Ciência e Saúde

Mapeamento identifica 600 mil fragmentos do planeta que não têm rodovias

Segundo os pesquisadores, a maioria é pequena, com área de até 1 quilômetro quadrado, e não protegida por leis ambientais

Paloma Oliveto
postado em 16/12/2016 07:22
O Parque Nacional Blue Mountains, na Austrália, faz parte do relatório: ao todo, mundo tem 36 milhões de quilômetros de pistas construídas
Desde mais ou menos 8 mil anos, os homens abrem estradas para facilitar o deslocamento de pessoas e mercadorias. Essa estratégia permitiu um fluxo de genes e ideias, sem os quais as populações mundiais estariam fragmentadas e isoladas. Mas se por um lado elas favoreceram a humanidade, por outro os ecossistemas pagam um preço alto. Agora, um grupo de pesquisadores de vários países, incluindo o Brasil, fez um mapeamento mostrando que, com 36 milhões de quilômetros de estradas cortando o planeta, sobraram 600 mil fragmentos de terras livres dessas interrupções.

[SAIBAMAIS]Pode parecer muito, mas elas são pequenas. O trabalho, publicado na revista Science desta semana, indica que apenas 7% das frações territoriais nas quais não há estradas próximas são maiores que 100 quilômetros quadrados. Mais da metade delas tem menos de 1 quilômetro quadrado. ;Estradas são um dos maiores promotores de degradação ambiental, e, por vezes, também de degradação da qualidade de vida de populações tradicionais. Uma vez construídas, é praticamente impossível frear esse processo;, diz Mariana M. Vale, bióloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e única pesquisadora do Hemisfério Sul a participar do estudo. ;Existem muitos critérios para priorização de áreas para conservação ambiental, mas, surpreendentemente, áreas livres de estrada não são um critério amplamente utilizado;, ressalta (leia Duas perguntas para).

A falta de políticas de proteção a essas preciosas regiões é duramente criticada pelos organizadores do mapeamento. ;Em muitos casos, as áreas livres de estrada representam faixas remanescentes de ecossistemas funcionais e são de uma significância-chave para os processos ecológicos, como regular o ciclo hidrológico e o clima;, observa Pierre Ibisch, principal autor do estudo e professor da Universidade Eberswalde de Desenvolvimento Sustentável, na Alemanha. Segundo os pesquisadores, a agenda de sustentabilidade das Nações Unidas falha em não reconhecer a importância desses fragmentos ainda intocados e pode, inclusive, ameaçá-los, pois alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis, que entraram em vigor no ano passado, apresentam conflitos de interesse entre crescimento econômico e proteção à biodiversidade. Além disso, a Convenção sobre Biodiversidade da ONU traz 20 metas que visam salvaguardar os ecossistemas, mas em nenhuma delas há menção às regiões sem estradas.
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