Ciência e Saúde

Ondas de calor marinhas estão mais quentes, mais longas e mais frequentes

De 1925 a 2016, a frequência de ondas de calor marinhas aumentou em média 34% e a duração de cada onda de calor aumentou em 17%. Extremo climático nos sistemas atmosféricos e oceânicos podem ter impactos devastadores

Jacqueline Saraiva
postado em 11/04/2018 13:41
Mar da Polinésia
As ondas de calor marinhas aumentaram ao longo do século, em duração e intensidade, segundo um estudo de pesquisadores do ARC Centre of Excellence for Climate Extremes (CLEX) e do Institute of Marine and Antarctic Studies (IMAS). A pesquisa, publicada na revista especializada Nature Communications, mostra que o extremo climático de calor nos sistemas atmosféricos e oceânicos têm impactos devastadores e de longo prazo nos ecossistemas.

Os pesquisadores usaram uma variedade de conjuntos de dados de observação para revelar a tendência de aumento das ondas de calor marinhas, combinando dados de satélite com um conjunto de dados longo do século, retirados de navios e várias estações de medição terrestres.

[SAIBAMAIS]De 1925 a 2016, a frequência de ondas de calor marinhas aumentou em média 34% e a duração de cada onda de calor aumentou em 17%. Juntos, isso levou a um aumento de 54% no número de dias de ondas de calor marinhas a cada ano, em todo o planeta.

A explicação para o fenômeno é que as correntes oceânicas movem a água ao redor do oceano e algumas delas - incluindo a Corrente do Golfo e a Corrente do Leste da Austrália - transportam água quente para regiões mais frias. Se essas correntes ficam mais fortes que o normal, acumulam água quente em uma determinada região e disparam uma onda de calor marinha.

"Da mesma forma, se a atmosfera é muito quente e - em particular - se há céu limpo e ventos fracos, as camadas superiores do oceano podem aquecer muito rapidamente, provocando também uma onda de calor marinha", explica a pesquisa.

O estudo também calculou a contribuição separada de diferentes fontes de variabilidade natural nos oceanos - como o El Niño - Oscilação Sul (ENOS), Oscilação Multidecadal Atlântica e Oscilação Decadal do Pacífico. Enquanto eles descobriram que os fenômenos naturais desempenhavam um papel na probabilidade de onda de calor na escala regional, eles não afetavam as tendências crescentes de longo prazo.

A frequência de onda de calor aumentou para 97% da superfície global do oceano, com o Atlântico Norte a única exceção. A maioria das áreas está observando 0,3-1,5 mais ondas de calor por ano (sombreamento vermelho) em 1987-2016 em comparação com 1925-54

Pouca atenção em noticiários

Assim como as ondas de calor em terra, as ondas de calor marinha são um período prolongado de temperaturas anormalmente altas, causando impactos consideráveis no ambiente marinho. Os pesquisadores relataram que o tema tem recebido pouca atenção nos notíciarios, o que prejudica ainda mais a execução de planos de ação para reduzir os danos aos ecossistemas marinhos.

Eles citam como exemplo a Grande Barreira de Corais, que viu quatro eventos massivos de branqueamento de corais nos últimos anos causados pela exposição prolongada a altas temperaturas da superfície do mar. A onda de calor marinha mudou o ecossistema de dominado por algas marinhas kelp para ser dominado por macroalgas marinhas (Seaweed), causando desequilíbrio em outras espécies. "Essa mudança permaneceu mesmo depois que a temperatura da água voltou ao normal", afirmou o estudo.

Em 2012, uma onda de calor marinha no Golfo do Maine levou a um aumento de lagostas, mas, também, a uma queda nos preços que prejudicou seriamente os lucros do setor. As águas quentes persistentes no Pacífico Norte, de 2014 a 2016, levaram ao fechamento de pescarias, ao encalhe em massa de mamíferos marinhos e à proliferação de algas nocivas ao longo das costas. Essa onda de calor até mudou os padrões climáticos de grande escala no noroeste do Pacífico.

O caso mais recente, segundo a pesquisa, a intensa onda de calor marítima da Tasmânia em 2016, levou a surtos de doenças e diminuiu as taxas de crescimento nos setores da aquacultura.

O gráfico mostra o número global de dias de ondas de calor por ano de 1982 a 2016 com (linha preta) e sem (vermelho) a influência do ENSO incluído. Enquanto a remoção do impacto do ENSO amortece alguns dos picos nos dias de ondas de calor marítimas, a tendência crescente permanece

Definição de onda recentemente aprovada

O estudo quantifica, pela primeira vez, as mudanças a longo prazo na frequência e no comprimento das ondas de calor marítimas à medida que o clima se aquece. Foi usada uma definição de onda de calor marítima que foi recentemente aprovada por um grupo de trabalho internacional, como explicou o principal autor do estudo , Dr. Eric Oliver , professor assistente em Oceanografia Física na Universidade de Dalhousie, no Canadá.

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