Ciência e Saúde

Estudo brasileiro vence o Ig Nobel, o prêmio das pesquisas bizarras

Pesquisa da UFPE sobre morcegos que se alimentam de sangue humano ganha na categoria Nutrição. Lista de vencedores inclui também um estudo que busca responder se gatos são sólidos ou líquidos e outro que investiga o tamanho da orelha de idosos

postado em 15/09/2017 07:03
Enrico, Fernanda e Rodrigo, da UFPE, no vídeo em que dizem aceitar o Ig Nobel
O Brasil nunca ganhou um Nobel, mas já pode comemorar a conquista de seu terceiro Ig Nobel, o prêmio dado pela Universidade de Harvard às pesquisas mais inusitadas de cada ano. Um estudo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) venceu a categoria Nutrição na edição de 2017, cuja cerimônia foi realizada na noite de quinta-feira (14/9), em um auditório da prestigiada universidade norte-americana. Brasileiros já haviam levado o prêmio em 2003 e 2008.
Assinado pela brasileira Fernanda Ito, pelo canadense Enrico Bernard e pelo espanhol Rodrigo A. Torres, todos pesquisadores da universidade brasileira, o estudo laureado neste ano anuncia uma descoberta realmente intrigante: diante da escassez de pássaros em seu hábitat, morcegos da caatinga nordestina flexibilizaram a dieta e passaram a se alimentar de... sangue humano!
O artigo ; intitulado O que tem para o jantar? Primeira documentação de sangue humano na dieta do morcego-vampiro-das-pernas-peludas Diphylla ecaudata ; foi publicado em dezembro passado na revista especializada Acta Chiropterologica. Para fazer a descoberta, os pesquisadores coletaram fezes dos mamíferos voadores e analisaram seu DNA, encontrando traços de hemoglobina humana. O trio não pôde comparecer à cerimônia em Boston, mas gravaram um vídeo em que diziam aceitar o prêmio usando dentaduras de vampiro (assista abaixo, a partir de 1h14min).

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Antes de Fernanda Ito, dois brasileiros receberam o Ig Nobel. Igor Rafailov ganhou o de Literatura, pela edição do Dicionário de fobias, publicado em 2003, com mais de mil verbetes devidamente ilustrados. Já a dupla Astolfo Mello Araújo e José Carlos Marcelino, da Universidade de São Paulo (USP), venceu na categoria Arqueologia em 2008, por demonstrar que os tatus podem modificar resultados de estudos arqueológicos.
Apesar do tom brincalhão, o Ig Nobel não é visto como ofensivo pelos cientistas e, depois de 27 edições, raramente é recusado pelos indicados. As premiações costumam contar com a presença de ganhadores do Nobel verdadeiro e já houve cientista que ganhou ambos, tanto o Nobel quanto o Ig Nobel, caso do físico russo Andre Geim. A Universidade de Harvard faz questão de ressaltar que o prêmio não busca ridicularizar ninguém. A ideia é premiar "pesquisas improváveis", que "fazem rir e, depois, pensar".

De gatos líquidos a pênis femininos

Como em todos os anos, a cerimônia de 2017 foi um desfile de pesquisas surpreendentes, que deixaram o público boquiaberto e se questionando de onde saíram as ideias para fazer pesquisas assim. Os vencedores receberam um certificado assinado por vários vencedores do Nobel, um troféu que mostra um ponto de interrogação vermelho sobre um rosto humano e uma nota de 1 trilhão de dólares zimbabuenses.

Veja os vencedores das outras categorias:

Pesquisa da UFPE sobre morcegos que se alimentam de sangue humano ganha na categoria Nutrição. Lista de vencedores inclui também um estudo que busca responder se gatos são sólidos ou líquidos e outro que investiga o tamanho da orelha de idosos
Física: o francês Marc-Antoine Fardin, da Universidade de Lyon, venceu essa categoria ao publicar um estudo no qual indaga se os gatos podem ser considerados líquidos. Ao receber o prêmio ele explicou que a pergunta faz sentido, uma vez que a clássica definição de líquido é a matéria que modifica sua forma de acordo com o recipiente em que está. E ele mostrou várias fotos de que os gatos são capazes de fazer isso.
Dinâmica de fluidos: o coreano Jiwon Han venceu por mostrar que, quando uma pessoa segura a caneca de café por cima e anda de costas, há menos chance de entornar o líquido do que se ela caminha para a frente, segurando o copo pela lateral.
Ig Nobel da Paz: foi para uma equipe suíça pela descoberta de que tocar o didjeridu, um longo instrumento de sopro dos aborígenes australianos, beneficia pessoas com ronco e apneia do sono.
Economia: Matthew Rockloff e Nancy Greer, da Universidade Central de Queensland, na Austrália, mereceram esse prêmio depois de investigar se a vontade de apostar é afetada após uma pessoa segurar um crocodilo de 1m de comprimento. E a resposta é: sim, afeta. As pessoas que ficaram com medo apresentaram a tendência de ser mais cautelosas nas apostas depois da experiência. Já nos que não sentiram medo, o efeito foi o oposto.
Anatomia: o vencedor foi o estudo Por que homens idosos têm orelhas grandes? Curiosamente, o autor, o inglês James Heathcote, não respondeu a pergunta que faz no título. Mas constatou que, de fato, as orelhas crescem com o passar dos anos. Cerca de 0,22mm a cada 365 dias.
Cognição: Matteo Martini e colaboradores, da Universidade de Roma, na Itália, fizeram por merecer esse prêmio ao demonstrar que gêmeos idênticos têm dificuldade de dizer se são eles ou seus irmãos que aparecem em uma fotografia.
Pesquisa da UFPE sobre morcegos que se alimentam de sangue humano ganha na categoria Nutrição. Lista de vencedores inclui também um estudo que busca responder se gatos são sólidos ou líquidos e outro que investiga o tamanho da orelha de idosos
Obstetrícia: espanhóis mereceram esse prêmio devido a um estudo segundo o qual o feto reage de maneira mais forte à música tocada a partir de um alto-falante inserido na vagina da mãe, em comparação com a música que sai de uma caixa de som posicionada sobre a barriga da grávida. A descoberta rendeu um produto que já está sendo comercializado: o Babypod.
Biologia: foi para uma equipe liderada por Kazunori Yoshizawa, da Universidade de Hokkaido, no Japão. O grupo descobriu "um pênis feminino e uma vagina masculina" presentes em um inseto que vive em cavernas do país asiático.
Medicina: O uso de um escâner de última geração para estudar a atividade cerebral de pessoas que têm nojo de queijo rendeu o prêmio na categoria para Jean-Pierre Royet, também da Universidade de Lyon, na França.

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