Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Pesquisadores desenvolvem técnicas que ajudam evitar desperdício de comida

Pesquisadores da Filadélfia estudam estratégias contra o desperdício de comida, levando para a mesa pratos feitos com ingredientes que seriam jogados no lixo. Num mundo em que 815 milhões de pessoas não têm o que comer, o reaproveitamento, além de combater a fome, cria empregos e diminui o impacto ambiental dos resíduos



[SAIBAMAIS]Nos Estados Unidos, estima-se que os domicílios despejem no lixo 36 bilhões de toneladas de comida por ano. No Brasil, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, sigla em inglês), desde a colheita até o consumidor, o desperdício chega a 40%. Muitos ingredientes são descartados durante o processo produtivo embora estejam imperfeitos para o consumo apenas devido à aparência. ;A grande questão é: os compradores aceitarão produtos feitos de ingredientes que seriam destinados ao lixo? Uma pessoa comeria e pagaria por uma barra de granola feita de grãos residuais da produção de cerveja ou por um molho de vegetais não apresentáveis para venda nos supermercados?;, questiona Deutsch.

Ele argumenta que, apesar de os benefícios macroeconômicos e sustentáveis dos produtos excedentes parecerem claros, muitos consumidores são relutantes em adquiri-los, por associá-los ao lixo. Por isso, a equipe da Universidade de Drexel tentou decifrar como ocorre o processo de tomada de decisão quando a comunicação sobre esses alimentos é apropriada.

Testes


Os pesquisadores conduziram uma série de testes como uma primeira tentativa de compreender o que se passa na cabeça das pessoas em relação a essa nova categoria alimentar, que eles chamam de alimentos excedentes de valor agregado. Então, examinaram a influência de três fatores que poderiam influenciar a tomada de decisão: a descrição do produto, o rótulo e os benefícios do alimento para o consumidor e para a sociedade como um todo.

No primeiro estudo, os participantes foram apresentados a três categorias alimentares: convencional, orgânico e alimentos excedentes de valor agregado. Então, os pesquisadores mostravam para eles quatro diferentes produtos que usavam essas descrições e pediam para avaliá-los. Os voluntários consideraram que os alimentos excedentes de valor agregado eram mais valorosos para o meio ambiente, comparado à comida convencional, mas menos, em relação aos orgânicos. Esse resultado indicou que eles identificaram claramente a nova categoria, entendendo que era diferente de orgânico e de convencional.

O teste seguinte foi feito com nove rótulos para os alimentos excedentes de valor agregado: upcyled, atualizado, reciclado, adaptado, reprocessado, recuperado, não-processado, reutilizado e resgatado. Upcyled ganhou a preferência dos participantes, seguido por reprocessado. No último teste, os pesquisadores investigaram se os participantes consideravam que os benefícios do produto de valor agregado eram maiores para eles ou para a sociedade como um todo. Os voluntários afirmaram que consumir esse tipo de alimento geraria mais ganhos para o coletivo do que de forma individual.

Segundo Rajneesh Suri, professor da Faculdade de Engenharia Biomédica da Universidade de Drexel e coautor do artigo, publicado no The Journal of Consumer Behavior, as descobertas positivas do estudo são valorosas para os defensores da sustentabilidade, o mercado de alimentos e os acadêmicos. ;Ao explorar a aceitação dos consumidores e a preferência em potencial por produtos de valor agregado, essa pesquisa se torna uma das primeiras a tentar examinar, empiricamente, o processo de avaliação do consumidor para essa nova categoria de alimentos;, diz. O mais importante, segundo os pesquisadores, é que, ao identificar a apresentação ideal dos produtos que iriam parar no lixo, eles podem contribuir para aliviar de alguma forma a crise alimentar global.

;Alimentos excedentes de valor agregado podem ser percebidos como mais próximos dos orgânicos como categoria, encorajando a possibilidade de promovê-los a uma nova categoria que oferece benefícios à sociedade;, acredita Suri. Para ele, isso pode tornar os produtos lucrativos. ;Dependendo da comunicação que você faz a respeito deles, isso pode torná-los produtos premium, como ocorreu com os orgânicos;, diz.

"Ao explorar a aceitação dos consumidores e a preferência em potencial por produtos de valor agregado, essa pesquisa se torna uma das primeiras a tentar examinar, empiricamente, o processo de avaliação do consumidor para essa nova categoria de alimentos;
Rajneesh Suri, professor da Universidade de Drexel e coautor do estudo