Estudos anteriores haviam mostrado a eficácia dessas fórmulas logo após a aplicação. ;Uma vacina eficaz do vírus zika exigirá proteção duradoura, a longo prazo. Várias candidatas a esse papel demonstraram eficácia protetora em primatas não humanos, mas esses estudos geralmente envolveram observações pouco depois de a vacinação ter ocorrido, no pico da imunidade;, explica ao Correio Dan Barouch, professor de medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo atual.
Os cientistas analisaram três tipos de vacina: uma de vírus inativado purificado (PIV, em inglês), outra com base em vetores de adenovírus (Ad) e uma terceira fórmula feita com DNA. Em experimentos anteriores, todas geraram proteção eficaz em camundongos e macacos logo após a aplicação. Na nova pesquisa, macacos receberam as fórmulas e foram acompanhados ao longo de um ano.
Todas as cobaias que receberam a fórmula de vetor de adenovírus permaneceram protegidas no período. Duas aplicações da vacina de vírus inativado purificado protegeram completamente 75% dos primatas ; os 25% restantes experimentaram crises temporárias de viremia (presença do vírus no sangue). Já a vacina de DNA não conseguiu proteger os animais durante os 12 meses: 71% dos primatas ficaram suscetíveis à ação do vírus. ;Essas duas alternativas proporcionaram uma proteção robusta ao zika em macacos rhesus, garantida por pelo menos um ano. Já a vacina de DNA, que foi eficaz em estudos de curto prazo, não conseguiu proteger os animais da mesma forma, se mostrando menos promissora;, destaca o autor.
Anticorpos monitorados
Os pesquisadores destacam que os resultados foram animadores e que os detalhes identificados no estudo, como a quantidade de anticorpos contabilizada ao longo de um ano, podem ajudar no desenvolvimento de melhores vacinas. ;O próximo passo do nosso trabalho será completar os ensaios clínicos de fase 1, em humanos, com as vacinas de adenovírus e de vírus inativado purificado. Queremos saber mais sobre os mecanismos relacionados a essa proteção duradoura para poder utilizá-la em estudos futuros;, adianta Barouch.
Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, destaca que o foco na durabilidade das vacinas é de extrema importância para a área terapêutica. ;Além de gerar a imunidade, nós temos que saber a duração dessa proteção. Em relação ao zika, os pesquisadores têm pensado que uma va cina para essa enfermidade teria uma aplicação muito semelhante à vacina da dengue, que começou a ser usada agora. Nesta, são necessárias três aplicações durante um ano para que se mantenha o valor protetivo;, explica.
Júnior também destaca que os cientistas americanos abordaram estratégias de proteção que são muito exploradas na área de desenvolvimento de vacinas. ;São técnicas avançadas, que tentam gerar uma fórmula totalmente eficaz. E por meio da contagem de anticorpos, é possível ir aprimorando essas fórmulas. Acredito que esses autores estão bastante adiantados, pois já realizam testes com macacos, um próximo passo seria o teste com humanos, em grupos pequenos, mas claro que isso ainda rende alguns anos de pesquisa para termos resultados;, destaca.