Para que um planeta seja considerado habitável, ele precisa preencher alguns requisitos, como ter temperaturas estáveis e água na superfície. Buscar e decifrar essas particularidades é uma das tarefas de astrônomos e outros cientistas dedicados a explorar o espaço. Esses trabalhos resultaram na descoberta, por exemplo, da presença de gelo em Marte. Agora, com a ajuda de dados coletados pela espaçonave Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), um grupo de pesquisadores americanos chegou a detalhes da água sólida do planeta vermelho. A equipe conseguiu observar traços importantes de oito depósitos de gelo e detalhou o trabalho na última edição da revista Science.
;A extensão de gelo marciano e a profundidade foram previstas, em teoria, em pesquisas passadas. No entanto, a estrutura vertical (subterrânea) do gelo permanecia desconhecida, incluindo camadas, espessura e pureza;, conta ao Correio Colin Dundas, geólogo, pesquisador do Centro de Pesquisa Científica USGS, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo científico. A presença do gelo em um planeta pode afetar a sua geomorfologia, além de carregar consigo um registro da história do clima da região, característica que pode ajudar em previsões de transformações locais.
Dundas e sua equipe analisaram oito crateras da superfície de Marte com quantidades substanciais de gelo e condições íngremes, criadas por erosões. ;Sete estão localizados no hemisfério sul e o oitavo lugar é localizado no norte;, diz Dundas. Os cientistas analisaram imagens das regiões que foram coletadas ao longo de três anos pela sonda MRO. ;Mars Reconnaissance Orbiter é uma espaçonave lançada em 2005 pela Nasa com colaboração internacional. Ela nos ajudou a encontrar esses declives íngremes que expõem o gelo presente na região;, complementa o cientista.
Por meio da observação de rachaduras e ângulos inclinados, chegou-se à conclusão que as erosões analisadas são rasas ; com um a dois metros abaixo da superfície ; e que o gelo é consistente e forte. Os autores do estudo também destacam que existem poucas rachaduras na superfície das regiões analisadas, o que sugere uma formação não muito antiga. ;O gelo, em nossos locais de estudo, provavelmente foi depositado como neve em tempos geologicamente recentes;, ressalta Dundas.
As imagens também mostram pedaços maciços de rocha que caíram à medida que as erosões ocorreram, levando os pesquisadores a estimar que o gelo está se retraindo alguns milímetros a cada verão de Marte. Além disso, variações de cor sugerem a existência de camadas distintas. Para os cientistas, as ;folhas de gelo; provavelmente se formaram com a neve acumulada ao longo do tempo. ;Essas camadas nos ajudam a entender a estrutura vertical do gelo, como ele foi montado, e, no futuro, poderiam levar a informações sobre a história da queda de neve nessas regiões;, diz o autor.
A explorar
Mas há muito a explorar no planeta vermelho. A equipe ressalta, por exemplo, que os dados da sonda não permitem a identificação da estrutura das folhas de gelo e da cobertura rochosa. ;Continua desconhecido se o gelo a poucos metros da superfície tem as mesmas origem e idade que o mais profundo, porque o gelo superior é mais facilmente modificável e melhor adaptado ao clima recente;, pontua o artigo divulgado.Como o gelo só é visível onde o solo superficial foi removido, Dundas e sua equipe acreditam que é provável que a quantidade de água em forma sólida presente na superfície de Marte seja ainda mais extensa do que a que foi detectada por eles. Ainda assim, reforçam que os resultados do trabalho poderão ajudar na missão de levar astronautas ao planeta vermelho. ;Essas profundidades rasas tornam as folhas de gelo potencialmente acessíveis para exploração futura;, escreveram.