Ana Carolina Fonseca*
postado em 25/11/2017 09:00
Atualmente ele é parte do currículo de aulas de ciência em todo o mundo, mas, quando fez as descobertas que o levariam ao patamar de referência na Biologia, provavelmente não imaginava o impacto duradouro da sua obra. O inglês Charles Darwin (1809-1882) publicou em 1859 A Origem das Espécies, extenso livro fruto de uma viagem de cinco anos por todo o planeta. A bordo do navio Beagle, Darwin fez as anotações que mais tarde se tornariam a base para boa parte das pesquisas atuais na área. E ele até visitou o Brasil: em 1832, esteve em Fernando de Noronha.
A professora do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) Rosana Tidon afirma que o livro virou um dos mais importantes marcos na história da Biologia, porque apresenta duas ideias essenciais e que se aplicam a praticamente todas as áreas dessa ciência. A primeira delas é a da evolução, ou seja, a que todos os organismos descenderam de ancestrais comuns. "É a árvore da vida, uma metáfora que representa as espécies de seres vivos como os ramos de uma árvore, os quais se diversificam e geram ramos novos", explica.
A segunda proposição de Darwin é o mecanismo responsável pelo desses ramos, de acordo com Tidon. A seleção natural, como foi chamada por Darwin e pelo contemporâneo Alfred Russel Wallace, é o principal agente evolutivo e age sobre a variação individual das espécies. É como uma "luta pela existência", nas palavras da professora, na qual as variantes mais vantajosas para a sobrevivência são favorecidas e devem ser mantidas nas próximas gerações.
"Darwin acertou quase tudo", diz a professora. Na Origem das Espécies, ela conta, o médico e teólogo cita evidências da ancestralidade comum de espécies. Mais tarde e com novos métodos científicos, essas descobertas são confirmadas e consolidadas por novas pesquisas. A partir do século XX, a teoria da seleção natural passou a ser estudada por meio da estatística e virou uma importante ferramenta preditiva. "Por exemplo, podemos estimar o efeito das mudanças climáticas globais em diferentes populações de organismos", ilustra Tidon.
Entre 1936 e 1947, conta a professora, pesquisas dos anos anteriores foram incorporados às teorias darwinistas, dando origem à Teoria Sintética (ou Teoria Moderna). Os efeitos do acaso nas populações e espécies, por exemplo, foi agregado aos outros mecanismos da evolução. Hoje, a Biologia vive o que Nilda Rojas, também professora do departamento na UnB), chama de ;síntese evolutiva estendida;, que estuda também as relações de genótipo e fenótipo e diferentes formas de hereditariedade, como a herança cultural, no caso dos humanos.
Mesmo com todos os acertos da obra do inglês, as professoras lembram que nem tudo foi comprovado depois. Darwin não conseguiu explicar corretamente como as características dos seres vivos são herdadas pelos descendentes, já que, na época, as leis da genética ainda estavam longe de serem descobertas. Ele criou a teoria da Pangênese para explicar a hereditariedade, mas a tese não se sustentou com pesquisas posteriores. A professora Nilda argumenta que não seria adequado dizer que ele errou, pois não existia tecnologia que permitisse todas as investigações. O que Darwin criou, nesse caso, foi "a melhor verdade provisória (como ocorre nas ciências em geral)", esclarece.
A importância de Darwin ainda é enorme. Mesmo que a pesquisa tenha sido atualizada inúmeras vezes ao longo dos 158 anos desde a publicação da Origem das Espécies, o livro tem relevância histórica para a Biologia. Professoras de disciplinas para calouros na UnB, Tidon e Rojas contam que, quase todos os semestres, alunos mostram, orgulhosos, que estão lendo a obra de Darwin.
*Estagiária sob supervisão de Anderson Costolli.