Sara Sane*
postado em 13/02/2018 08:03
Mulheres obesas precisam de mais cuidados na prevenção do câncer de mama, segundo um estudo sueco do Instituto Karolinska, apresentado no encontro anual da Sociedade Radiológica da América do Norte. O trabalho mostrou que aquelas com índice de massa corporal (IMC) acima de 30 correm o risco de descobrir os tumores apenas quando eles já estão grandes e, portanto, mais difíceis de tratar e curar. Assim, os pesquisadores sugerem que pessoas com o perfil realizem a mamografia com mais frequência. Médicos brasileiros, porém, questionam essa recomendação.
Para realizar o estudo, os cientistas coletaram dados de mais de 2 mil mulheres diagnosticadas com câncer de mama em Estocolmo, na Suécia, entre 2001 e 2008. ;Realizamos essa pesquisa para entender por que algumas mulheres não são diagnosticadas até que o tumor esteja grande;, afirma Fredrik Strand, principal autor do trabalho. ;Examinamos muitas possíveis causas e descobrimos que o índice de massa corporal e a densidade mamográfica estão relacionadas a isso;, explica. Segundo o pesquisador, a descoberta de que o IMC elevado torna difícil a detecção dos tumores, mesmo nos exames, foi uma novidade.
Densidade
Os pesquisadores acompanharam as pacientes até 2015 e concluíram que tumores em mulheres com IMC elevado ou com a mamária densa não foram detectados até que já tivessem chegado a 2cm, o tamanho de um amendoim. Esse parâmetro é importante, pois é o que separa o estágio 1 do 2 da doença. Além disso, trata-se do tamanho em que o nódulo se torna palpável, o que favorece o diagnóstico precoce.
[SAIBAMAIS]O mastologista José Roberto Filassi, chefe do Setor de Mastologia da Divisão de Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), esclarece que a densidade da mama é o que dificulta o diagnóstico da doença e lembra que algumas mulheres não obesas também podem apresentar esse problema. ;A mama densa não tem sensibilidade, assim fica mais difícil rastrear o tumor. Então, quem precisa de uma vigilância maior são mulheres com a mama densa, sendo elas obesas ou não;, diz.
Por outro lado, já se sabe que o peso excessivo e o sedentarismo são fatores de risco para o câncer de mama, o que aumenta o alerta para mulheres que estão com índice de massa corporal elevado. ;A recomendação é que a pessoa tenha um peso corporal adequado para diminuir o risco do câncer;, diz Arn Migowski, epidemiologista e chefe da Divisão de Detecção Precoce do Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Estrogênio
A associação entre obesidade ou sobrepeso com o câncer de mama acontece porque a gordura transforma outros hormônios em estrogênio, ou seja, quanto mais gordura, maior concentração do hormônio. ;O estrogênio é um dos fatores que precisam estar presentes para que ocorra o câncer;, esclarece José Roberto Filasse.Segundo o Inca, a necessidade de fazer a mamografia é de uma vez a cada dois anos entre 50 e 69 anos, o que se aplica também às pessoas obesas. Entretanto, aquelas que fazem parte de grupos de risco precisam começar o rastreamento mais cedo e com maior frequência, de acordo com a recomendação médica. Mulheres com histórico familiar da doença (parentes de primeiro grau), aquelas com determinadas mutações genéticas e que já foram diagnosticadas com outros tumores malignos estão entre as com risco aumentado.
* Estagiária sob a supervisão da subeditora Carmen Souza