Ciência e Saúde

Mudanças climáticas põem em risco a oferta global de café, diz especialista

A OIC alerta para o desequilíbrio entre produção e consumo nos últimos dois anos. Entre outubro de 2015 e setembro de 2016, 151,3 milhões de sacos de 60 kg de café foram consumido

Agência France-Presse
postado em 13/07/2017 10:12
A OIC alerta para o desequilíbrio entre produção e consumo nos últimos dois anos. Entre outubro de 2015 e setembro de 2016, 151,3 milhões de sacos de 60 kg de café foram consumido

Medellín, Colômbia -
As mudanças climáticas põem em risco a produção mundial de café, que nos últimos anos ficou abaixo da demanda, disseram especialistas e autoridades em conferência na Colômbia, advertindo para o fato de nenhum país estar preparado para enfrentar o problema.
"Todo mundo vai ser afetado. O café é muito sensível a variações pequenas de temperatura. À medida que sobe, todos são afetados" disse à AFP o brasileiro José Sette, diretor executivo da Organização Internacional do Café (OIC), que reúne 43 países exportadores e sete importadores.
A quantidade de terras para o cultivo de café pode ser reduzida à metade em 2050 graças ao aumento da temperatura que, além disso, estimula a proliferação de pragas e doenças nas plantas, segundo um informe de 2016 do Instituto de Climatologia da Austrália.
A OIC alerta para o desequilíbrio entre produção e consumo nos últimos dois anos. Entre outubro de 2015 e setembro de 2016, 151,3 milhões de sacos de 60 kg de café foram consumidos. O déficit de 3,3 milhões de sacos foi reposto com a sobreprodução de anos anteriores.
Desde 2012, o consumo do grão tem um crescimento anual médio de 1,3%, completou. Com uma produção reduzida, a demanda mundial poderia não ser suprida, explicou à AFP Roberto Vélez, gerente da Federação Nacional de Cafeteiros (FNC) da Colômbia, principal produtor de café de qualidade e terceiro maior produtor mundial do grão.
Concentração das colheitas
"Os choques climáticos são muito mais violentos do que eram em geral", advertiu Vélez no primeiro Fórum Mundial de Países Produtores de Café, que acaba nesta quarta-feira, em Medellín. Ele usou como exemplo a geada vivida em 1975 pelo Brasil, maior produtor e exportador do grão, que acabou com metade da colheita. Se um cenário dessa magnitude voltasse a ocorrer, "de onde tiraríamos 25 milhões de sacos?", indagou.


O Brasil colheu 51,4 milhões de sacos de café em 2016, mas já anunciou uma redução de 11,3% em 2017, por causa do ciclo bienal negativo da variedade arábica. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, indicou nesta terça que as terras brasileiras serão menos aptas ao cultivo de café porque o aquecimento global afeta mais os países afastados da linha do Equador.
Além disso, Vélez alertou para a crescente concentração das colheitas nas mãos dos principais produtores (Brasil, Vietnã, Colômbia, Indonésia e Honduras), já que um fenômeno climático nessas nações afetaria diretamente a oferta mundial. "Esse ano simplesmente não vai haver (produção de café) em alguns lugares" da Colômbia, assegurou Vélez, que explicou que o país sul-americano teve que reduzir a menos de 14 milhões de sacos a produção projetada para 2017 por causa das fortes chuvas registradas entre novembro de 2016 e o começo de março.
Adaptação e mitigação
O negócio do café sustenta 25 milhões de famílias em 60 países e representa um mercado que movimenta cerca de 100 trilhões de dólares no mundo, segundo dados da OIC do primeiro semestre de 2017. A resposta dos produtores para enfrentar as mudanças climáticas se baseia em dois pilares: adaptação e mitigação, apontou Sette.
Para o executivo, o primeiro ponto inclui toda a sociedade e as nações não cafeicultoras, por isso é fundamental a redução das emissões de carbono. Quanto à mitigação, as soluções passam por mudar o local de plantio, juntar as plantações de café a outras que lhes deem sombra, criar variedades mais resistentes e aumentar a produtividade por hectare.
Os especialistas reunidos no Fórum identificaram como um dos principais desafios do setor a sustentabilidade dos produtores, que também são afetados pelas perdas na semeadura e o aumento dos custos de insumos. O economista americano Jeffrey Sachs disse que os ganhos dos produtores caíram dois terços desde o começo do século XX.

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