Ciência e Saúde

Efeitos do LSD duram por 12 horas por 'encaixe' em receptores cerebrais

Os cientistas explicam que esse mecanismo justifica a ocorrência das alucinações duradouras, mesmo com doses pequenas

postado em 27/01/2017 06:05

Os cientistas explicam que esse mecanismo justifica a ocorrência das alucinações duradouras, mesmo com doses pequenas


A dietilamida do ácido lisérgico, chamada popularmente de LSD ou apenas ácido, é conhecida pelo potente e duradouro efeito alucinógeno. Pesquisadores nunca entenderam por que os delírios provocados pela substância duram 12 horas ou mais. Em testes, cientistas dos Estados Unidos detectaram que a reposta pode estar na forma como a droga se ;encaixa; em receptores cerebrais.

;Quando era mais jovem e a banda The Grateful Dead realizava suas turnês, eu ia ocasionalmente aos shows. Muitas pessoas tomavam LSD e drogas semelhantes durante os concertos. Era muito interessante quando estávamos no estacionamento ouvindo-as se perguntando quando experiência de LSD ia terminar. Muitos que tomam essa droga não estão cientes de quanto tempo dura;, conta, em comunicado, Bryan Roth, professor de farmacologia na Universidade da Carolina do Norte e um dos autores do estudo. A curiosidade virou trabalho, com resultados divulgados na última edição da revista científica Cell.

No experimento, Roth e colegas observaram imagens de cristalografia (nível atômico) de uma molécula de LSD ligada a um receptor de serotonina, neurotransmissor humano responsável pelo estado de vigília do cérebro. Na análise, descobriram que a molécula de LSD se encaixa em um ângulo totalmente inesperado: parte do receptor do neurotransmissor se dobra em cima do alucinógeno como uma tampa, selando a droga dentro de si.

Pequena dose

;Uma vez que o LSD entra no receptor, uma tampa vem sobre ele, que basicamente fica preso no receptor, e não pode sair. O LSD leva muito tempo para entrar no receptor, e, então, uma vez que ele fica ligado, não sai;, detalha Roth. Os cientistas explicam que esse mecanismo justifica a ocorrência das alucinações duradouras, mesmo com doses pequenas ; a média é de 100 ou mais microgramas de droga em cada porção ;, e o fato de a substância sair da corrente sanguínea em poucas horas.

Quando a equipe expôs células com receptores mutantes ao LSD, a droga se ligou mais rapidamente a eles e saiu em menos tempo. ;Acho que é importante para a indústria farmacêutica entender que, mesmo se você modificar apenas um pequeno aspecto de qualquer composto, você pode afetar a forma como todo ele fica no receptor, o que afeta o desempenho dele;, diz Daniel Wacker, primeiro autor do estudo. A equipe também ressalta que os resultados poderão ajudar em pesquisas de outros ramos, pois o uso do LSD tem sido testado para o tratamento de depressão e outras complicações médicas.

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