Um misterioso objeto rochoso e alongado detectado em outubro provém de outro sistema solar, uma observação sem precedentes que foi confirmada nesta segunda-feira (21/11) pelos astrônomos.
Esta detecção abre uma nova janela sobre a formação de outros mundos estelares em nossa galáxia, a Via Láctea, segundo estes cientistas, cujo trabalho foi publicado pela revista britânica Nature.
[SAIBAMAIS]O asteroide, batizado de Oumuamua (mensageiro em havaiano), tem 400 metros de comprimento, o que representa aproximadamente dez vezes a sua largura.
Esta forma incomum não tem precedentes entre os cerca de 750.000 asteroides e cometas observados até agora em nosso sistema solar, onde se formaram, de acordo com estes pesquisadores.
Os cientistas concluíram com certeza a natureza extra estelar deste asteroide, porque a análise dos dados coletados mostra que sua órbita não pode ter origem dentro do nosso sistema solar.
Os astrônomos acreditam que um asteroide interestelar similar a Oumuamua passa dentro do sistema solar aproximadamente uma vez por ano.
Mas é algo difícil de rastrear, e não tinha sido detectado até agora. Faz relativamente pouco tempo que os telescópios que monitoram estes objetos são potentes o suficiente para poder descobri-los.
Segundo os astrônomos, este objeto viajou sozinho através da Via Láctea durante centenas de milhões de anos, antes de passar por nosso sistema solar e continuar seu caminho.
Um visitante estranho
"Durante décadas pensamos que tais objetos de outro mundo poderiam se encontrar perto do nosso sistema solar, e agora, pela primeira vez, temos evidência direta de que existem", disse Thomas Zurbuchen, responsável adjunto das missões científicas da Nasa, que financiou esta última pesquisa.
"Esta descoberta abre uma nova janela para estudar a formação de sistemas solares além do nosso", considerou.
"É um visitante estranho procedente de um sistema estelar muito distante que tem uma forma que nunca tínhamos visto em nossos arredores cósmicos", acrescentou Paul Chodas, diretor do Centro para o Estudo de Objetos Próximos à Terra do Jet Propulsion Laboratory da Nasa, em Pasadena, Califórnia.
Oumuamua foi descoberto em 19 de outubro com o telescópio Pan-STARRS1 situado no Havaí, que rastreia objetos próximos ao nosso planeta.
Imediatamente depois de sua descoberta, outros telescópios de todo o mundo, entre eles o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu Austral (ESO), no norte do Chile, começaram a observar o asteroide para determinar suas características.
Uma equipe de astrônomos dirigida por Karen Meech, do Instituto de Astronomia do Havaí, constatou que a potência do brilho do objeto varia até dez vezes na medida em que completa uma volta sobre si mesmo a cada 7,3 horas.
Nenhum asteroide ou cometa em nosso sistema solar experimenta essa magnitude na variação de seu brilho ou essa proporção entre o comprimento e a largura, ressaltam os especialistas.
Nem água nem gelo
Estas propriedades sugerem que o Oumuamua é denso e é formado por rochas e possivelmente também por metais.
Mas não tem nem água nem gelo, e sua superfície ficou avermelhada pelos efeitos das radiações cósmicas durante centenas de milhões de anos.
Telescópios terrestres de alta potência continuam monitorando o asteroide enquanto este desaparece rapidamente à medida que se afasta da Terra.
Dois telescópios espaciais da Nasa, o Hubble e o Spitzer, o seguem esta semana.
Na segunda-feira, o objeto estava viajando a uma velocidade de 38,3 km por segundo e estava a cerca de 200 milhões de km da Terra.
O Oumuamua passou a órbita de Marte em 1 de novembro e passará perto de Júpiter em maio de 2018. Depois continuará sua rota além de Saturno, em janeiro de 2019, e sairá do nosso sistema solar para se dirigir à constelação de Pegasus.
As observações com os grandes telescópios terrestres continuarão até que o asteroide se torne praticamente indetectável, depois de meados de dezembro.