Ciência e Saúde

Em busca da Zelândia, considerada um 'novo continente'

Os autores do estudo afirmam que a Zelândia seria o sétimo em termos de tamanho, depois da África, Eurásia, América do Norte, América do Sul, a Antártica e o continente australiano

Agência France-Presse
postado em 28/07/2017 15:10
Uma expedição científica zarpou nesta sexta-feira da Austrália para explorar a Zelândia, uma gigantesca massa terrestre basicamente submersa e considerada por alguns especialistas como um novo continente.
Esta afirmação está longe de criar consenso, assim como o número de continentes existentes e o que os define.

A Zelândia, que se desprendeu do supercontinente de Gondwana há 75 milhões de anos, tem uma superfície de 4,9 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente à metade do Canadá.

Quase 95% deste território está submerso, e suas duas terras principais em superfície são a Nova Zelândia e a Nova Caledônia.

Pesquisadores australianos, neocaledônios e neozelandeses publicaram em fevereiro no GSA Today, o periódico da Sociedade Geológica dos Estados Unidos, um artigo que detalha as razões pelas quais a Zelândia, cuja existência é debatida ao menos desde 1995, deveria ser considerada um continente.

Para eles, a Zelândia preenche os quatro critérios fundamentais da definição de continente.

No artigo, citam a elevação desta massa em comparação com os arredores, explicando que seus limites são o ponto onde as planícies profundas se encontram com o talude continental, a entre 2.500 e 4.000 metros de profundidade. O ponto mais alto do continente seria o monte Cook, na Nova Zelândia (3.754 m).

Também falam da sua geologia, da sua forma bem delimitada e da estrutura e espessura da sua crosta.

;Esvaziando os oceanos;

Só 25 km separam esta massa do continente australiano na parte mais estreita, mas, segundo os cientistas, a fossa oceânica se submerge a 3.600 metros de profundidade.

O Joides Resolution, um barco científico utilizado para perfurações no mar, zarpou na sexta-feira do porto australiano de Townsville, no Estado de Queensland (nordeste), para extrair amostras com o objetivo de compreender melhor a evolução geológica da zona.

As rochas e sedimentos extraídos serão estudados a bordo. Estas amostras irão supor um avanço no conhecimento da história oceanográfica da zona, ou inclusive dos seus fenômenos climáticos e tectônicos.

Jerry Dickens, um dos responsáveis científicos da expedição, ressaltou especialmente a importância do lugar para os estudos climáticos.

"À medida que a Austrália se desviou para o norte e que o mar de Tasman se estendeu, os esquemas de circulação variaram, assim como as profundidades da água ao redor da Nova Zelândia", explicou este especialista da Universidade do Texas.

"Esta zona teve uma grande influência nas mudanças globais", acrescentou.

Neville Exon, da Universidade Nacional da Austrália, destaca que a expedição de dois meses esclarecerá também as mudanças tectônicas em ação desde a formação do Círculo de Fogo do Pacífico, uma zona de intensa atividade sísmica e vulcânica, há 53 milhões de anos.

Um dos principais colaboradores do estudo, Nick Mortimer, explicou que os pesquisadores reúnem há 20 anos elementos que defendem a existência de um continente.

Seus esforços, no entanto, foram dificultados pelo fato de que a Zelândia se encontra submersa.

"Se pudéssemos esvaziar os oceanos, as cadeias montanhosas e esta enorme massa continental saltariam aos olhos de todos", disse Mortimer, que espera que a Zelândia figure algum dia nos "mapas e nas escolas".

Mas antes de saber se estamos diante da presença de um novo continente, as opiniões divergem sobre o número de continentes atuais, que varia, segundo os pontos de vista, entre quatro e sete.

Os autores do estudo afirmam que a Zelândia seria o sétimo em termos de tamanho, depois da África, Eurásia, América do Norte, América do Sul, a Antártica e o continente australiano.

"O interesse científico de classificar a Zelândia como um continente vai além do fato de acrescentar um nome à lista", escreveram.

"Que um continente possa estar tão submerso mas sem se fragmentar é útil para compreender a coesão e a destruição da crosta continental", concluem os especialistas.

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