postado em 21/03/2018 17:53
Um grupo de estudantes de Campinas, no interior paulista, desenvolveu um método de baixo custo para tratar água de cisternas no semi-árido brasileiro. O sistema, desenvolvido por três alunos da Escola Técnica Estadual (Etec) Bento Quirino, produz cloro a partir da eletrólise ; processo químico feito com eletricidade ; de uma solução de água com sal. O protótipo prevê ainda o uso de energia solar para o processo, contemplando comunidades que não só dependem da água da chuva, mas que também não tem acesso ao fornecimento de eletricidade.
A ideia foi premiada, no ano passado, pelo Prêmio Jovem da Água de Estocolmo, levando Beatriz Ruscetto da Silva, Matheus Henrique Cezar da Silva e Gabriel Gertrudes Trindade para conhecer a capital da Suécia. Lá, eles tiveram a oportunidade de conhecer projetos semelhantes de todo o mundo, além de ouvir opiniões qualificadas sobre a própria proposta. ;Foi surreal, até hoje parece que foi só um sonho. Nenhum de nós três já tinha viajado de avião e nessa viagem ficamos mais de 10 horas no avião. O pessoal da organização do prêmio nos tratou muito bem, com muito amor e até hoje somos amigos desse pessoal;, lembra Beatriz sobre a experiência.
Durante a viagem, o grupo teve a oportunidade de conhecer projetos de outros países e se impressionou com o que foi desenvolvido pelos norte-americanos Ryan Thorpe e Rachel Chang. O sistema elaborado pelos estudantes identifica na água as bactérias sighella, da cólera e da salmonela, mais rápido do que os métodos convencionais e também permite a eliminação imediata dos micro-organismos.
Foi o contato com outro projeto, de um colega de classe, que deu início ao desenvolvimento do STAC-IBR, que ganhou o prêmio sueco. ;A ideia nasceu graças ao projeto do nosso amigo Lucas Gabriel: ele fazia eletrólise mas descartava o gás cloro. Pensamos logo em como utilizar o cloro da eletrólise. A primeira ideia foi em tratar água. A partir daqui começamos a pesquisar como isso seria feito e para quem seria feito;, conta a estudante.
Para conseguir desenvolver o protótipo, os estudantes do curso técnico em eletrônica tiveram que investir em conhecimentos fora das disciplinas convencionais. ;Não foi nada fácil;, enfatiza Beatriz. ;Tivemos que aprender química em pouco tempo. Antes do projeto nunca havíamos entrado em um laboratório de química, aprendemos muito;.
O novo desafio envolveu também o estudo das condições atmosféricas. ;Tivemos dificuldade nos testes porque não chovia muito e precisávamos da água da chuva. Outra dificuldade foi estar em São Paulo e fazer um projeto inteiramente dedicado ao Nordeste brasileiro;, comenta.
Apesar da premiação, o projeto ainda precisa ser testado no local para passar pelos ajustes necessários à implantação. Segundo Beatriz, seria importante, por exemplo, verificar a fixação do equipamento no solo. ;E se as altas temperaturas influenciariam muito no processo e, principalmente, como a população se adaptaria;, enumera.
Mas agora que deixaram o ensino médio e entraram no superior, os estudantes têm menos tempo para dedicar ao projeto e tentar viabilizar o uso prático do equipamento. ;Como o projeto começou durante o ensino médio, ficávamos o dia todo juntos. Agora cada um está em uma universidade diferente, atrás de trabalho. Os encontros diminuíram;, conta Beatriz, que agora estuda na Faculdade de Química na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.