Vilhena Soares
postado em 31/01/2017 06:00
O animal mais temido dos mares pode prevenir um problema neurodegenerativo ainda sem cura: o Par-kinson. Um grupo internacional de cientistas ; de instituições do Reino Unido, da Espanha, da Itália, da Holanda e dos EUA ; descobriu que um esteroide presente no tubarão consegue impedir o acúmulo de alfa-sinucleína, proteína cujo excesso está vinculado à doença. Chamada esqualamina, a substância foi replicada em laboratório e testada em vermes modificados para ter a complicação cerebral que acomete humanos e teve resultados promissores. Os autores do estudo, publicado na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences, a Pnas, acreditam que os achados poderão ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos para a doença e outros problemas cognitivos.Leia mais notícias em Ciência e Saúde
Mesmo possuindo um sistema imunológico considerado primitivo, tubarões são resistentes a infecções, o que intriga cientistas e estimula pesquisas diversas. ;Suspeitávamos que esse animal produzisse compostos protetores. Examinamos os tecidos do tubarão melga, porque é um peixe extensivamente estudado em laboratório, e descobrimos um potente composto antimicrobiano em seu fígado;, explica ao Correio Michael Zasloff, um dos autores do estudo e pesquisador da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos.
Zasloff estuda a esqualamina há mais de 20 anos. A substância descoberta em 1993 é sintetizada ; replicada em laboratório, sem a necessidade de utilizar substâncias retiradas do peixe. Ele e colegas partiram em busca de aplicações médicas em que a molécula pudesse ser utilizada. Apostaram no Parkinson e, para testar o composto, utilizaram vermes Caenorhabditis elegans. Modificadas geneticamente, as cobaias, à medida que envelheciam, acumulavam a proteína alfa-sinucleína nos músculos, o que causava danos celulares e paralisia.
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Sistema imune protege do câncer
Duas características intrigantes dos tubarões ; a cicatrização rápida e a maior resistência ao câncer ; podem estar ligadas à mesma condição genética. Feita por um grupo de cientistas dos EUA, a descoberta foi divulgada na revista BMC Genomics e abre a possibilidade de desenvolvimento de intervenções que podem beneficiar humanos.
"Usando abordagens genômicas para compreender a gênese da imunidade desses animais, nós abrimos a possibilidade de chegar a muitas descobertas emocionantes, algumas das quais com potencial para se traduzir em benefício médico humano (;) Acabamos de aprender o que esses animais antigos podem nos ensinar e, possivelmente, nos fornecer em termos de benefícios biomédicos diretos", ressalta, em comunicado, Mahmood Shivji, um dos diretores da Universidade Nova Southeastern e coautor do estudo.
O estudo foi feito com tubarões martelo e branco. Dois genes imunes dessas espécies chamaram a atenção da equipe: o legumain e o bag1. Eles têm homólogos em humanos e a expressão exagerada está ligada ao surgimento de cânceres. Nos grandes animais marinhos, no entanto, houve uma seleção natural evolutiva que os distanciou dos carcinomas. Quanto à cicatrização, em comparação com peixes ósseos, as espécies de tubarão não só tinham uma proporção muito maior de genes envolvidos na imunidade mediada por anticorpos, como várias dessas proteínas eram exclusivas deles.
;Essa maior proporção poderia ser uma razão-chave por trás da luta contra infecções e rápida cura de feridas;, diz Michael Stanhope, da Universidade de Cornell, e líder da pesquisa com Shivji. Os autores ressaltam, porém, que a ingestão de partes de tubarões não vai curar e prevenir o câncer ou melhorar o tratamento de feridas. Ao contrário, pode até ser prejudicial à saúde devido ao altor teor de mercúrio nesses animais.