Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Pesquisadores encontram vestígios de tsunami no Índico há 5 mil anos

Cientistas alertam, no entanto, que não é possível prever quando novas ondas gigantes vão ocorrer


Há cinco mil anos, terremotos fortíssimos chacoalharam as placas tectônicas sob a Indonésia, provocando um tsunami. Não se sabe de que forma a população local foi atingida. Mas, provavelmente, assim como no episódio de 2004, o fenômeno devastou a costa do Oceano Índico. Esse é o registro mais antigo que se tem da formação de ondas gigantes e foi identificado, agora, em uma caverna marinha na ilha de Sumatra, ao sul da cidade de Banda Aceh, destruída pelo maremoto de 13 anos atrás.

Em um trabalho publicado na revista Nature Communications, pesquisadores da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, descreveram as marcas deixadas pela fúria dos mares na formação geológica e fizeram um alerta: os dados ilustram que ainda não se pode prever quando o próximo tsunami ocorrerá. ;Tsunamis não são sequer espaçados através dos tempos. Nossa descoberta apresenta uma figura preocupante da recorrência altamente errática do fenômeno. Pode haver longos períodos entre um e outro, mas também eles podem ser separados por apenas algumas décadas;, diz Charles Rubin, principal autor do estudo e professor do Observatório da Terra de Cingapura.

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Nas gravações estratigráficas, os cientistas identificaram não apenas um, mas 11 fenômenos ocorridos entre 7,9 mil e 2,9 mil anos atrás: os registros revelam sucessivas camadas de areia, excrementos de morcego e outros detritos indicativos de ondas gigantescas. Os autores notam que é possível que muito mais maremotos tenham ocorrido desde então. Porém, o evento de 2004 foi tão devastador que apagou as reminiscências mais recentes.

Os registros gravados nas camadas geológicas são provas claras (leia três perguntas para) dos tsunamis ocorridos ao longo de Sunda Megthrust, falha de 5,5 mil quilômetros que vai de Mianmar a Sumatra, no Oceano Índico. Os pesquisadores descobriram que houve dois milênios, durante os 5 mil anos de fenômenos, livres de tsunamis. Ao mesmo tempo, em apenas um século, quatro maremotos atingiram a costa. Em geral, pequenos tsunamis ocorreram relativamente próximos uns aos outros, seguidos por longos períodos de calmaria, para então ocorrerem terremotos e maremotos de grande porte, como o de 2004.

A descoberta aconteceu quando Charles Rubin e Benjamin P. Horton, professor da Universidade de Rutgers e pesquisador da Universidade Tecnológica de Singapura, estavam estudando a história sísmica de Sunda Megthrust, a falha responsável pelo terremoto que desencadeou o tsunami de 13 anos atrás. Eles buscavam locais de onde poderiam retirar amostras de boa qualidade referentes a camadas geológicas. Esse trabalho envolveu o que Horton chama de ;locais de deposição;: planícies costeiras, fundos de lagos costeiros, ou qualquer outro lugar onde era possível mergulhar mais de 7m abaixo do nível do mar para se obter um registro.

Por várias razões, não havia nenhum local da costa sudoeste de Sumatra que se encaixasse nesse perfil. Então, Patrick Daly, arqueólogo que trabalhava em uma escavação na caverna costeira, contou aos pesquisadores sobre a existência do refúgio, sugerindo que esse poderia ser o lugar que eles estavam procurando. Buscar registros de um tsunami em uma caverna marinha não era algo que tinha ocorrido ao Horton. Mas foi exatamente lá que ele conseguiu encontrar uma história de fúria e destruição, que vem se repetindo há pelo menos 5 mil anos.