Tainan Pimentel*
postado em 07/03/2017 09:00
Até hoje, mais de 1 milhão de mortes foram registradas no Brasil em decorrência do uso do cigarro, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Apenas em 2012, foram mais de 174 mil. Um estudo do IBGE revela, ainda, que no mesmo ano, 14,7% da população brasileira com 18 anos ou mais era fumante. Desses, a maioria eram homens (18,9%) que moravam nas regiões Sul e Nordeste (19,1% cada) do país. Quem largou o vício ou está tentando, admite a dificuldade em mudar de vida. No entanto, com persistência e algumas dicas "simples", é possível virar este capítulo de uma vez por todas da história.Relatos
Maciana Barros fumou durante 14 anos dos 30 que tem de vida. Começou nova, aos 16, com exemplos de dentro de casa. "Tinha curiosidade e via minha mãe e minha tia fumar", conta. "Aí fui experimentar", detalha. Com o tempo, apareceram as primeiras complicações em decorrência do hábito. "Tossia muito e gripava demais. Sentia cansaço também", acrescenta. No ápice do vício, Maciana chegava a consumir quase 40 cigarros por dia. "Fumava todos os dias, principalmente de manhã e quando ficava ansiosa ou preocupada. Só aliviava quando fumava", relata.
Há quatros anos, quando já era mãe de duas crianças, com 6 e 2 anos na época, sua mãe a procurou oferecendo ajuda. "Ela frequentava um grupo que dava apoio a quem quisesse parar de fumar. Aceitei e comecei o tratamento", diz. Segundo a jovem, o tratamento consistia em rodas de conversa, consulta com especialistas e uso de técnicas para diminuir a dependência. "Tive uma recaída depois dos primeiros 14 dias. Mas foi a única". Hoje, quatro anos após ter largado o vício, ela comemora os benefícios. "Mais disposta, a respiração melhorou e ganhei quatro quilos", relata.
Se Maciana já comemora a vitória, José Nascimento, 30 anos, ainda está no início dela. Fumante desde os 14 anos, o morador de São Sebastião decidiu largar o vício há dois meses. Bem como Maciana, ele diz ter recebido influência no sei familiar. "Meu pai fumava, terminava, jogava a bituca e eu corria e pegava", relata. "Tinha dois irmãos que fumavam também", acrescenta. Sintomas como cansaço e magreza excessiva, segundo ele, foram o que o levou a largar o tabaco. "Estava me sentindo muito magro, não engordava. Nesses dois meses, ganhei um quilo e me sinto bem mais disposto e animado", relata alguns benefícios.
Apesar de estar indo bem na caminhada, José não nega: resistir, não tem sido uma tarefa fácil. "Agora está mais fácil, mas no começo foi um pouco difícil, principalmente quando eu almoçava e tomava café, que eram os momentos do dia em que eu costumava fumar", conta. O recado dele para quem pensa em parar é determinação. "Ter força de vontade e o apoio de familiares, irmãos, esposa. Você tem que querer", finalizar
Suelda Alvez, 47 anos, faz parte das estatísticas dos que voltaram a fumar após recaídas. Fumante desde a adolescência, a dona de casa diz que entrou no vício por influência de amigos. Três anos atrás procurou ajuda e passou a frequentar grupos de apoio com auxílio de especialistas. Chegou a ficar três meses sem fumar. Após o período, ela diz ter tido uma recaída. Desde então, voltou ao vício. "Lembrava do danado. Na parada de ônibus, na rua, encontrava pessoas fumando. Tive uma recaída e depois disso fiquei com vergonha de voltar ao grupo", acrescenta. Hoje, ela aposta em promessas milagrosas para largar o vício. "Comprei um comprimido e um spray pela internet. Vamos ver se dessa vez consigo", torce.
Dicas
A Pneumologista Lícia Stanzani explica, no entanto, que o caminho não é bem esse. A especialista diz que é comum os pacientes a abordarem, pedindo soluções milagrosas. "Eles chegam e falam ;Doutora, me passa o medicamento;. Eu respondo ;se você me dar o nome do remédio, eu passo;", conta. Ela conta que a maioria dos pacientes que a procura têm entre 50 e 60 anos e fumam desde cedo. "Eles [os pacientes] costumam vir ao consultório com queixa de cansaço. Na maioria das vezes, já apresentam quadro de enfizema", revela. De acordo com ela, não existe receita milagrosa. Persistência, atividades físicas, boa alimentação e apoio psicológico, familiar e de um profissional são as principais recomendações.
Estabelecer objetivos
Segundo a especialista, o fumante precisa primeiro avaliar porque fuma e porque deseja parar de fumar. "Responder essas perguntas dará mais força ao paciente. Pensar nos ganhos, como maior qualidade de vida e de saúde, não ter que interromper um jantar ou uma balada para fumar, tudo isso ajuda. São estratégias motivacionais", explica.
Medicamento não faz milagre
Lícia explica que o paciente é seu próprio remédio. "A medicação não é para parar de fumar, é para o tratamento da abstinência. Não é o remédio que faz o paciente parar com vício. É ele próprio", conta.
Atividade Física e Alimentação
"Se ele está buscando parar de fumar, que ele busque medidas para melhorar qualidade de vida. Se é sedentário, que pratique atividades física, faça controle do peso, check-up, melhore alimentação, diminua o estresse. Procurar fazer hobby ou algo que seja prazeroso. Todos esses pontos ajudam", recomenda.
Apoio familiar
A especialista explica, ainda, que o suporte da família e dos amigos é fundamental, assim como evitar expor o paciente a situações que o faça lembrar do cigarro. "Se o paciente sai com grupos que fumam, evitar sair com esse grupo. Se tem familiar que fuma, evitar ir à casa dele e evitar que ele vá na sua nos primeiros meses.
Ajuda especializada
Buscar um médico para ter acompanhamento, de acordo com a especialista, é imprescindível. "Quem não tem condições, pode procurar grupos de apoio para tabagistas, centros de saúde e projetos em escolas. A possibilidade da recaída sempre existe. O médico tem que acolher, em vez de julgar, e procurar sempre entender os motivos", conclui.
Atendimento público
De acordo com o coordenador do Programa de Controle do Tabagismo do DF, Celso Antonio Rodrigues da Silva, postos da Secretária de Saúde do DF (SES-DF) oferecem grupos de apoio para quem deseja parar de fumar. São quatro encontros, um por semana, cada com duração média de duas horas. O tratamento é interdisciplinar, e envolve médicos, psicólogos e uso de medicamentos, que vão de goma de mascar à adesivos de nicotinas. Para quem não tem contra-indicação, também é feito o uso de antidepressivos, que imitam a nicotina. Depois do quatro encontro, as reuniões se tornam quinzenais, depois, mensais, para quem desejar. "O interessado pode buscar o posto de saúde mais próximo e se informar. Caso o atendimento não esteja disponível no posto da localidade do paciente, ele pode buscar outros postos", explica.
* Estagiário sob supervisão de Anderson Costolli