Ciência e Saúde

Soluções em 3D poderão ajudar médicos com imagens detalhadas do corpo

Oncologia será uma das áreas mais beneficiadas

Vilhena Soares
postado em 28/12/2016 06:38
Especialista com óculos de realidade virtual usados para exame de imagens em 3D: tecnologia brasileira
Diferenciar células cancerígenas das sadias é um dos grandes desafios médicos, triagem imprescindível durante a cirurgia de retirada de um tumor, por exemplo. Com a ajuda da tecnologia tridimensional, essa tarefa poderá se tornar mais fácil. Assim como outros procedimentos que precisam da visualização detalhada de partes do corpo e da ação de micro-organismos invasores e medicamentos. Cientistas brasileiros e estrangeiros trabalham com afinco em projetos do tipo e começam a apresentar resultados promissores.

É o caso de um microscópio de mão projetado por pesquisadores britânicos. O aparelho consegue gerar imagens 3D de alta qualidade por meio de uma técnica chamada microscopia de fluorescência excitada. A visualização obtida pelo equipamento é tão apurada que se pode diferenciar células doentes mesmo quando o paciente está se movendo, durante uma caminhada, por exemplo. ;Esse foi um projeto muito emocionante, nos permitiu desenvolver um microscópio com um desempenho que anteriormente pensávamos ser impossível;, conta Jonathan Knight, pesquisador da Universidade de Bath e um dos autores do trabalho.

Os cientistas desenvolveram a tecnologia para acabar com a necessidade da biópsia, um procedimento invasivo e doloroso em que se tira parte de tecidos de um indivíduo para facilitar o diagnóstico de cânceres. A mesma equipe usou a solução para criar um endoscópio que pode ser inserido no corpo de pacientes e gerar imagens mais detalhadas, auxiliando principalmente o trabalho de neurocirurgiões. ;Esses novos dispositivos abrem possibilidades emocionantes no campo do diagnóstico e poderão ajudar a melhorar os cuidados;, acredita Chris Dunsby, pesquisador do Imperial College de Londres e um dos autores do trabalho.

Também focados no progresso de tratamentos, cientistas do Canadá desenvolveram uma técnica que ;tira fotos; de compostos presentes em remédios e do que eles provocam. Pela primeira vez, eles conseguiram observar como age uma enzima que sintetiza o medicamento, o que pode resultar na cura de um problema de saúde.;Essa é a visão mais completa que já tivemos dessas enzimas em ação. Mesmo que essas substâncias sejam as segundas maiores proteínas conhecidas pelo homem, elas ainda são moléculas muito pequenas e móveis. Por isso, é difícil vê-las trabalhando;, explica Martin Schmeing, do Departamento de Bioquímica da Universidade McGill e um dos autores do trabalho em um comunicado à imprensa.

Schmeing e seus colegas acreditam que as imagens obtidas pela tecnologia 3D poderão ajudar na criação de remédios mais eficazes, como os antibióticos, uma das maiores demandas médicas da atualidade. ;Uma vez que entendermos esse processo suficientemente, poderemos usar modernas técnicas de bioengenharia para modificar moléculas e produzir todos os tipos de produtos alterando seu ;design;. Isso, talvez, resultará em um tesouro de novos remédios;, detalha Janice Reimer, também participante da pesquisa.

No útero
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Graças a uma tecnologia desenvolvida por cientistas brasileiros, a imagem 3D também tem ajudado os pais a conhecerem os filhos antes do nascimento. O projeto surgiu com reconstruções tridimensionais obtidas graças a equipamentos modernos de ultrassonografia e ressonância magnética. ;Na primeira fase, comparamos as imagens pré e pós-natal para saber se eram fidedignas e tivemos essa confirmação. Nosso objetivo era descobrir possíveis malformações do feto, buscamos essa tecnologia tridimensional pois as imagens 2D são difíceis de ser interpretadas;, justifica Heron Werner Júnior, médico especialista em medicina fetal da Clínica de Diagnóstico por Imagem (CDPI), no Rio de Janeiro, e um dos responsáveis pelo projeto.

O especialista apresentou a tecnologia na última reunião da Sociedade Norte-Americana de Radiologia, nos Estados Unidos, em novembro. Com a técnica, os cientistas realizam um ultrassom semelhante ao usado atualmente, mas que consegue gerar imagens tridimensionais. Calculadas e impressas, elas geram os moldes para modelos do feto. ;Essa tecnologia permite que consigamos entender melhor as malformações e, dessa forma, fica mais fácil discutir e até treinar uma tática cirúrgica para que o problema possa ser corrigido. Outro ganho é que conseguimos mostrar para pais com deficiência visual como será o bebê deles;, destacou Júnior.

Com o sucesso inicial do projeto, os pesquisadores pretendem refinar ainda mais a tecnologia. ;Na próxima fase, queremos, além de imprimir essas imagens, ter um arquivo virtual. Assim, será possível fazer navegações com uma câmera virtualmente, como uma outra maneira de analisar o feto e até treinar, caso seja necessária uma intervenção intrauterina no bebê;, explica o especialista.

Monitoramento de pacientes soropositivos

Cientistas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, desenvolveram um dispositivo portátil e de baixo custo para monitorar a saúde de pessoas com HIV. Soropositivos necessitam passar por exames médicos regularmente, mas esses procedimentos levam dias para ficar prontos. A fim de facilitar esse processo, os cientistas criaram um aparelho que, usando tecnologia 3D, ajuda a contar o número de células CD4, os alvos do vírus da aids. A quantidade de CD4 determina o estado de saúde de um paciente e se ele necessita de medicação.

O dispositivo replica o sangue, em seguida misturado a um material magnético que se prende apenas às CD4. Coloca-se, então, a mistura em uma impressora tridimensional que imprime apenas as células. As pequenas estruturas são postas sobre uma lâmina microscópica magnetizada. As CD4 se fixam automaticamente à estrutura, e as outras que não precisam ser contadas seguem para um recipiente inferior. A triagem permite aos médicos contar o número de células CD4 e avaliar o paciente.

Os cientistas destacam que o procedimento, com duração de apenas 20 minutos, pode ajudar soropositivos que vivem em regiões sem recursos e mais distantes. ;Não há infraestrutura suficiente para fazer esses testes de laboratório de suma importância em muitos lugares. Nosso dispositivo pode preencher essa lacuna de forma barata e rápida. Pessoas com HIV não precisam estar em um consultório para ter um checape;, ressalta, em comunicado, Thomas Boland, professor de engenharia metalúrgica na Universidade do Texas e um dos autores do estudo, divulgado no ano passado. O próximo passo dos pesquisadores é conseguir uma licença médica para que a tecnologia possa ser comercializada. (VS)

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