Humberto Rezende
postado em 31/05/2017 13:29
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Depois de explorar os mais distantes pontos do Sistema Solar, a Nasa finalmente chegará à "estrela principal" da fascinante dança de corpos celestes do qual a Terra faz parte. A agência espacial norte-americana anunciou nesta quarta-feira (31/5) que lançará, no próximo ano, a primeira sonda que "tocará o Sol".
Nenhuma nave chegou tão perto do Astro Rei quanto pretende chegar a Sonda Solar Eugene Parker, batizada com o nome do cientista que propôs, seis décadas atrás, a existência dos ventos solares, jatos supersônicos de radiação emitidos pelo Sol e capazes de afetar todo o Sistema Solar.
A descoberta feita por Parker, confirmada anos depois com a observação de telescópios, revolucionou o estudo do Sol e do funcionamento do Universo. No entanto, uma pergunta-chave para entender a interação das estrelas com o ambiente ao redor ; logo, sobre como a vida na Terra é possível ; permanece: como pode a coroa solar (região de plasma mais externa do Sol) ser centenas de vezes mais quente que a superfície da estrela e, assim, conseguir irradiar regiões tão distantes?
"Não podemos responder a essa pergunta sem irmos lá e de fato tocar o Sol. E é isso que vamos fazer", disse Nicola Fox, membro do time de cientistas envolvidos na missão durante o anúncio do projeto, realizado na Universidade de Chicago, instituição da qual Eugene Parker é professor emérito. "Se não fizemos isso até hoje é porque não tínhamos a tecnologia necessária, mas agora a temos", completou Fox, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins, em Nova York.
A missão rumo ao Sol representará uma verdadeira revolução tecnológica, segundo a Nasa. Uma das peças fundamentais para que ela aconteça é o escudo protetor de calor, constituído de um novo material a base de carbono. Também foram desenvolvidos painéis solares ultrarresistentes e capazes de absorver apenas a quantidade necessária de energia e toda uma estratégia para impulsionar a sonda a uma velocidade impressionante de quase 700 mil quilômetros por hora.
Segundo Fox, todas essa inovações, atualmente em fases de testes finais, permitirão à sonda entrar na coroa solar e colher dados que ajudarão os cientistas a desvendar o mistério de sua altíssima temperatura. A cientista explicou que a sonda solar chegará sete vezes mais perto que qualquer outra nave criada para estudar a estrela. "Se a distância entre o Sol e a Terra fosse 1m, chegaríamos a 4cm do Sol. Estaremos realmente muito, muito perto", afirmou.
Homenagem a Eugene Parker
A cerimônia de anúncio também serviu para homenagear o astrônomo Eugene Parker, que propôs em um artigo científico a existência dos ventos solares, insight que permitiu à ciência entender a dinâmica entre o Sol e os demais corpos do Sistema Solar. Há 60 anos, a ideia de Parker era tão inovadora que pareceu absurda para a comunidade científica, e seu artigo científico com a ideia foi rejeitado por duas revistas científicas.
O tempo mostrou, no entanto, que o astrônomo estava certo, e, agora, além de ver seu nome na sonda da maior missão já criada para estudar o Sol, o cientista ganhou duas outras homenagens: um chip contendo fotos dele e o seu artigo original será incluído na nave e ele poderá escolher a inscrição a ser gravada na sonda. "É uma grande honra estar associado a uma missão tão heroica", disse Parker na cerimônia.
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O Sol
Maior responsável pela existência de vida na Terra, o Sol é uma estrela formada basicamente por hidrogênio e hélio em combustão, o que produz energia suficiente para afetar até as regiões além de Netuno e Plutão. A temperatura média na superfície solar fica em torno dos 5,5 mil graus Celsius.
Seu diâmetro é 1,4 milhão de quilômetros, 109 vezes o da Terra. Isso significa que, se o Sol fosse do tamanho da porta de sua casa, a Terra não ser maior que uma moeda no chão. Com todo esse tamanho, a estrela leva 27 dias para dar uma volta completa em torno de si mesma (rotação).