Pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, pretendem aumentar a eficácia do procedimento por meio de próteses impressas em 3D, o que permite customizá-las de acordo com o paciente. A abordagem, apresentada neste mês no encontro anual da Sociedade Radiológica da América do Norte, utiliza ainda tomografia computadorizada para analisar o ouvido do usuário e criar peças que se ajustem com exatidão ao sistema auditivo.
Atualmente, as próteses chegam às salas de cirurgia pré-fabricadas, e os cirurgiões as cortam para que caibam no ouvido do paciente. A pouca intervenção dos médicos faz com que essas peças sejam consideradas versões simplificadas dos ossículos. Com a solução proposta pelos cientistas norte-americanos, a produção ocorrerá na hora do procedimento cirúrgico, e os recursos da tecnologia permitirão a criação de peças mais complexas, melhorando não somente as chances de sucesso da cirurgia, mas também a qualidade da audição recuperada.
Leia as últimas notícias de Ciência e Saúde
;Esse procedimento cirúrgico é muito desafiador por conta do pequeno espaço, da exposição limitada do local e do possível erro no tamanho da prótese;, afirma Jeffrey Hirsch, que liderou a pesquisa. ;Se podemos presumir que o tamanho incorreto é uma causa bastante provável de falha dos métodos atuais. Então, criar uma prótese customizada, que caiba com precisão no paciente, é uma boa alternativa.;
[SAIBAMAIS]A cirurgia só será possível, porém, para os indivíduos que perderam a audição devido a infecções ou outros tipos de danos diretos aos ossículos. Para Caio Athayde, otorrinolaringologista da clínica Ceol Otorrino e especialista em ouvido pela Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, as chances de sucesso do procedimento ficam entre 50% e 70%. Porém, mesmo nos casos de sucesso, a qualidade da audição recuperada não é a mesma da original.
;Durante a cirurgia tradicional, é feita uma medida. Você abre o paciente e verifica o que pode estar faltando no ouvido. Depois, você corta a prótese no tamanho certo, mas elas são versões simplificadas. O movimento que ocorre no ouvido é muito complexo, e as próteses não vibram tão bem quanto os ossos;, explica o médico, que não participou da pequisa.
O estudo sinaliza, porém, que é possível resolver esse problema com equipamentos utilizados hoje em dia. Segundo os cientistas, uma simples tomografia pode fornecer detalhes suficientes sobre a estrutura do paciente, a fim de que seja criada uma prótese detalhada. O que eles propõem é que essa informação seja passada para um software, que cria um modelo do ouvido médio e o melhor formato de prótese. Por fim, o modelo é passado para uma impressora 3D e produzido na própria sala de cirurgia.
Limitações
A pesquisa demonstra a viabilidade da técnica, mas também apresenta limitações. ;Nós não conduzimos nenhum teste funcional da prótese após a sua colocação em um cadáver. Não era nosso objetivo na época;, afirma Hirsch. ;Em uma cirurgia de sucesso, a perda de audição deve ficar abaixo dos 20 decibéis. Nós antecipamos que nossas próteses não devem sair pior do que as atuais. Com um pouco de sorte, sairão melhores.;
Caio Athayde aponta outro fator que pode ser um limitador da abordagem: o não uso de materiais biocompatíveis. ;As próteses atuais são feitas de titânio ou de minerais. Não há como imprimir esses materiais em escala tão pequena ainda;, diz. Hirsch e a equipe sabem dessa limitação e investigam uma solução que utilize produtos mais adequados. ;Neste momento, o material usado no nosso modelo não está liberado para uso em humanos. Essa é uma área de crescimento para toda a comunidade de impressão 3D;, ressalta.
A equipe também estuda meios de integrar a pesquisa ao uso de células-tronco. ;Estamos pesquisando células-tronco que possam se transformar em células ósseas. Nossa prótese funcionaria como suporte para o seu crescimento. Isso pode levar a uma solução permanente para a reconstrução dos ossículos;, conta o pesquisador. Caio Athayde ressalta que estudos nessa área são relativamente novos e que o trabalho norte-americano é bastante importante por estar entre os pioneiros. ;Tudo isso é bem recente, outros grupos que têm explorado essa área não têm mais de dois anos.;
* Estagiário sob supervisão da subeditora Carmen Souza
Pequenos notáveis
O ossículo mais externo é o martelo, que fica conectado ao tímpano. A bigorna fica no meio e conecta os outros dois ossos. Já as vibrações sofridas pelo estribo, o menor osso do corpo humano, causam ondas de pressão no ouvido interno, que as traduzem para os sons que ouvimos.
"Estamos pesquisando células-tronco que possam se transformar em células ósseas. Nossa prótese funcionaria como suporte para o seu crescimento. Isso pode levar a uma solução permanente para a reconstrução dos ossículos;
Jeffrey Hirsch, pesquisador da Universidade de Maryland e líder do estudo