Ciência e Saúde

Embrapa desenvolve colar com GPS para monitora espécies selvagens

Custo é mais acessível e tecnologia vai ajudar a acompanhar os caminhos percorridos por espécies selvagens e, assim, compreender seus hábitos

Marianna França*
postado em 25/04/2017 06:00
Equipe de pesquisadores instala o equipamento em uma queixada no Pantanal matogrossense: objetivo é aumentar a base de dados da fauna brasileira
No dia a dia das cidades, o GPS ajuda os motoristas a escolherem os melhores trajetos no trânsito. Na vida selvagem, essa tecnologia está ajudando a compreender melhor os hábitos dos animais e a monitorar a qualidade do ambiente onde vivem. Embora de grande valor para a conservação das espécies, o método de rastreamento era pouco viável no Brasil, devido aos altos custos de importação. Agora, porém, pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com instituições públicas e privadas, desenvolveram colares GPS para monitoramento, com o custo mais acessível. De acordo com os cientistas envolvidos, a redução de valores vai melhorar a precisão dos estudos e, consequentemente, a base de dados da fauna do país.

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O veterinário Igor Schabib, analista da Embrapa Pantanal, explica que o colar funciona como uma tornozeleira eletrônica. ;É um dispositivo que arquiva em um chip os locais por onde o animal passou. Quando você coloca (o dispositivo) no computador, ele mostra mapas. Nós pegamos os pontinhos do GPS e eles sobrepõem os mapas. Isso permite que a gente extraia dos ambientes informações específicas dos locais onde esses animais passaram;, diz.

O projeto está em fase de coleta de dados em várias áreas do Pantanal matogrossense, na Reserva Particular do Patrimônio Natural do Mato Grosso do Sul, e na Cisalpina, uma área mantida pela companhia energética de São Paulo. São 12 espécies investigadas no momento, incluindo cervos, jacarés, queixadas e veados-campeiros. A meta é que, até meados do ano que vem, esse número suba para 50.

Indicadores

O pesquisador da Embrapa Pantanal Walfrido Tomás é um dos idealizadores dos colares. De acordo com ele, as espécies monitoradas serão essenciais como indicadores da qualidade ambiental. Os dados coletados poderão desvendar questões ecológicas, como por onde o animal anda, como ele responde a determinadas mudanças de habitat, qual é o tamanho da área onde vive e, até mesmo, como se dá a interação com os indivíduos que compartilham do seu nicho ecológico.

O biólogo explica que é essencial compreender a movimentação dos animais para saber se a área por onde ele se desloca está, de fato, o protegendo. ;Vamos começar a analisar os dados agora. Entre as espécies que estamos analisados, duas estão em extinção: a queixada e o veado-campeiro. Quando eu analiso essas espécies, por exemplo, posso saber os hábitos delas. Para recuperar o ambiente favorável para a queixada e reverter a sua situação e extinção, é preciso conhecer qual fator no ambiente a está prejudicando.;

Além do monitoramento de fauna silvestre, os colares podem ser utilizados para avaliar a relação entre a saúde do animal e os locais por onde ele passou. ;Os colares também servem para associar características do ambiente com ocorrência ou não de doenças nos animais, tanto domésticos quanto silvestres. Doenças comuns que atingem animais selvagens ou até mesmo o gado;, ressalta Igor Schabib.

No momento, o projeto está em fase de testes, mas o equipamento já é funcional e aplicável para pesquisas ambientais. O biólogo Marcos Tortato, um dos investidores do projeto, conta que tudo começou em 2009, ainda com o desenvolvimento de tecnologia básica. ;Depois, aprimoramos o meio de transmitir essas informações. Mas o que demorou mais tempo para desenvolver foi a transmissão remota via rádio. Hoje, podemos fazer download do colar e um upload remotamente;, afirma. De acordo com Tortato, as próximas etapas são incluir mais opções de transmissão (via satélite) e deixar o equipamento mais eficiente. ;Nós também queremos desenvolver um dispositivo que permita recuperar esse colar, caso aconteça de o animal perdê-lo.;

Quando o equipamento sair da fase experimental, o pesquisador Walfrido Tomás espera coletar dados em quantidade suficiente para permitir a avaliação do impacto das hidrelétricas na fauna. ;Como estamos em um país e em um planeta com impactos biológicos tão grandes, com esses dados poderemos entender como ajudar a biodiversidade. Poderemos, futuramente, fazer estudos que ajudem o ser humano a conservar os ambientes e as paisagens;. De acordo com ele, o conhecimento de ecologia do movimento ajuda a estabelecer critérios para orientar projetos de conservação e restauração ambiental. ;Qualquer atividade humana causa sequelas. Precisamos entender até onde o nosso impacto pode prejudicar a biodiversidade. O projeto vai ajudar as pessoas que trabalham com conservação do meio ambiente;.

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Carmen Souza.

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