Ciência e Saúde

Chineses desenvolvem teste que indica tipagem sanguínea em 30 segundos

Segundo os criadores, o método poderá ser usado no atendimento de emergência e no socorro de vítimas em áreas de difícil acesso, como as de guerra

Vilhena Soares
postado em 16/03/2017 06:00
Em acidentes graves, como batidas de carro, a velocidade do socorro pode fazer a diferença. Um dos obstáculos enfrentados por profissionais de saúde, nesse tipo de auxílio, é descobrir, o quanto antes, o tipo sanguíneo das vítimas. Para agilizar essa etapa, pesquisadores da China desenvolveram um teste que fornece a resposta em apenas 30 segundos. A tecnologia, apresentada na última edição da revista americana Science Translational Medicine, também se destaca pelo uso de materiais baratos e pela praticidade, o que a transforma em uma opção ideal para lugares de difícil acesso, como zonas de guerra e áreas de terremotos e outros desastres do tipo.
Guiados pela facilidade, os autores, além de simplificar os exames disponíveis, deram foco a grupos sanguíneos que podem gerar mais complicações caso não sejam identificados corretamente. ;Entre os 35 sistemas oficialmente reconhecidos, o ABO e o Rhesus (Rh) recebem maior atenção devido à alta mortalidade causada pela transfusão de sangue incompatível;, justificam os autores, no artigo publicado.

Outra motivação da equipe, liderada por Hong Zhang, pesquisador da Third Military Medical University, na China, foi desenvolver um sistema mais viável financeiramente. ;Abordagens convencionais para o agrupamento de sangue, que envolvem microplacas e ensaios com gel, são complicadas e demoram para dar respostas. Portanto, desenvolver uma estratégia econômica garantiria maior acessibilidade e utilização;, complementam.

O método consiste em uma análise tripla da amostra sanguínea, feita em tiras de papel criadas pelos cientistas. Esse material é envolvido em anticorpos, moléculas já usadas na área médica para esse tipo de teste, e recebe o sangue que será analisado. Uma membrana de separação nas tiras permite a identificação. No primeiro papel, pingam-se gotas de sangue dentro de um círculo e adiciona-se um corante. A reação desse agente faz com que o sangue se mova para alguma das duas extremidades, que demarcam o lado A e o lado B, ou para ambos, indicando o tipo AB. Caso não se mova, o sangue é classificado como O.

Na segunda folha de papel, é feito um teste de confirmação, repetindo o procedimento. Na terceira, o sangue é pingado em um papel com extremidade determinada pela letra D. Caso se mova para o lado após reagir com o corante, ele é determinado como positivo. Se não, como negativo. O teste mostrou alta eficácia durante os testes em laboratório. Após a análise de 3.550 amostras, a taxa de exatidão foi de 99,9%. As únicas inconsistências ocorreram em ensaios com tipos sanguíneos altamente raros.

De acordo com os cientistas, todas as etapas podem ser feitas ao mesmo tempo, fazendo com que o resultado saia em 30 segundos, um tempo recorde para a determinação do tipo sanguíneo. ;Os ensaios baseados em papel são rápidos, convenientes, baratos e prometem ajudar pontos de atendimento médico com uma leitura visível a olho nu;, ressaltaram. Para eles, o método também pode ser crucial em situações de tempo e recursos limitados, como áreas remotas e atendimentos emergenciais. ;Caracterizado por um desempenho intenso e refinado, nosso método pode ser desenvolvido em plataformas compactas, eficientes e econômicas;, ressaltam.

Meia hora

Eduardo Flávio Ribeiro, hematologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro da Sociedade Americana de Sociologia Hematológica, acredita que, se for comercializado, o novo método de tipagem sanguínea pode sanar um problema recorrente na área de resgate. ;Quando temos um acidente com múltiplos feridos, precisamos decidir que tipo de sangue usar, e isso pode demorar de 30 a 40 minutos, um tempo valioso. Quando você não sabe, utiliza o O negativo, que é o doador universal, mas os estoques dele são baixos justamente por ser muito usado em transfusões;, explica.

Ribeiro ressalta que, pelas características brasileiras, as vantagens do método ganham ainda mais proporções. ;Nosso país é cortado por muitas rodovias, pode demorar muito para alguém envolvido em um acidente receber socorro. Um teste que mostre com segurança o tipo sanguíneo e que possa ser levado a locais distantes dentro das ambulâncias ajudaria bastante nas decisões sobre transfusão.;

Os pesquisadores darão continuidade ao trabalho. Pretendem aperfeiçoar o método para que ele fique ainda mais exato. ;Em primeiro lugar, temos de melhorar a capacidade de identificação, o que podemos fazer usando anticorpos melhorados por meio da engenharia. Queremos também analisar fatores derivados que podem potencialmente interferir na leitura visual do ensaio, como alguns medicamentos;, adiantam, também no artigo divulgado.

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