O tabagismo é um dos vícios mais populares no mundo: quase 1 bilhão de pessoas fumam diariamente, segundo o estudo Global Burden of Disease. Não à toa a busca por formas mais estratégicas de ajudar os dependentes move cientistas. Uma equipe norte-americana aposta em uma semente popular na Ásia: a noz de bétel. Segundo eles, há nela uma substância que bloqueia as células cerebrais ligadas à dependência da nicotina. Detalhes do trabalho foram apresentados no 253; Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química (ACS, em inglês), que ocorre até o fim desta semana nos Estados Unidos.
Molécula limpa
;Muitas pessoas que tentam parar de fumar acabam achando que só o remédio vai resolver o problema. Ele sozinho não dá conta do recado (;) Uma série de mudanças comportamentais também é necessária;
Helena Moura, psiquiatra especialista em dependência química
Aumentam mortes ligadas ao cigarro
O vício é diário para cerca de 1 bilhão de pessoas, principalmente homens. Segundo o relatório Global Burden of Disease, divulgado ontem na revista The Lancet, em 2015, um em cada quatro homens e uma em cada 20 mulheres fumavam todos os dias. O cenário é melhor que o de 1990 ; de um em cada três homens e uma em cada 12 mulheres ;, mas preocupa principalmente porque as mortes atribuíveis ao tabagismo têm aumentado. Ao todo, os investigadores consideraram hábitos tabágicos de 195 países e territórios entre 1990 e 2015.
No período, a prevalência global do tabagismo diminuiu em quase um terço, de 29,4% para 15,3%. Mas o crescimento da população provocou aumento no número total de fumantes diários, passando de 870,4 milhões para 933,1 milhões. Os óbitos atribuídos ao vício aumentaram 4,7% em 2015, se comparado a 2005, quando foi implementada a Convenção-Quadro da Organização Mundial da Saúde para o Controle do Tabaco, acordo em que vários países se comprometeram a aplicar políticas de combate ao vício. ;Fumar continua a ser o segundo maior fator de risco para morte precoce e deficiência, e, para reduzir ainda mais o seu impacto, devemos intensificar o controle do tabaco;, ressaltou, em comunicado, Emmanuela Gakidou, pesquisadora do Instituto de Medidas de Saúde e Avaliação na Universidade de Washington (EUA) e uma das autoras do estudo.
O documento também lista as nações em que as pessoas mais perderam a vida em decorrência do vício. Em números absolutos, o Brasil faz parte da lista dos 10 países (veja quadro) que, em 2015, representavam quase dois terços dos fumantes no mundo (63,6%). Entre essas nações, a prevalência de tabagismo persiste alta, com exceção do Brasil, que, de acordo com o estudo, é líder no controle do tabagismo, mostrando uma das maiores reduções na prevalência do problema entre 1990 e 2015: de 28,9% para 12,6%, no caso dos homens, e de 18,6% para 8,2%, no caso das mulheres. Para os cientistas, o resultado positivo se deve ao fato de o Brasil ter implementado uma combinação de políticas de controle do cigarro, como restrições de publicidade, proibições de fumar em locais públicos e impostos sobre os produtos de tabaco.
A psiquiatra Helena Moura observa que os resultados brasileiros refletem um investimento na prevenção ao fumo, mas alerta que os cuidados devem continuar, especialmente os voltados para os mais jovens. ;Isso é resultado de muitas campanhas informativas, mas a indústria sempre acha brechas para fugir desse controle. Por causa disso, o cuidado com os adolescentes precisa ser maior. Eles não viveram a época em que os danos do tabaco eram repetidos frequentemente. Hoje, temos muita publicidade voltada para esse público, com foco no narguilé e no cigarro eletrônico, por exemplo. As campanhas precisam ser readaptadas para os mais jovens;, defende. (VS)
Maiores perdas
Veja o ranking de países com o maior número de mortes por tabagismo em 2015*
- 1; China - 1,8 milhão
- 2; Índia - 743.000
- 3; EUA - 472.000
- 4; Rússia - 283.000
- 5; Indonésia - 180.000
- 6; Japão - 166.000
- 7; Bangladesh - 153.000
- 8; Brasil - 149.000
- 9; Alemanha - 130.000
- 10; Paquistão - 124.00
- * Dados arredondados