Ciência e Saúde

Luta contra câncer: falta de acesso à consulta e exame é maior dificuldade

No entanto, o Brasil vem avançando no quesito informação e também na qualidade dos tratamentos

Ana Carolina Fonseca*
postado em 08/04/2017 09:00
Congresso Nacional iluminado durante o Outubro Rosa, mês de incentivo à prevenção do câncer de mama
Neste sábado (8/4), é celebrado o Dia Mundial de Combate ao Câncer. No Brasil, são registrados 600 mil casos da doença por ano. O Correio conversou com o médico oncologista Fernando Maluf sobre as dificuldades e os avanços no campo nos últimos anos.

Tem havido uma consciência maior do brasileiro em relação a exames preventivos?
Acredito que sim. O brasileiro tem estado mais consciente, rompido mais o preconceito, por exemplo, com o exame de toque retal. A informação não é o maior problema, é a falta de acesso. A pessoa até sabe que tem que fazer os exames regulares, mas não consegue marcar uma consulta do SUS, tem dificuldade de acesso à consulta em termos de transporte, os exames pedidos são marcados com muito atraso; Passa por série de dificuldades que dificultam o paciente a ser rastreado adequadamente.

Como o panorama de prevenção ao câncer mudou nos últimos anos?
Fizemos alguns avanços, particularmente no câncer de colo de útero. Os programas de prevenção e rastreamento ainda não são 100% efetivos em termos de cobrir a população como um todo, mas são melhores que nas últimas duas décadas. Ainda há severos gaps. Há um grande percentual de meninas entre 9 e 14 anos que não são vacinadas, mas aumentou o número de mulheres que fazem exames ginecológicos.

Outros cânceres, como o de mama, tiveram uma melhora no rastreamento no país, mas ainda são restritos à população que tem mais acesso.

Como essa situação pode melhorar nos próximos anos?
Organizações como o Vencer o Câncer [instituto fundado por Maluf] permeiam informação adequada, simples, transparente e útil. Por outro lado, uma melhora da gestão da saúde, controle dos gastos, da relação custo/efetividade, meios pelo quais a população vai ter mais acesso às consultas e aos exames adequado no tempo correto, acesso a tratamentos melhores.
Quais são as opções de tratamento mais atuais?
As cirurgias melhoraram muito. As taxas de cura são semelhantes as de anos anteriores, mas hoje os tumores são mais agressivos. Em muitos casos, a operação não é necessária, como em câncer de cabeça e pescoço ou de esôfago.

Houve também uma melhoria das técnicas de radioterapia, que são mais específicas e têm menos efeitos colaterais. Temos drogas novas e mais inteligentes, que atacam o tumor específico. Além disso, a imunoterapia tem se tornado tratamento padrão para vários tipos de câncer, como o de pulmão, pele, bexiga, rim e estômago.

Hoje é muito comum que as pessoas procurem informações sobre doenças, diagnósticos e tratamentos na internet...
No Instituto Vencer o Câncer, temos a campanha Busque Vencer, desaconselhando as pesquisas abertas na internet e orientado a população que, para encontrar informações corretas sobre o câncer, é preciso ir a locais específicos, procurar a informação adequadamente. Assim, a pessoa não terá, através da informação errada, um prejuízo psicológico ou um desaprendizado.

O câncer no Brasil, em números

Entre as mulheres, a incidência é maior no câncer de mama, pulmão e intestino. Os médicos recomendam a realização anual da mamografia e da ultrassonografia a partir dos 45 anos.
Para os homens, os cânceres de próstata, pulmão, intestino e estômago são os mais comuns. A colonoscopia deve ser realizada anualmente a partir dos 50 anos. É importante ressaltar que, no Brasil, as taxas de mortalidade para câncer de próstata têm aumentado, ao contrário de outros países. Por ano, são 70 mil casos no total; deles, de 15 a 20 mil resultam em morte.
O Dr. Maluf lembra que, com a realização regular dos exames, aumentam as chances do diagnóstico precoce e, consequentemente, da cura da doença.
O câncer de próstata diagnosticado cedo tem 90% de chance de ser revertido. Nos casos da doença no pulmão, esse porcentagem cai para 75%, enquanto o de útero é de 90%. Quando a enfermidade atinge o intestino, as possibilidades de cura total variam entre 80% e 90%.
*Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli

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