postado em 26/09/2017 06:00
Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis mostrou que um anticorpo que protege contra o vírus da dengue também é efetivo no combate ao zika. O resultado do experimento, feito em ratos, foi publicado na edição de ontem da revista Nature Immunology.
[SAIBAMAIS] Anticorpos são defesas naturais produzidas pelo organismo quando em contato com agentes externos ameaçadores, como vírus e bactérias. Eles permanecem na corrente sanguínea por algumas semanas; por isso, uma ou poucas doses de medicamentos baseados nessas substâncias ao longo da gravidez teriam o potencial de proteger o feto e a mãe contra o zika. Além do zika, a gestante ficaria imune à dengue.
Como dengue e zika são vírus semelhantes, os pesquisadores, liderados por Michael S. Diamond, levantaram a hipótese de que um anticorpo que previne uma doença poderia fazer o mesmo quanto a outra. Para testar essa ideia, infectaram fêmeas de rato adultas com o zika e, então, administraram anticorpos da dengue um, três e cinco dias depois. Para comparação, outro grupo de ratos infectados com o zika recebeu apenas placebo. Dentro de três semanas, mais de 80% dos animais não tratados morreram, enquanto que todos os imunizados três dias após a contaminação continuaram vivos. O índice de sobrevivência dos ratos que receberam o anticorpo cinco dias depois de infectados foi de 40%.
Para saber qual anticorpo protegeria também os fetos, os pesquisadores contaminaram fêmeas no sexto dia de gestação com o zika e, então, administraram uma dose de anticorpo ou de placebo um e três dias depois. No 13; dia, a quantidade de material genético do vírus foi 600 mil vezes menor nas placentas e 4,9 mil vezes menor nas cabeças dos fetos das cobaias tratadas um dia depois da infecção, comparada à do grupo placebo. Contudo, administrar o anticorpo três dias depois do contágio foi menos efetivo: essa prática reduziu a quantidade de material viral em 19 vezes (feto) e 23 vezes (gestantes).
Limitações
Os resultados sugerem que, para o anticorpo proteger o feto efetivamente, deve ser administrado logo após a infecção. Porém, isso não é algo realista, visto que as mulheres não têm como saber quando foram picadas pelo mosquito contaminado. Por outro lado, imunizá-las assim que descobrem que estão grávidas poderia ser uma boa estratégia de defesa contra o vírus, alegam os pesquisadores.
De acordo com Diamond, a chave para usar o anticorpo como medida preventiva seria ter certeza que os níveis da substância na corrente sanguínea da mulher permaneceriam altos o suficiente para proteger o feto ao longo de toda a gestação. Por isso, a equipe trabalha, agora, para fazer essa identificação. Os cientistas também estão explorando formas de prolongar a meia-vida do anticorpo no sangue, o que reduziria a quantidade de vezes necessárias em que a mulher precisaria usá-lo.