Ciência e Saúde

Jejum intermitente freia a obesidade; conheça a dieta da moda

Segundo pesquisa norte-americana, o regime ameniza as complicações causadas pelo excesso de peso, como hipertensão e diabetes

Vilhena Soares
postado em 14/03/2017 06:00

Regime ameniza as complicações causadas pelo excesso de peso, como hipertensão e diabetes

A obesidade pode desencadear uma série de outros problemas de saúde, como hipertensão e diabetes. Mudanças na alimentação geralmente são a principal recomendação para evitar ou amenizar essas complicações. Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos resolveu testar se o jejum intermitente ; uma das dietas da moda entre os brasileiros ; surte esse efeito. Testado por 100 voluntários, o regime reduziu drasticamente os níveis de glicose no sangue e a pressão arterial, entre outros benefícios. Os autores da pesquisa, publicada recentemente na revista Science Translational Medicine, acreditam que os resultados podem ajudar em novas estratégias de tratamento para o excesso de peso.

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O jejum intermitente alterna ciclos de restrição alimentar e períodos de dieta normal, com o objetivo de induzir os efeitos benéficos do jejum prolongado. O regime prioriza muito mais o horário em que se deve se alimentar do que o tipo de comida. A equipe norte-americana já havia detectado o impacto positivo da prática em animais. ;Mostramos extensão de vida, bem como a prevenção de doenças múltiplas, em estudos feitos com ratos usando o jejum como dieta;, conta Valter Longo, diretor do Instituto de Longevidade da Universidade do Sul da Califórnia (USC) e um dos participantes do estudo.

No experimento atual, 100 pessoas saudáveis, com idade entre 20 a 70 anos, foram divididas em dois grupos. Parte delas se alimentou livremente, a outra parcela seguiu o regime desenvolvido pelos cientistas. Os integrantes do segundo grupo só podiam comer alimentos fornecidos pelos investigadores, com refeições que continham entre 750 e 1.100 calorias diárias. O regime durava cinco dias. Depois, os participantes voltavam à dieta normal por 25 dias. Essa rotina se repetiu durante três meses.

Aqueles que seguiram a alimentação controlada perderam em média seis quilos e apresentaram queda na pressão arterial e no nível de glicose. Também sofreram diminuição do nível do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1 em inglês), substância que está ligada ao câncer. Para reforçar os achados, os cientistas repetiram a pesquisa com os outros participantes. ;Depois que o primeiro grupo completou três meses de jejum, passamos os participantes do grupo controle para essa dieta. Nós vimos resultados semelhantes, o que fornece mais evidências de que uma dieta que imita o jejum tem efeitos sobre muitos fatores metabólicos e marcadores de doença;, ressalta Valter Longo.

Outro ponto do experimento que surpreendeu os investigadores foi que os benefícios se mantiveram três meses após a finalização do estudo. ;Nossos participantes conservaram esses efeitos, mesmo quando voltaram a seus hábitos alimentares normais. Vimos também que o jejum parece ser o mais benéfico para os pacientes que têm fatores de risco para doenças ligadas à síndrome metabólica, como aqueles que têm pressão arterial elevada ou pré-diabetes;, acrescenta o pesquisador.

Os autores adiantam que mais pesquisas precisam ser feitas para esclarecer as razões dos benefícios do jejum intermitente, mas levantam uma hipótese. ;Ao observarmos os ratos, vimos que os ganhos gerados por esse regime são causados por um multissistema de regeneração e rejuvenescimento do corpo a níveis celulares;, explica Valter Longo.


Choque calórico


Para Gabriella Alves, nutricionista da clínica Corpometria, em Brasília, os resultados mostram a ocorrência de uma mudança no organismo provocada pela falta de ingestão de alimentos. ;Hoje em dia, nós nos alimentamos mais do que precisamos. Quando você reduz essa ingestão excessiva, o corpo é obrigado a utilizar as reservas e a trabalhar mais. Ele gasta o que tem, e isso causa uma alteração metabólica. Com isso, você melhora as suas taxas;, detalha.

A especialista, que não participou do estudo, também destaca que existem diferentes tipos de jejum intermitente. ;Há várias vertentes. Estou em andamento com uma pesquisa em que analiso os efeitos de um em que as pessoas passam 16 horas sem comer e oito horas com uma alimentação com quantidade de calorias limitada. No dia seguinte, elas repetem o tempo do jejum, mas, nas oito horas livres, podem comer o que quiserem;, exemplifica. ;Ainda não finalizei, mas vou comparar os resultados dessa prática com dietas normais para saber qual rende o melhor resultado.;

Para a nutricionista, uma das maiores vantagens do jejum intermitente é que ele parece mais viável. ;Quando você diz para a pessoa que, no dia seguinte, em determinado horário, ela poderá comer o que quiser, ela se sente com mais liberdade, encara de uma forma melhor, a reeducação alimentar é feita sem ela perceber;, explica.

Coração em risco


Conjunto de enfermidades que estão ligadas ao aumento do risco de problemas cardiovasculares, como o colesterol alto e a hipertensão, gerados principalmente pela obesidade, principalmente a abdominal, responsável por complicações como aumento de triglicérides, alterações de colesterol e glicemia. Há mais critérios metabólicos relacionados que estão sendo investigados pelos cientistas.

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