativo, o animal continuou fazendo o exercício;, destaca. Pelo tema inédito e pelos resultados alcançados, a tese está entre as premiadas deste ano pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Satisfeito com os bons resultados e incentivado pela premiação, o pesquisador planeja os próximos passos do seu trabalho. ;Agora, quero estudar por que acontece o benefício ergogênico em exercícios de longa duração, como a natação. Quero fazer experimentos com outros tipos de atividades físicas, com outras intensidades de esforço e também aplicar os testes em pessoas;, informa Beck, que fez os experimentos com ratos, observados enquanto nadavam e após receber doses do hormônio em períodos diferentes do dia.
O pesquisador lembra que esses roedores são animais de hábitos noturnos. Diferentemente do homem, o período de vigília do rato é à noite, quando foram obtidos os melhores resultados da pesquisa. Assim, Beck pondera que o efeito das doses de melatonina aplicadas nas cobaias pode ter potencializado a atividade física devido à forma como vivem esses animais. ;Por isso, é preciso explicar os mecanismos que levaram a uma ergogenia tão fantástica e transferir esse tipo de pesquisa para o modelo humano, que tem melhor estado de vigília durante o dia;, observa.