Ciência e Saúde

Estimulação craniana reduz sintomas da bulimia, mostra estudo

Cientistas britânicos reduziram em voluntários a compulsão pela comida, umas das características principais da enfermidade, seguida de tentativas exageradas que evitem o ganho de peso, como a indução de vômito

postado em 26/01/2017 06:00
A bulimia é um transtorno alimentar que geralmente ocorre na adolescência e atinge principalmente a população feminina. Pode causar complicações múltiplas, com risco, inclusive, de morte. A base do tratamento está na terapia cognitivo-comportamental, mas pesquisadores têm buscado novos recursos na neurociência. Nessa linha, usando estimulação magnética transcraniana repetitiva, uma técnica empregada contra a depressão, cientistas britânicos reduziram em voluntários a compulsão pela comida, umas das características principais da enfermidade, seguida de tentativas exageradas que evitem o ganho de peso, como a indução de vômito.

A técnica consiste no uso de eletrodos colocados na cabeça do paciente para estimular partes específicas do cérebro. A intervenção pode melhorar a função cognitiva em áreas relacionadas ao processamento de recompensa e autocontrole. No estudo, foi testada em 39 pessoas com bulimia: parte delas foi submetida à técnica, a outra, a uma estimulação placebo. As sessões ocorreram nos mesmos dias, com um período de pelo menos 48 horas entre elas.

Os voluntários responderam a questionários antes e depois de cada sessão para que fossem avaliados o desejo de comer compulsivamente e uma série de outros sintomas da bulimia, como preocupações com peso e forma, restrição da ingestão de alimentos, níveis de autocontrole e autoestima. Esses sinais foram significativamente reduzidos nos participantes submetidos às sessões de estimulação magnética, ao contrário do grupo placebo.

Efeito imediato
;Embora esses sejam resultados iniciais modestos, há uma clara melhoria nos sintomas e nas habilidades de tomada de decisão após apenas uma sessão de estimulação magnética. Com uma amostra maior e várias sessões de tratamento durante um período de tempo mais longo, é provável que os efeitos sejam ainda mais fortes. Isso é algo que agora estamos procurando explorar em trabalhos futuros;, explica, em comunicado, Maria Kekic, primeira autora do estudo, publicado nesta semana na revista Plos One, e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King;s College, em Londres.

A equipe acredita que mais pesquisas são necessárias para se chegar a resultados mais sólidos, mas defende que o uso do recurso poderá trazer inúmeros benefícios. ;A vantagem da estimulação magnética é que ela é muito menos cara e mais portátil que outras técnicas semelhantes, o que levanta a perspectiva de, um dia, oferecermos um tratamento que poderia ser autoadministrado em casa por pacientes com bulimia. Seria como um complemento para terapias comportamentais a fim de melhorar seus resultados;, cogita Ulrike Schmidt, um dos autores do estudo e também pesquisador do King;s College.

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