Marianna França*
postado em 07/02/2017 06:05
Hipócrates, no século 5 a.C., desvinculou doenças febris das superstições e passou a ligá-las à sazonalidade, um dos relatos mais antigos da existência da malária. Não se sabe ao certo quando o protozoário que desencadeia a doença entrou em contato com humanos. Estima-se, porém, que ele exista há 50.000 anos. Traçar essa história é um desafio aos cientistas, e um grupo de pesquisadores da Universidade McMaster, no Canadá, tenta vencê-lo por meio de uma técnica baseada na análise de DNA de fósseis. O instrumento também foi usado para decifrar o passado da varíola, detalhado, recentemente, na revista Current Biology.
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[SAIBAMAIS]Chamado RNA-bait, o método já é utilizado para capturar, no genoma, genes específicos que possam conter mutações. Em fósseis, identifica os patógenos causadores de epidemias e contribui para a comparação com a linhagem ou variantes atuantes, tendo potencial de ajudar no entendimento da origem e da evolução de micro-organismos que ameaçam os homens, incluindo o comportamento dos vetores e hospedeiros.
;A natureza da malária dificulta a detecção da doença em restos de esqueletos humanos antigos. Por isso, usamos uma técnica que captura apenas os genomas das espécies de malária, sem pegar o DNA de micro-organismos que não estamos procurando;, explica Hendrik Poinar, diretor do centro de pesquisas Ancient DNA da Universidade McMaster. O autor sênior do estudo diz que o procedimento terá novas aplicações. ;Essa nova técnica pode ajudar a estudar infecções antigas do passado.;
A equipe analisou a presença do protozoário da malária em ossos humanos com mais de 2.000 anos, encontrados na península itálica, área que enfrentou grande incidência de epidemias na antiguidade. Foram selecionados o primeiro e o segundo molares de 58 fósseis em três cemitérios da região imperial da Itália ; Isola Sacra, Velia e Vagnara. Detectou-se um dos quatro tipos de protozoário da malária, o Plasmodium falciparum. Esse parasita provoca febre recorrente, a cada 36 ou 48 horas, nas pessoas infectadas e pode desencadear a versão mais grave da doença, a malária cerebral, que provoca inflamações no encéfalo.