Ciência e Saúde

Osteoartrite: nova terapia traz esperança para recuperação de movimentos

Cientistas americanos conseguem restaurar, com o uso de molécula essencial para o corpo, a cartilagem de ratos, possibilitando a recuperação dos movimentos. O próximo passo dos pesquisadores será a realização de testes em humanos

Vilhena Soares
postado em 13/05/2017 06:00
Com o avanço da idade, diversas enfermidades surgem e podem prejudicar a qualidade de vida dos idosos. Um dos problemas de saúde mais frequentes nessa etapa da vida é a osteoartrite, que ocorre quando a cartilagem ; tecido flexível presente nas extremidades dos ossos ; se desgasta, o que dificulta a locomoção. Em busca de estratégias que combatam esse problema, pesquisadores americanos utilizaram a adenosina, uma das moléculas responsáveis pelo armazenamento de energia das células, para tratar roedores diagnosticados com a doença. A intervenção gerou resultados positivos, com a recuperação do movimento das cobaias. As conclusões da pesquisa, apresentadas na revista Nature Communications, ainda precisam ser testadas em humanos, mas podem ajudar a criar uma alternativa de terapia mais eficaz que as usadas atualmente.

Os autores do estudo se basearam em pesquisas anteriores, feitas com cavalos, que mostraram como os condrócitos ; células que produzem cartilagem na articulação ; eram estimulados pela adenosina. ;Vimos que a ausência da adenosina leva à destruição da cartilagem, embora esses animais (cavalos) tenham um metabolismo peculiar;, justificou ao Correio Bruce N. Cronstein, professor de Medicina da Universidade de Nova York e um dos autores do estudo.

No experimento, os cientistas analisaram 12 ratos que não produziam adenosina. Os pesquisadores observaram que as cobaias não se reproduziam e tinham dificuldade em agarrar seus alimentos à medida que ficavam mais velhas. ;Depois que fizemos um raio-X de suas patas, nós vimos que todos os animais tinham osteoartrite. O que provavelmente os impediu de montar nas fêmeas e se reproduzir;, detalhou Cronstein.

Os cientistas aplicaram adenosina nas cobaias e, posteriormente, observaram uma grande melhora na locomoção dos roedores. ;A injeção de adenosina nas juntas lesadas de ratos impediu que a doença avançasse e mostrou a reversão dos danos. Esse achado sugere que podemos usar essa substância ou agentes semelhantes à adenosina para tratar a osteoartrite, uma forma muito comum de artrite. Até 10% da população dos EUA possui osteoartrite, o que acredito que provavelmente seja semelhante no Brasil;, ressaltou o autor do estudo.

Segundo os cientistas, a melhora desencadeada pela adenosina ocorreu porque a substância é derivada da adenosina trifosfato (ATP), uma molécula indispensável para a vida, já que armazena a energia necessária para atividades vitais e básicas das células. ;A ATP é uma das moléculas mais abundantes na célula e é o combustível para funções celulares, ela tem muita influência em todo o corpo. Para entender melhor: os níveis de adenosina no cérebro aumentam durante a noite, ajudando na indução do sono. A cafeína bloqueia os receptores de adenosina no cérebro para mantê-lo acordado;, detalhou o autor do estudo.

Resultado promissor

Sandra Maria Andrade, reumatologista do Hospital Santa Lúcia em Brasília e membro titular da Sociedade Brasileira de Reumatologia, destaca que o estudo americano é interessante e detalha como as articulações são influenciadas pela adenosina. ;Esse artigo mostra algo novo e promissor: a adenosina como um agente que pode ajudar a estimular os condrócitos. Ao serem excitados, eles formam os colágenos, que são os responsáveis pela água que faz a cartilagem funcionar, proporcionando assim o amortecimento;, destacou a especialista que não participou do estudo. ;Durante o envelhecimento a quantidade dessa água diminui e ocorrem rachaduras, o que marca o início da osteoartrite;, complementou Andrade.

Com os resultados positivos vistos no experimento em ratos, os autores da pesquisa acreditam que estratégias terapêuticas mais eficazes para a osteoartrite estejam próximas de serem alcançadas. ;Esperamos desenvolver adenosina em laboratório ou agentes semelhantes a ela para serem utilizados nas articulações de pacientes com artrite. Dessa forma, poderemos prevenir a progressão e possivelmente revertê-la se estiver presente. Assim, diminuiríamos a necessidade de cirurgia. A adenosina já é usada na medicina (para o tratamento e diagnóstico de doenças cardíacas), por isso acreditamos que seremos capazes de trazê-la para a área clínica com relativa rapidez;, adiantou o autor do estudo. ;Poderíamos adiar consideravelmente a necessidade de tratamento das articulações com essa estratégia, que seria feita apenas uma vez, com total eficácia;, ressaltou Cronstein.

Andrade também acredita que os achados americanos podem render tratamentos futuros, que seriam muito bem recebidos pela área médica.;É importante evitar esse problema precocemente, hoje temos muitos pacientes que convivem com próteses, seria interessante evitar esse tipo de intervenção, ter uma opção melhor do que as usadas atualmente;, complementou a especialista.

Incidência

De acordo com o Ministério da Saúde, a osteoartrite atinge cerca de 15 milhões de brasileiros. Dados da Previdência Social mostram que a doença é responsável por 7,5% do total de afastamentos do trabalho. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a osteoartrite representa cerca de 30 a 40% das consultas feitas a reumatologistas.

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