Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Camada de ozônio se recupera, mas melhora ainda é irregular

A recomposição do filtro que protege o planeta tem ocorrido nos polos da Terra, mas não nas latitudes mais baixas, que são áreas populosas. As mudanças climáticas podem estar por trás dessa irregularidade



[SAIBAMAIS]Contudo, apesar desse sucesso, os cientistas europeus revelaram que o ozônio estratosférico não está se recuperando nas baixas latitudes, entre 60 Norte e 60 Sul, devido a declínios inesperados na camada que se localiza na parte baixa da estratosfera. ;O ozônio vem caindo seriamente no mundo desde 1980, mas, enquanto o banimento dos CFCs está levando a uma recuperação nos polos, o mesmo não parece ser verdade para baixas latitudes;, afirma Joanna Haigh, coautora do trabalho e codiretora do Instituto de Mudanças Climáticas e Ambientais do Imperial College Londres. ;O potencial para provocar danos nas latitudes baixas pode ser menor do que vimos nos polos antes de o Protocolo de Montreal ser assinado, mas a radiação UV é mais intensa nessas regiões e mais pessoas vivem aí;, observa.

A causa desse declínio não é certa, embora os autores sugiram algumas possibilidades. Uma é o fato de as mudanças climáticas estarem alterando o padrão da circulação atmosférica, fazendo com que mais ozônio seja levado dos trópicos. A outra possibilidade é que substâncias de vida muito curta (VSLSs, pela sigla em inglês), que contêm cloro e bromo, estejam destruindo o ozônio na baixa estratosfera. Os VSLSs incluem químicos usados como solventes e tintas. Um deles é utilizado, inclusive, para substituir os CFCs em produtos ;ozônio-friendly; (amigos da camada de ozônio).


Surpresa

;A descoberta do declínio de ozônio na baixa latitude é uma surpresa, já que nossos melhores modelos de circulação atmosférica não predizem esse efeito. Substâncias de vida muito curta podem ser o fator que falta nesses modelos;, acredita William Ball, pesquisador do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique que liderou a análise dos dados. Acreditava-se que essas substâncias não persistiriam muito na atmosfera a ponto de alcançar a altura da estratosfera e afetar o ozônio, mas, agora, mais pesquisa terá de ser feita.
Para conduzir a análise, a equipe desenvolveu novos algoritmos que combinam dados de satélite obtidos por diferentes missões internacionais, desde 1985. ;O estudo é um exemplo de um esforço concentrado para monitorar e entender o que está acontecendo com a camada de ozônio;, observa Ball.

Embora alguns bancos de dados tenham apontado previamente para o declínio do ozônio, a aplicação de técnicas avançadas e análises seriais revelou um padrão de longo prazo na queda do ozônio em altitudes e longitudes mais baixas da estratosfera. Os pesquisadores dizem que o foco, agora, deveria ser conseguir dados mais precisos sobre esse declínio e determinar o que provavelmente está provocando o fenômeno, por exemplo, examinando a presença de VSLSs na estratosfera.