Vilhena Soares
postado em 23/12/2016 06:00
Mais da metade das brasileiras que planejam ter um bebê tem evitado a gravidez por causa do vírus zika. É o que mostra um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), que entrevistou voluntárias em todas as regiões do país. O levantamento também mostra que o índice mais alto de mulheres que temem a gestação por causa da doença está concentrado no Nordeste, a região que mais sofreu com a enfermidade. Os autores do estudo, publicado na última edição do periódico internacional Journal of Family Planning and Reproductive Health Care, destacam que os dados reforçam a necessidade de se reconsiderar a criminalização do aborto nos casos de infecção pelo zika, além da relevância da melhoria nas políticas de saúde reprodutiva, que garantam o acesso das mulheres a métodos contraceptivos seguros e eficazes.
Os pesquisadores coletaram dados de 2.002 brasileiras, entre 18 e 39 anos, alfabetizadas e que vivem em centros urbanos, um perfil que corresponde ao de 83% da população feminina do país. Liderada pela professora Debora Diniz, a equipe utilizou uma metodologia dupla. A primeira etapa consistiu no uso de uma urna, na qual as participantes depositaram respostas anônimas, informando se já haviam realizado aborto. ;Uma em cada cinco mulheres declarou ter feito alguma prática para interromper a gravidez;, destacou Debora Diniz ao Correio.
Na segunda fase da pesquisa, as participantes responderam várias perguntas sobre reprodução e saúde feminina. Uma das questões era se a entrevistada tinha evitado engravidar nesse ano por causa do zika. Como resultado, 56% das mulheres disseram em suas avaliações que optaram por não ter uma gestação pelo medo da epidemia. Um dos pontos que mais chamou a atenção dos cientistas foi a quantidade de mulheres que relataram evitar a gravidez no Nordeste (66%), número mais expressivo do que as entrevistadas do sul (46%). ;Esses dados fazem muito sentido, já que uma das regiões que mais sofreram com o surto da enfermidade foi justamente o Nordeste;, explicou Debora Diniz.
O estudo também mostrou que as mulheres negras e pardas eram mais propensas a evitar a gestação do que as brancas, o que também reflete o impacto da epidemia em grupos raciais considerados vulneráveis. Os cientistas não encontraram diferenças significativas entre os principais grupos religiosos: 58% das mulheres católicas e 55% das evangélicas relataram ter evitado a gravidez por causa da epidemia do zika.