Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Após sete anos em reserva, peixe-boi amazônico é solto na natureza

O animal foi encontrado em 2010 por moradores da região, ferido e com infeção. A expectativa é que encontre outro espécime, solto na natureza em 2015


Helena, um peixe-boi fêmea de sete anos de idade, foi devolvida à natureza no começo de abril deste ano por pesquisadores e técnicos do Instituto Mamirauá, na Amazônia. O espécime vivia desde os primeiros meses de vida no Centro de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico de Base Comunitária (Centrinho) do Instituto Mamirauá, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, território do município de Maraã (AM). A ação contou com o apoio de pesquisadores, técnicos e assistentes das comunidades locais. A expectativa é de que Helena encontre outro peixe-boi reabilitado pelo instituto, que foi devolvido à natureza em 2015.
Foram moradores da região que encontraram a fêmea, em 2010. Ferida, ela estava próxima à comunidade Santa Helena do Icé, localizada na costa do município de Tefé, no Amazonas. Segundo os pesquisadores, Helena tinha apenas três meses, pesava 90kg e media 1,70m. Uma das pesquisadoras do instituto, Miriam Marmontel, contou que a melhora foi extraordinária. ;Chegou muito debilitada, ferida com uma flechada na mandíbula, que acabou comprometendo o nervo facial. Por isso, ela perdeu a visão de um olho, teve muita dificuldade até conseguir fechar completamente as narinas e principalmente a mastigação, dificuldade pra pegar a mamadeira e mordiscar as plantas;, lamentou.
[SAIBAMAIS]Em geral, os animais permanecem por cerca de dois anos em um processo de reabilitação, sendo monitorados por uma equipe de técnicos, pesquisadores, veterinários e pela própria comunidade. Os graves ferimentos encontrados em Helena, além de um quadro de infecção, no entanto, a fizeram ficar no local por um período mais longo, até que desenvolvesse as capacidades para a vida na natureza. ;Uma enorme história de sucesso que ela tenha se recuperado disso tudo, somado ao apoio de tantos profissionais. O valor de conservação dela na natureza é infinitamente superior do que em cativeiro;, comemorou a especialista.
A soltura do animal ocorreu em 13 de abril. O local escolhido, após uma avaliação da equipe que tratou Helena, foi o igarapé do Juá Grande, localizado na Reserva Mamirauá. Miriam Marmontel destacou que a escolha foi em função da disponibilidade de vegetação para alimentação nesta época do ano, primeiro período de adaptação do peixe-boi na natureza.
Outro fator importante é que a área foi o reduto escolhido por Japurá, outro peixe-boi solto pelo Instituto Mamirauá há dois anos. Os pesquisadores acreditam que os dois já possam ter se encontrado, desde a soltura, já que sinais de rastreamento indicam que os dois estão próximos um do outro.
Antes de ser solta, a fêmea de peixe-boi foi pesada, medida, e recebeu um cinto equipado com um transmissor de sinais de rádio na cauda. O equipamento emite um sinal que pode ser monitorado pelos pesquisadores em ambiente natural. Durante o procedimento também foram coletadas amostras de fezes, para pesquisas relacionadas à dieta, hormônios sexuais e parasitas.

Vida livre

É a quinta vez que o Instituto Mamirauá solta peixes-boi na natureza, após tratamento e reabilitação do animal. A primeira vez ocorreu há 15 anos. Cinco animais são monitorados pelos pesquisadores em vida livre. Com os dados, a equipe consegue compreender o movimento dos animais na área, uso do habitat, além de acompanhar o desempenho de adaptação dos indivíduos em vida livre, fora de cativeiro.
O Centro de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico de Base Comunitária foi criado pelo Instituto Mamirauá em 2008. É um criatório conservacionista autorizado pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM).