Ciência e Saúde

Peixe meio-crioulo está mais ameaçado de extinção por aquecimento global

Alvo da pesca comercial, o mero-crioulo pode ter o habitat de acasalamento reduzido em função do aquecimento global. Espécie é muito comum nos mares do Caribe e da América do Sul

postado em 21/07/2018 07:00
O animal faz agregações de desovas, quando milhares de peixes se reúnem para acasalar: declínio da área pode chegar a 80% em 2100
Solitário e territorialista, o mero-crioulo é um dos mais icônicos peixes dos mares caribenhos e do litoral sul-americano, inclusive do Brasil. Dispensa a companhia de animais marinhos, mas não pode ver mergulhadores que se aproxima para nadar ao lado deles. Contudo, o animal está severamente ameaçado de extinção. Se a pesca foi, por muito tempo, seu pior inimigo, agora soma-se a ela outra ameaça. Calcula-se que, por volta de 2100, o habitat de acasalamento do Epinephelus striatus tenham sofrido declínio de mais de 80% devido a um fenômeno que não afeta apenas a superfície da Terra, mas também os oceanos: o aquecimento global.

[SAIBAMAIS]O sucesso reprodutivo desse animal depende muito dos eventos chamados agregações de desovas, onde centenas de milhares de peixes se reúnem em uma área para acasalar. ;Esses encontros em massa também fizeram com que eles se tornassem alvo fácil da pesca comercial, fato que os colocou na lista de espécies ameaçadas;, diz Brad Esrima, cientista marinho da Universidade do Texas e coautor do estudo, publicado na revista Diversity and Distributions. Em meados da década de 1990, os Estados Unidos baniram a pesca do mero-crioulo. Cuba e República Dominicana restringiram a atividade no período das agregações de desova, entre dezembro e fevereiro, e outras ilhas caribenhas adotaram medidas semelhantes.

Os conservacionistas comemoram o fato de as populações desse peixe recifal terem se estabilizado em algumas áreas do Caribe. Contudo, temem que os esforços não sejam suficientes para fazer o mero-crioulo desaparecer da natureza e ficar restrito ao cativeiro até o fim do século. ;As agregações de desovas são áreas críticas para a sobrevivência da espécie. Se o peixe deixar de migrar para esses locais de acasalamento porque a água está muito quente, as ações de proteção direcionadas não terão efeito;, diz Brad Esrima.

Impacto disseminado

Não são apenas os animais em período de reprodução que enfrentam as ameaças do aquecimento: com o branqueamento dos recifes de corais, os meros estão perdendo o habitat. ;As regiões naturais dos peixes que não estão na fase de reprodução também estão escassas e devem cair 45% até 2100;, ressalta o cientista. ;Para compreender verdadeiramente o impacto do clima nos peixes, precisamos saber como as mudanças climáticas influenciarão o estágio mais vulnerável da vida, que é o momento da desova. Se esse ciclo da vida estiver ameaçado, a espécie como um todo estará ameaçada;, completa Rebecca G. Asch, professora de biologia da Universidade East Carolina e uma das autoras do artigo.

Ela lembra que o mero-crioulo também desempenha um importante papel na saúde geral do ecossistema marinho porque grandes predadores, como tubarões, se alimentam desse animal. Por sua vez, tubarões-baleias e arraias consomem os ovos. ;A perda desses importantes eventos tem impactos negativos em toda a cadeia alimentar e sobre os ecossistemas.; Há uma esperança, contudo. Se ações de mitigação das mudanças climáticas forem colocadas em prática, a queda no habitat reprodutivo será de 30%, e não de 80%.

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