Ciência e Saúde

Ouvir músicas de ioga antes de dormir pode evitar complicações cardíacas

Fato foi observado em estudo indiano com 149 voluntários

Vilhena Soares
postado em 08/09/2018 08:00
Ilustração de uma mulher dormindo e ouvindo música no celularRelaxamento, estimulação da memória, alívio de dores, melhora do humor. Os efeitos da música sobre o corpo humano são alvo de investigações científicas há muito tempo. Pesquisadores indianos podem aumentar a lista de indicações. Em experimento com mais de 100 pessoas, eles identificaram que, ouvidas antes de dormir, músicas usadas na ioga podem ajudar a saúde cardíaca. Os detalhes do trabalho foram apresentados no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em Monique, na Alemanha.

Em pesquisas anteriores, os investigadores haviam notado que a música reduz a ansiedade em pacientes com problemas cardíacos. A equipe decidiu, então, analisar voluntários sem as complicações e ver se as canções geravam efeitos semelhantes. O estudo contou com 149 pessoas com idade média de 26 anos. Elas participaram de três sessões, em noites separadas, antes de dormir: com música de ioga, com música pop e sem música. Em cada sessão, a variabilidade da frequência cardíaca foi mensurada cinco minutos antes da música ou do silêncio, por 10 minutos durante a música/silêncio e cinco minutos depois. Os voluntários também tiveram os níveis de ansiedade avaliados antes e depois de cada sessão.

Os pesquisadores descobriram que a variabilidade da frequência cardíaca dos participantes aumentou durante a música de ioga, diminuiu nas canções pop e não mudou significativamente no silêncio. ;Já usamos a música como terapia em nosso hospital e, nesse estudo, mostramos que a música de ioga tem impacto benéfico na variabilidade da frequência cardíaca antes de dormir;, ressalta, em comunicado, Naresh Sen, autor do estudo e cardiologista do Hospital Hridaya Ganesha, em Jaipur, na Índia.

O cientista explica que a frequência cardíaca alta é extremamente positiva porque, quando baixa, está associada a um risco de 32% a 45% maior de ocorrência de um primeiro evento cardiovascular. Para quem já teve complicação, a baixa variabilidade da frequência cardíaca aumenta o risco de eventos subsequentes e morte. Já a queda está ligada a inflamações, causadas por falha do sistema nervoso.

;O ritmo cardíaco do corpo muda como resposta normal aos modos de lutar ou fugir ou de descansar ou digerir. Esses estados são regulados pelos sistemas nervoso simpático e parassimpático, respectivamente, que, juntos, compreendem o sistema nervoso autônomo. A alta variabilidade da frequência cardíaca mostra que o coração é capaz de se adaptar a essas mudanças. Por outro lado, a baixa variabilidade indica um sistema nervoso autônomo menos adaptativo;, complementa Sen.

Complemento

Os investigadores também detectaram que os níveis de ansiedade caíram significativamente após o uso de músicas de ioga, aumentaram significativamente após a música pop e aumentaram após a sessão sem música. Além disso, os participantes sentiram-se significativamente mais positivos depois da música de ioga. ;Ouvir melodias suaves antes de dormir é uma terapia barata e fácil de implementar que não pode causar danos;, reforça Sen.

O cientista ressalta que, apesar de os resultados terem sido extremamente positivos, terapias holísticas, como o uso de músicas relaxantes, não podem substituir outras intervenções baseadas em evidências e devem ser usadas como complemento. ;A ciência pode nem sempre ter concordado, mas os indianos, há muito, acreditam no poder de várias terapias além dos medicamentos como modo de tratamento de doenças. Esse é um pequeno estudo, e mais pesquisas são necessárias sobre os efeitos cardiovasculares da música;, frisa.

Fausto Stauffer, coordenador de Cardiologia do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, e diretor científico da Sociedade Brasileira de Cardiologia do DF, destaca que o estudo precisa de uma análise mais aprofundada. ;Pode ser considerada uma pesquisa pequena, pois analisou apenas 149 pacientes que tinham idade mais baixa e não eram tão propensos a ter problemas cardíacos. Seria importante analisar pessoas com maior risco dessas complicações relacionadas ao coração;, sugere. ;Mas são novos dados interessantes, que complementam descobertas que mostraram redução de ansiedade em pacientes com problemas cardíacos.;

Stauffer acredita que a pesquisa siga uma linha extremamente importante na área terapêutica. ;É interessante lembrar que, hoje em dia, temos dado foco a novas terapias não farmacológicas, queremos que o paciente mude o estilo de vida, faça mais exercícios, se alimente de forma adequada. E inserir uma música relaxante antes de dormir, que parece ter benefícios como vistos nesse estudo, é algo que pode ser usado, que se encaixa nesse conjunto de medidas;, frisa.

Palavra de especialista

Redução da ansiedade

;A espiritualidade e a cardiologia estão cada vez mais ligadas. Quando falamos de espiritualidade, não nos referimos à religião, mas a uma influência positiva, que ajuda a diminuir a ansiedade. Problemas como o infarto estão ligados ao tabagismo e à obesidade, mas há outros gatilhos relacionados. Sabemos, por exemplo, que o estresse tem papel nessas enfermidades. Por isso, ter uma alternativa que reduza esse estresse é algo muito positivo.;

Edna Oliveira, cardiologista e membro do Instituto do Coração, em Brasília

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