Vilhena Soares
postado em 20/01/2018 08:00
O solo contém milhares de micro-organismos, e essas substâncias podem contribuir consideravelmente para a ciência. Com o objetivo de desvendar esse vasto universo biológico, pesquisadores americanos coletaram amostras de terra em vários pontos do globo e esmiuçaram a composição delas. A análise abrangente rendeu um atlas composto por cerca de 500 espécies consideradas estratégicas por serem comuns e abundantes em todo o mundo. Os autores do estudo destacam que o trabalho, publicado na última edição da revista Science, pode ser utilizado para diversas aplicações, como técnicas de aperfeiçoamento da agricultura e a criação de medicamentos.
;Com essa pesquisa, começamos a abrir a caixa-preta e passamos a entender melhor os micróbios que vivem em nossos solos;, diz ao Correio Manuel Delgado-Baquerizo, principal autor do estudo e pesquisador pós-docente do Instituto Cooperativo de Pesquisa em Ciências Ambientais (CIRES, em inglês), da Universidade da Califórnia. O cientista explica que essas bactérias representam uma grande porcentagem da biomassa viva do planeta e são essenciais para os processos realizados pelo solo, como o desenvolvimento de nutrientes.
[SAIBAMAIS]Apesar de serem estudados há décadas, os micro-organismos que vivem no solo são pouco compreendidos devido ao número reduzido de espécies avaliadas por cientistas, diz Delgado-Baquerizo. ;A maioria das espécies permanece não descrita. Não temos registros genômicos existentes. Nos últimos 10 anos, temos trabalhado muito tentando identificar os principais padrões de biodiversidade bacteriana em todo o mundo ; por exemplo, tentando descobrir onde a biodiversidade é a mais alta. É incrível o quanto ainda não sabemos sobre os micro-organismos mais dominantes encontrados no solo.;
Na pesquisa atual, Delgado-Baquerizo e colegas coletaram amostras de solo de 237 locais distribuídos em seis continentes e 18 países, abrangendo toda uma gama de climas ; desertos, pastagens e zonas úmidas. Em seguida, utilizaram sequenciamento de DNA para identificar os tipos de bactérias encontradas em cada local e determinar quais espécies são compartilhadas em diferentes tipos de solo.
Os pesquisadores descobriram que apenas 2% de todos os grupos bacterianos ; ou cerca de 500 espécies individuais ; representam consistentemente quase metade das comunidades de bactérias do solo em todo o mundo. ;Os resultados foram, de alguma forma, surpreendentes. Um único grama de solo ; incluindo aquele do seu jardim ; contém tantos milhares de espécies de bactérias quanto as existentes em um deserto, por exemplo.;
Segundo Delgado-Baquerizo, a identificação de um grupo de bactérias como dominante e onipresente auxilia o direcionamento de estudos futuros. ;Nossa pesquisa reduz a imensa diversidade de bactérias do solo para uma lista das ;mais procuradas;, que orientará pesquisas sobre o estudo e a manipulação de micro-organismos que afetam o ciclo de nutrientes, a fertilidade do solo e outras funções ecológicas importantes;, explica.
Novas práticas
Marcia Reed Coelho, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, no Rio de Janeiro, também acredita que os resultados do estudo podem contribuir para novos trabalhos científicos. ;É um tipo de pesquisa trabalhosa, que envolve análise de um grande número de amostras, mas que é importante. Ter um grupo de organismos para serem analisados como base pode ser de grande ajuda para pesquisas futuras. É como se fosse feito um referencial para a pesquisa em micro-organismos do solo;, destaca.A agricultura, segundo a especialista, deve realmente ser uma das áreas mais beneficiadas pelo atlas. ;Podemos saber quais micro-organismos podem otimizar o plantio e, dessa forma, manipular a terra da melhor forma; fazer com que pastos tenham maior eficiência, evitando, assim, desmatar além do necessário;, ilustra. ;Assim como a medicina mostrou como a microbiota humana é importante para a saúde dos homens, ela também pode influenciar consideravelmente as plantas.;