Ciência e Saúde

Brasil celebra Cúpula Mundial sobre Hepatite e debate acesso a tratamento

Milhões de pessoas, em sua maioria em países de renda média ou baixa, continuam sem poder adquirir as novas alternativas médicas, devido a seus altos custos

Agência France-Presse
postado em 01/11/2017 17:18

A segunda Cúpula Mundial de Hepatites tem início nesta quarta-feira (1/11), em São Paulo, e reunirá especialistas de todo o mundo para debater o acesso aos tratamentos e elaborar uma estratégia global contra esta doença que causa 1,3 milhão de mortes anuais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) detalhou na véspera do evento que nos dois últimos anos um número recorde de três milhões de pessoas tiveram acesso ao tratamento para hepatite C, transmitida principalmente por sangue contaminado, e que 2,8 milhões receberam remédios em 2016 para a hepatite B, que também é transmitida pelo contato com fluidos.

[SAIBAMAIS]"Estes resultados trazem esperança de que a eliminação da hepatite pode e vai se tornar uma realidade", disse Gottfried Hirnschall, diretor da OMS para o Departamento de HIV e do programa global de hepatite. Estes dois vírus estão relacionados por compartilharem as mesmas vias de transmissão.

No entanto, milhões de pessoas, em sua maioria em países de renda média ou baixa, continuam sem poder adquirir as novas alternativas médicas, devido a seus altos custos.

"O quão bom é um medicamento de ponta que as pessoas não podem comprar? Os preços de medicamentos para hepatite C estipulados pelas empresas farmacêuticas estão fora do alcance de pessoas que pagam os próprios tratamentos, e também de muitos governos que sofrem para oferecer esse tratamento no sistema público de saúde", lamentou Jessica Burry, da campanha de acesso a medicamentos do Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Convocada pela OMS e a Aliança Mundial Contra as Hepatites, em colaboração com o governo brasileiro, a cúpula é um esforço bienal que busca estabelecer uma agenda internacional comum para lutar contra esta doença, que afeta mais de 325 milhões de pessoas.

Em 2016, 194 países assinaram o compromisso de erradicar a hepatite C até 2030, mas apenas nove, entre eles o Brasil, estão cumprindo as metas, segundo dados oficiais divulgados pela assessoria do evento.

O Brasil é o único país latino-americano nesta lista, composta por Egito, Geórgia, Alemanha, Islândia, Japão, Holanda, Austrália e Catar.

"Para a maioria dos outros países, será praticamente impossível atingir os objetivos da OMS sem uma enorme ampliação da vontade política e do acesso ao diagnóstico e ao tratamento", afirmou em um comunicado Home Razavi, do Centro de Análise para as Doenças, com sede nos Estados Unidos e especializado em epidemiologia.

Fora do alcance

A taxa de diagnóstico mundial da hepatite B é de apenas 10% - e de 20% para o tipo C -, o que, somado à falta de investimentos públicos em vários países, aumenta os desafios para a erradicação da doença, segundo dados divulgados pelos organizadores do evento.

"Como resultado, a ampla maioria dos pacientes permanece não diagnosticada e só 1% deles conseguem ter acesso ao tratamento", escreveu Charles Gore, presidente da Aliança Mundial Contra as Hepatites.

O alto custo dos medicamentos também complica o panorama. A combinação de sofosbuvir, do laboratório Gilead, e daclatasvir, do Bristol-Myers Squibb, representa um avanço ao aumentar as chances de cura para até 95%, em apenas 12 semanas, superando tratamentos anteriores que demoravam muito mais.

A questão foi o motivo de um pequeno protesto nesta terça-feira em frente à sede em São Paulo da fabricante do medicamento mais potente e com menos efeitos colaterais contra a hepatite C, que no Brasil chega a um preço de 6.213 dólares em média para um tratamento de três meses, segundo cálculos da Coalition Plus, uma organização especializada no combate à aids e à hepatite.

"Sabemos que atualmente há um tratamento efetivo contra a hepatite C, podemos curá-la, e por isso estamos aqui hoje. O tratamento é vendido por um preço que ninguém pode bancar", afirmou Aurelien Beaucamp, diretor do grupo Aides, que combate a aids e a hepatite.

Para a MSF, a chave está na distribuição de alternativas genéricas.

"Os países que estão obtendo bons resultados na cobertura do tratamento são aqueles onde há genéricos disponíveis", disse a organização em um comunicado, destacando os avanços em nações como o Brasil e o Egito.

A hepatite é uma inflamação do fígado causada por um vírus. Há cinco tipos, embora o B e o C sejam responsáveis por mais da metade de todos os novos casos de câncer de fígado, segundo dados da OMS.

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