Tarcila Rezende*
postado em 09/04/2018 15:26
Manchas vermelhas na pele, que vem acompanhada de coceira, descamação e desconforto, muito provavelmente pode ser confundida com alergia ou outras doenças de pele mais comuns. O que algumas pessoas não sabem é que esses sintomas também podem indicar uma doença auto-imune chamada psoríase. O Correio conversou com alguns pacientes e especialistas no assunto para auxiliar na descoberta e aceitação da doença.
A psoríase é uma doença inflamatória, sem cura e não contagiosa que afeta principalmente a pele e as articulações. Ela pode surgir em qualquer idade, mas é menos frequente entre os 30 e 50 anos. Geralmente, pessoas que têm a doença possuem uma predisposição genética para desenvolvê-la. Que é o caso da estudante de Engenharia Civil, Bruna Araújo Gonçalves, que descobriu que tinha a doença depois de ter caspas que não se curavam, e sua mãe e avô também tinham psoríase.
A doença também está muito ligada ao estresse emocional e pode aparecer após episódios de infecções, especialmente na garganta. A dermatologista Mariana Carvalho Costa é médica do Ambulatório de Psoríase do Hospital Universitário de Brasília (HUB/UnB) e conta que as principais queixas dos pacientes psoriásicos são lesões avermelhadas e com descamação por todo o corpo, especialmente couro cabeludo, joelhos e cotovelos, associadas ou não a coceira.
De acordo com a dermatologista, a intensidade das lesões variam muito, assim como a interferência na qualidade de vida, pois cada paciente apresenta uma forma da doença e a "encara" de um jeito. O engenheiro Údine Rodrigues de Oliveira tem psoríase desde os 4 anos e desde então recebeu diversos diagnósticos diferentes ao longo dos anos, como Dermatite Atópica, Dermatite de Contato, Desidrose , até finalmente descobrir que ele tinha psoríase. Údine Oliveira conta que a doença não tem nenhuma influência negativa em sua vida social, pois desde cedo ele soube lidar. Mas as lesões acabam por dificultar sua vida profissional. ;Como minha psoríase se manifesta mais nas minhas mãos, ela atrapalha bastante no meu trabalho, e também quando eu pratico esportes;, relata.
De uma forma geral a psoríase afeta a autoestima e faz a pessoa encarar de frente as manchas, pois estas estão na pele e, mesmo nos casos mais leves, pode trazer grande sofrimento a alguns paciente. A psicóloga Fátima Rodrigues afirma que nestes casos, a melhor forma de lidar é buscar conhecimento sobre a doença, fazer os tratamentos e jamais se isolar de amigos e familiares. "Na medida que a gente vai trabalhando a nossa autoestima, vai perdendo o pouco da vergonha, e de acordo com que o paciente vai se conhecendo e se tratando e se sentindo mais confiante. E isso diminui o stress e ansiedade, e como consequência, as lesões começam a melhorar", explica.
Mas a vida com psoríase nem sempre é fácil e sempre existem fases que tornam a aceitação das lesões mais complicadas. Nos últimos dois anos, a estudante Bruna Araújo morou em lugares muito frios, como na Irlanda, e não conseguia fazer o tratamento adequado e acabou tendo uma piora nas lesões. "Com isso eu passei a ter muita vergonha de usar roupas que mostrem minhas pernas, braços e costas, onde ficam a psoríase e me incomoda bastante, além das pessoas ficarem me perguntando o que é as manchas;, conta Bruna.
Tratamento
De acordo com a dermatologista Mariana Castro, como tratamento vai variar de acordo com a gravidade das lesões, também pode variar desde o uso de medicações locais (cremes e pomadas) até o uso de medicações sistêmicas como agentes imunossupressores e imunobiológicos. ;O diagnóstico correto é o primeiro passo, pois muitos pacientes passam anos sendo tratados erroneamente como "alergia" e fazendo uso de medicamentos que podem inclusive piorar a doença. Para isso, é fundamental procurar um médico dermatologista, que indicará o tratamento adequado para cada caso. E que, embora não tenha cura até o momento, pode ser bem controlada;, esclarece Mariana
Uma boa notícia é que no Distrito Federal, o HUB e o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) são referências no tratamento da psoríase, e contam com ambulatório específico para pacientes portadores da doença. Geralmente, lá são tratados pacientes com feridas moderadas e graves, que vêm encaminhados de outras unidades de saúde.
Uma escolha muito importante para ajudar a prevenir e também cuidar da doença é procurar ajuda na psicoterapia. A psicóloga Fátima Rodrigues explica algumas doenças de pele pode aparecer com pessoas que têm dificuldade de expor suas emoções e suas dificuldades, ou até mesmo nem reconhece que existe um conflito. ; Então esses esses tipos de doenças são uma forma do organismo mostrar o que está acontecendo de errado e que o corpo precisa de atenção. E o psicólogo vai trabalhar com as feridas que não estão visíveis;, explica Fátima.
O sol como aliado
Outro fator determinante para o tratamento da doença é o sol, por ser um ótima fonte vitamina D e promover o bem-estar. Tomar sol em quantidade leve a moderada tem ação imunomoduladora e, por isso, pode sim ajudar a controlar as lesões. No entanto, a Dra. Mariana Costa alerta para o uso em excesso, pois se tomar sol demasiadamente pode agravar o quadro e causar mais feridas. ;É necessária avaliação médica para determinar se há necessidade, o tempo e a frequência da exposição em cada caso;, explica a dermatologista.
Famosas com psoríase
Esta doença rara e sem cura chega a atingir apenas 1% a 3% da população mundial, e ainda assim, alguns famosos não conseguiram ficar livre da psoríase.
Algumas artistas já se pronunciaram sobre ter psoríase e também foram vistas com manchas na pele característica da doença. A socialite Kim Kardashian, a cantora Cyndi Lauper e a atriz norte americana Ciena Rae são as famosas que mais lutam contra o preconceito e falam abertamente sobre as dificuldades do dia a dia de conviver com a psoríase.