Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Dia Mundial do Meio Ambiente pede medidas contra poluição por plástico

Mais de 100 países se uniram ao debate proposto pelo Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano e se comprometeram com atividades, como mutirões de limpeza de praias e florestas, e anúncios de políticas públicas voltadas ao descarte e consumo responsável do plástico

A imagem da periferia de Taimur Nagar, em Nova Délhi, é dantesca. As centenas de milhares de objetos plásticos espalhadas no curso do que um dia foi um canal, entre casas improvisadas e muita sujeira, são a realidade dos moradores de uma das cidades mais poluídas do mundo, um dos bolsões de pobreza na Índia. O manto de resíduo plástico - composto por sacolas plásticas, embalagens de alimentos e outros restos, que chegam alí por meio de canos de águas residuais - é tão denso na água que a impressão é de que uma pessoa possa até atravessá-lo caminhando, como se estivesse em uma rua pavimentada.

O problema causado ao meio ambiente por conta da poluição por plástico é uma realidade de vários países, especialmente na Ásia. A situação é tão dramática que a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu, um dia antes do Dia Mundial do Meio Ambiente, que sejam tomadas medidas contra o uso de sacolas plásticas. É apenas uma parte do desafio global para conter as graves consequências da poluição dos oceanos, que aumenta a cada ano.

O tema da ONU é a hastag #AcabeComAPoluiçãoPlástica, uma maneira de chamar a atenção da sociedade para reduzir a produção e o consumo excessivo de produtos plásticos descartáveis. Segundo as Nações Unidas, neste ano, a data soma esforços à campanha #MaresLimpos, para combater o lixo marinho e mobilizar todos os setores da sociedade global no enfrentamento deste problema, que se não for solucionado poderá resultar em mais plástico do que peixes nos oceanos até 2050.

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Mais de 100 países se uniram ao debate proposto pelo Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano e se comprometeram com atividades, como mutirões de limpeza de praias e florestas, e anúncios de políticas públicas voltadas ao descarte e consumo responsável do plástico.

O pedido de um planeta sem poluição por plásticos é acompanhado pelo apelo por medidas mais audazes. "Se os padrões atuais de consumo continuarem, em 2030 a produção anual de plástico será de 619 milhões de toneladas em nível global", advertiu a agência. O resultado do consumo excessivo de plásticos e da má gestão dos resíduo faz com que, a cada ano, sejam recolhidos dos oceanos cerca de 13 milhões de toneladas de plásticos, segundo a agência do Meio Ambiente da ONU, em uma declaração emitida em Lima.

Calcula-se que a cada ano são consumidas 5 trilhões de sacolas de plástico no mundo. A cada minuto são compradas 1 milhão de garrafas plásticas e 90% da água engarrafada contêm microplásticos, denuncia a ONU Meio Ambiente. Metade do plástico consumido no mundo é descartável e ao menos 13 milhões de toneladas vão parar nos oceanos anualmente, afetando 600 espécies marinhas, das quais 15% estão ameaçadas de extinção.

Para o diretor executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim, este é um momento crucial para reverter a maré de poluição global. ;Precisamos encontrar soluções melhores e mais rápidas do que nunca. Desistir não é uma opção para nós. Agora é a hora de agir juntos - independentemente da nossa idade - pelo bem do nosso planeta;, disse, em nota.

Ações em Brasília

Na capital federal, a data será marcada com o início do 1; Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, que será realizado até quinta-feira (7/5). Especialistas estrangeiros e brasileiros se reúnem no evento, para apresentar e debater as melhoras práticas e tecnologias usadas para o gerenciamento de resíduos sólidos.

O presidente do Instituto Lixo Zero Brasil e coordenador do evento, Rodrigo Sabatini, disse que o objetivo do congresso é mostrar para as prefeituras que podem adotar uma política de lixo zero. ;Lixo zero quer dizer que vamos fazer de tudo para que os resíduos não sejam enviados para aterros. Vamos reciclar, compostar, reduzir;.

Índia, a anfitriã do lixo plástico

A Índia é o país anfitrião do Dia Mundial do Meio Ambiente. E razões não faltam. Pelas ruas de Taimur Nagar, por exemplo, cães, porcos, galinhas, cabras, vacas e pessoas buscam comida entre o plástico. Crianças são vistas todos os dias em busca de brinquedos, como bonecos ou bolas de futebol na cidade que está situada entre dois luxuosos bairros residenciais, Taimur Nagar é um dos bolsões de pobreza da capital indiana.

Moradores relatam que viver nesta periferia, assim como em toda a área pobre da Índia, é um inferno. "Podem ver o quão ruins são as condições aqui. Nós nos afogamos no plástico", afirmou Bhola Ram, um morador entrevistado pela Agência France Presse.

