Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Estudo mostra a forte influência dos genes no processo de perda de peso

Até dietas tidas como saudáveis, como a mediterrânea, podem causar efeito contrário



Embora todos os regimes tidos como saudáveis tenham funcionado bem para a maior parte dos animais, um dos quatro tipos genéticos se adaptou muito mal ao estilo alimentar japonês, por exemplo. ;O grupo da linguagem quatro se saiu muito bem com as outras dietas, mas ficou péssimo com essa, tendo um aumento na gordura do fígado e exibindo marcadores de danos hepáticos;, conta William Barrington, que liderou os trabalhos no laboratório de Threadgill.

Algo semelhante ocorreu com a dieta Atkins, ou ;da proteína;, como é mais conhecida no Brasil. ;Um dos grupos se tornou bastante obeso, com gordura no fígado e colesterol alto;, diz o pesquisador. Outro, segundo Barrington, teve redução no nível de atividade e acumulou gordura corporal, embora tenha se mantido esguio. ;Isso equivale ao ;magro gordo; em humanos, quando a pessoa parece estar em um peso saudável, mas, na verdade, tem um alto percentual de gordura no corpo;, compara.

Como se poderia esperar, a dieta que mais trouxe problemas para todos os grupos foi a estilo norte-americana. ;Alguns dos grupos se tornaram extremamente obesos e demonstraram sinais de síndrome metabólica. Outros tiveram menos efeitos negativos, e um sofreu poucas mudanças, exceto por apresentar mais um leve aumento de gordura no fígado;, conta o pesquisador. Com a dieta mediterrânea, os efeitos foram meio a meio: alguns dos grupos ficaram saudáveis, enquanto outros ganharam peso (embora menos que o verificado com o cardápio norte-americano). William Barrington diz que, em humanos, o que se vê é uma resposta tão variada quanto as verificadas entre os roedores.

Difícil avanço

Sempre às voltas com dietas, a auxiliar administrativa Karine da Silva Albuquerque, 25 anos, estava empolgada com o jejum alimentar, que não sai das páginas das revistas e dos sites de boa forma. ;Não adiantou nada, não perdi nem 1kg;, conta a jovem, que persistiu por sete meses, antes de se convencer de que não teria resultados. Com o método Dukan, que ajudou uma amiga de Karine a emagrecer 15kg, a experiência também não foi das melhores. ;Até perdi peso, mas voltou tudo e até mais;, lamenta. Atualmente, ela segue uma dieta de 1 mil calorias, passada pela nutricionista, mas continua insatisfeita. ;O pouco que eu emagreci foi depois que comecei a academia. Então, o que fez a diferença foi o aeróbico. Há dois meses estou fazendo a dieta direitinho e só passo fome.;

A dona de casa Érica de Castro Fontanive, 37 anos, tem mudado a história. Ela conta que passou a vida inteira fazendo dietas e acumulando poucos resultados. ;Nunca ia adiante. Fazia as da moda ou então ia cortando alimentos;, diz. Como precisa emagrecer para se submeter a uma cirurgia, resolveu procurar ajuda. Com o cardápio passado pela nutricionista e pelo nutrólogo da clínica em que se consultou, já foram 23kg, e faltam apenas três. Além de reduzir calorias, Érica foi aconselhada, nos últimos meses, a diminuir carboidratos e, assim, acelerar o emagrecimento.

Próximos passos

No estudo da Universidade Texas A, os pesquisadores avaliaram a parte física, principalmente sinais de síndrome metabólica, uma coleção de sintomas associados à obesidade, como pressão e colesterol altos, gordura no fígado e níveis elevados de açúcar no sangue. Eles também estudaram diferenças comportamentais, como o quanto os animais passaram a se movimentar e o quanto estavam comendo.

De acordo com Barrington, os resultados da pesquisa demonstraram que uma dieta que faz um indivíduo esguio e saudável pode ter o efeito oposto em outro. ;Meu objetivo foi encontrar a dieta ideal. Mas o que realmente descobrimos foi que isso depende muito da genética e que não há uma dieta melhor para todo mundo;, reconhece. Falta, agora, determinar quais genes estão envolvidos com as diferentes respostas aos regimes alimentares. ;Adoraríamos desenvolver um teste genético para dizer às pessoas sobre a melhor dieta para elas, considerando seu repertório de genes;, revela.

Palavra de especialista

;Embora o DNA dos ratos seja muito semelhante ao dos humanos, não podemos extrapolar todos os resultados do estudo para nossa realidade. Mas, de fato, o que nós já observamos é que os pacientes têm respostas muito diferentes uns dos outros, e a pesquisa reforça a ideia de que as dietas devem ser personalizadas. Isso também acontece com os remédios emagrecedores: 20% dos pacientes não respondem à sibutramina, por exemplo. É possível que, futuramente, sejam feitos testes genéticos para orientar as dietas individualizadas, mas é importante lembrar que nem tudo é DNA: há interação dos genes com outros fatores externos.;


Cristiane Moulin, endocrinologista da clínica MetaSense e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sessão DF