Ciência e Saúde

Experimento desenvolvido com células-tronco evita tumores em ratos

Testada em ratos, fórmula desenvolvida a partir de células-tronco evita tumores de mama, pulmão e pele. Segundo pesquisadores americanos, as cobaias que não são totalmente protegidas enfrentam versões mais amenas da doença

Vilhena Soares
postado em 16/02/2018 06:00
Testada em ratos, fórmula desenvolvida a partir de células-tronco evita tumores de mama, pulmão e pele. Segundo pesquisadores americanos, as cobaias que não são totalmente protegidas enfrentam versões mais amenas da doença

Em busca de formas de evitar o câncer, pesquisadores exploram alternativas imunoterápicas, como a aplicação de medicamentos antitumorais por vacina. Um grupo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, conseguiu resultados positivos utilizando essa estratégia em ratos. A fórmula protetiva desenvolvida por eles tem como base células-tronco pluripotentes induzidas, que foram criadas a partir do organismo das próprias cobaias. Ao ser exposta a três tipos comuns de cancro ; de mama, pulmão e pele ;, grande parte dos animais imunizados se manteve livre da doença. ;O que mais nos surpreendeu foi a eficácia da vacina na reativação do sistema imunológico para atingir o câncer;, conta ao Correio Joseph C. Wu, principal autor do estudo, divulgado na última edição da revista especializada Cell Stem Cell.

A equipe trabalha há sete anos nessa pesquisa. Em seu penúltimo estudo, publicado em 2014, na revista Nature Communications, o grupo mostrou propriedades imunogênicas (indução de uma resposta imunológica) nas células reprogramadas. ;Devido à nossa extensa experiência com essas células estaminais pluripotentes e com base em nossas pesquisas anteriores, imaginamos que poderíamos usá-las para aumentar o sistema imunológico em relação ao câncer;, conta Wu.

Na pesquisa atual, 75 ratos receberam versões da vacina e, quatro semanas depois, foram expostos a células cancerígenas da mama. Os cientistas constataram que 70% das cobaias imunizadas rejeitaram completamente as células doentes, enquanto as 30% restantes apresentaram tumores significativamente menores. A eficácia da vacina foi a mesma quando os cientistas repetiram o procedimento utilizando células de câncer de pulmão e de pele. ;As primeiras rodadas de vacinas foram as mais emocionantes. Ver os tumores regredindo ou sendo totalmente rejeitados nos deixou muito entusiasmados com o potencial dessa vacina para o câncer;, diz Wu.

Segundo o cientista, um dos maiores desafios das estratégias imunoterápicas do câncer é o número limitado de antígenos ; substâncias que, ao ser introduzidas no organismo, provocam a formação de anticorpos. Ao usar células modificadas por inteiro, eles conseguiram eliminar a necessidade de identificar apenas um antígeno ideal para atingir determinado tipo de câncer. ;Criamos um sistema imunológico com maior número de antígenos tumorais encontrados nessas células reprogramadas, o que torna nossa abordagem menos suscetível à evasão imunológica. Na verdade, as células pluripotentes parecem estimular o sistema de defesa a erradicar células tumorais. Isso permite que a vacina seja efetiva para diferentes tipos de câncer;, detalha Wu.

Fernando Sabino, oncologista clínico do Centro de Oncologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia (SBO), considera a estratégia promissora. ;É um estudo ainda embrionário, e essas pesquisas demoram um pouco para se tornar algo real, mas a estratégia de usar vários antígenos é algo que se mostra promissor, pois faz com que o sistema imunológico reconheça vários tipos de células. Dessa forma, ela se mostra eficaz para cânceres distintos;, explica.

O especialista destaca também que a pesquisa americana busca superar limitações das abordagens atuais. ;Temos usado estratégias de combate ao câncer por meio da estimulação do sistema imunológico porque sabemos que os tratamentos usados atualmente, como a radioterapia e a quimioterapia, agem nos tumores, mas deixam o sistema imune inativo. Sabemos também que a célula cancerígena engana o sistema imune, que não a reconhece e, dessa forma, impede sua eliminação;, justifica.

Reforço

Outra estratégia utilizada pela equipe de Wu foi combinar as células-tronco pluripotentes induzidas com um ;reforço; de imunidade: um trecho de DNA bacteriano chamado CpG, que, em trabalhos anteriores, se mostrou um agente em potencial para o combate de tumores e foi considerado seguro para uso em humanos. Os resultados da técnica também empolgaram os pesquisadores, que pretendem explorar mais a tecnologia. ;Mostramos eficácia e segurança de nossa vacina em modelos de ratos, mas o próximo passo será mostrar o mesmo para amostras humanas, em laboratório, antes de pensar em evoluir para ensaios clínicos;, adianta o autor.

A equipe acredita que as células-tronco pluripotentes induzidas poderão ser criadas a partir de células da pele ou do sangue de um paciente e serem administradas como uma vacina preventiva ou como um agente impulsionador após uma cirurgia de retirada de tumor, uma sessão de quimioterapia ou de terapia de radiação. ;Essa abordagem pode ter potencial clínico para prevenir a recorrência do tumor ou atingir metástases a distância;, complementa Wu.

Segundo Sabino, as imunoterapias disponíveis que são combinadas com a quimioterapia tiram ;a camuflagem; do tumor, permitindo que ele seja reconhecido. No caso da vacina americana, ainda é cedo para saber se essa estratégia surtirá efeito. ;Essa pesquisa é muito inicial, mas temos o caso de um medicamento imunoterápico para uso em tratamentos de quimioterapia em tumores de pulmão que foi lançado recentemente e obteve autorização para uso clínico nos Estados Unidos;, conta.

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