O governo indiano colocou funcionários hoje para um dia dedicado à conscientização sobre o plástico. A programação prevê a limpeza das praias, uma exposição sobre tecnologias verdes, instalações artísticas. O engenheiro Rajagopalan Vasudevan criou, inclusive, um processo para triturar o plástico e utilizá-lo na construção de estradas. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, prometeu limpar o país antes do fim de seu mandato, em 2019.

Números do governo apontam que a Índia gera aproximadamente 5,6 milhões de toneladas de resíduos plásticos por ano. Em Nova Délhi, as sacolas de plástico passaram a ser proibidas em 2009, medida que foi posteriormente estendida às embalagens plásticas e outros objetos de uso único feitos com este material. Uma pesquisa recente da Organização Mundial de Saúde (OMS), 14 das 15 cidades com pior qualidade do ar do mundo estão na Índia. Nesse ranking, Délhi melhorou um pouco sua posição, passando da cidade mais poluída em 2014 para ocupar o sexto lugar.

A lei parece distante da prática, no entanto, já que as embalagens plásticas seguem como principal meio usado pelos indianos para transportar suas mercadorias. Em Taimur Nagar, o clima é de resignação à pobreza e à sujeira. Na temporada de chuvas, as casas chegam a ficar inundadas pelo esgoto. As crianças têm crises constantes de diarreia e malária. É um triste retrato das desigualdades no sul da Ásia.


Plástico nunca se degrada por completo

O plástico é feito, em sua maioria, de polietileno, um polímero derivado do petróleo que demora ao menos 500 anos para ser decomposto. Este tipo de material nunca se degrada por completo: na decomposição, apenas se quebra em pedaços cada vez menores, até mesmo no caso de plásticos biodegradáveis, que apenas se diferenciam do primeiro por se quebrarem mais rapidamente.

O destino final é quase sempre o oceano. São mais de 5 trilhões de pedaços de plástico flutuando em mares. Outras 8 milhões de toneladas, segundo cientistas, são despejadas no oceano todos os anos, na forma de garrafas, embalagens e outros resíduos plásticos carregados pelos rios e pela chuva. No alto-mar, as embalagens ficam circulando durante anos, até que, levados pelas correntezas, param em praias ou se juntam a uma das seis gigantescas "manchas de lixo" que existem nas regiões centrais dos Oceanos Pacífico, Atlântico e Índico.

Milhares de vidas marinhas são vítimas todos os dias do plástico. Baleias, golfinhos, tartarugas, aves, focas e diversos outros morrem após a ingestão desses produtos. Já no fundo dos oceanos e mares ou misturado à água e à areia de todas as praias do mundo, o inimigo é quase invisível ao olho humano: os microplásticos, partículas microscópicas resultantes da decomposição do plástico, se misturam aos plânctons (conjunto dos organismos que vivem dispersos nas águas doce, salobra e marinha) e acabam por contaminar a cadeia marinha, que chega até os seres humanos. os efeitos ainda são desconhecidos à saúde.

Baleia morta com 80 sacolas plásticas

Outro símbolo da luta contra a poluição por plástico foi a baleia morta na semana passada na Tailândia depois de ter engolido mais de 80 sacolas plásticas, perto da fronteira com a Malásia, segundo informou o ministério da Marinha. A Tailândia é um dos países do mundo onde mais se usa sacolas plásticas, causando todos os anos a morte de centenas de criaturas marinhas que vivem perto das populares praias do sul do país.


Uma equipe de veterinários tentou salvar a baleia, mas não obteve sucesso. Na necropsia, os especilistas evidenciaram que ela tinha em seu estômago mais de 80 sacolas pesando cerca de oito quilos. A baleia chegou a vomitar algumas sacolas durante a tentativa de salvamento, de acordo com Thon Thamrongnawasawat, biólogo da Universidade Kasetsart, de Bangcoc. Segundo ele, ao menos 300 animais marinhos, entre baleias, tartarugas e golfinhos, morrem todos os anos nas águas tailandesas por engolir resíduos plásticos.

Sobre o Dia Mundial do Meio Ambiente

O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado todos os anos em 5 de junho. Segundo as Nações Unidas, a data é usada para promover a conscientização e ação em todo o mundo em relação ao meio ambiente. Ao longo dos anos, tornou-se uma das maiores plataformas globais de divulgação pública, celebrada por milhões de pessoas em mais de 100 países. O dia é celebrado de inúmeras maneiras, desde ações de limpeza de praia e plantio de árvores até a convocação de funcionários e parceiros para se envolverem e fazerem a sua parte. É também um ótimo momento para mostrar sua contribuição para a sociedade.

Com informações da France Presse e da Agência Brasil