postado em 17/07/2018 06:53
Tratada como abordagem promissora e revolucionária para a cura de doenças como cânceres, HIV e hemofilia por meio de edição genética, a técnica CRISPR-Cas9 pode não ser tão precisa e causar mais danos às células quanto o imaginado. O alerta foi feito ontem por pesquisadores britânicos na versão on-line da revista Nature Biotechnology. Segundo eles, usado em experimentos com células de camundongos e humanas, o procedimento causou ;frequentemente; mutações genéticas ;extensas;.
;Esta é a primeira avaliação sistemática de eventos inesperados resultantes da edição CRISPR-Cas9 (;) A pesquisa mostrou que mudanças no DNA foram seriamente subestimadas;, disse Allan Bradley, do Instituto Wellcome Sanger, na Inglaterra, e coautor do estudo.
[SAIBAMAIS]As mutações detectadas pela equipe de pesquisadores não se mostraram prejudiciais nem benignas. Eles relatam ter encontrado ;grandes rearranjos genéticos, como supressões e inserções de DNA; nas células estudadas. Segundo eles, essa condição pode levar à ativação ou à desativação de genes importantes do corpo humano. Também preocupa o fato de os danos aos DNA causados pela técnica de edição de genoma não terem sido acusados em testes padrões.
Devido aos resultados, Bradley recomenda prudência nos futuros experimentos. ;É importante que qualquer um que esteja pensando em usar essa tecnologia para a terapia genética proceda com cautela e procure cuidadosamente verificar os efeitos prejudiciais;, ressaltou, em comunicado.
Mais investigação
A CRISPR-Cas9 permite que se insira, remova e corrija uma sequência defeituosa em uma cadeia de DNA de uma célula com precisão. As CRISPRs ; Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas ; são parte do sistema de defesa imunológica em bactérias, usadas para identificar o local exato no genoma em que o corte deve ser feito.
Por sua vez, a Cas9 é uma proteína usada como ;tesoura; para cortar o gene defeituoso, que, então, é substituído ou fixado pelo mecanismo de reparo de DNA da própria célula. Anteriormente, as preocupações de segurança com relação à técnica eram voltadas principalmente para a baixa probabilidade de que a Cas9 cortasse o genoma em locais diferentes do alvo pretendido.
Para Francesca Forzano, consultora em genética clínica do Guy;s e St Thomas; NHS Foundation Trust, agora, a pesquisa britânica mostra que a CRISPR-Cas9 ;é muito menos segura do que se pensava; e que as técnicas de monitoramento de segurança ;não são totalmente adequadas;. Segundo a especialista, que não participou do estudo, mais pesquisas são necessárias antes que qualquer aplicação clínica do método seja considerada.
Robin Lovell-Badge, do Instituto Francis Crick, um centro de pesquisa biomédica em Londres, acredita que ;os resultados não dão motivo para pânico ou para perder a fé nos métodos quando são realizados por aqueles que sabem o que estão fazendo;. Apresentada pela primeira vez há cerca de seis anos, a técnica é cogitada para receber um prêmio Nobel.
Até agora, pesquisadores usaram o procedimento para melhorar a audição em camundongos que estavam ficando surdos e para consertar uma mutação causadora de doenças em embriões humanos clonados em estágio inicial. Para a equipe britânica, porém, as novas descobertas geram ;implicações de segurança;.