Ciência e Saúde

Microcefalia: Estudo mostra impacto socioeconômico em mulheres

Pesquisa da Fiocruz, UFPE e instituição inglesa mostra sofrimento traduzido em dados

Diário de Pernambuco
postado em 04/12/2018 11:39
Famílias são atingidas por dificuldades financeiras e de acesso a tratamentos
Uma pesquisa desenvolvida em conjunto pela Fiocruz Pernambuco, Instituto Fernandes Figueira, UFPE e London School of Hygiene and Tropical Medicine, da Inglaterra, traduz em números o sofrimento e as dificuldades enfrentadas pelas mães e outras mulheres envolvidas nos cuidados diários das crianças nascidas com microcefalia em decorrência da síndrome congênita do zika desde 2015. Segundo o estudo Impactos sociais e econômicos da infecção pelo vírus zika, o custo médio com consultas em um ano foi 657% maior entre as crianças com microcefalia ou com atraso de desenvolvimento grave causado pela síndrome, em comparação às crianças sem comprometimento.

A quantidade de consultas médicas e com outros profissionais de saúde foram superiores em 422% e 1.212%, respectivamente. Já os gastos das famílias com medicamentos, hospitalizações e óculos, entre outros itens, foram entre 30% e 230% mais elevados, respectivamente, entre crianças com microcefalia e crianças sem microcefalia, mas com manifestações da síndrome, e entre crianças microcéfalas e aquelas sem comprometimento.

Os dados foram coletados de maio de 2017 a janeiro de 2018, no Recife, Jaboatão dos Guararapes e Rio de Janeiro. A pesquisa aplicou 487 questionários e realizou 147 entrevistas, envolvendo profissionais de saúde, mães e outros parentes de crianças com o vírus, mulheres grávidas e em idade reprodutiva, homens em idade reprodutiva e cuidadores de crianças com a síndrome. Segundo o levantamento, 50% das famílias têm renda entre um e três salários mínimos.

De acordo com a médica Tereza Lyra, coordenadora dos trabalhos em Pernambuco, o estudo identificou que ;o ônus recai notadamente sobre as mães, que abrem mão de tudo, principalmente do aspecto social, para cuidar dos seus filhos.; A pesquisa constatou também que em Pernambuco o acesso aos serviços de saúde para crianças portadoras da síndrome vem melhorando. ;Apesar da ampliação, ainda existem muitas dificuldades, porque os atendimentos nem sempre são no mesmo local. Como elas necessitam se submeter a vários tipos de procedimentos, os constantes deslocamentos significam problemas para as famílias. Infelizmente o tratamento da doença é muito complexo, é meio lento e suas respostas não são imediatas;, comentou

Pânico

A maioria das mulheres em idade reprodutiva expressou sentimento de pânico em referência à gravidez durante a epidemia de zika. Elas temiam, principalmente, o impacto sobre a criança, embora não compreendessem totalmente o termo síndrome congênita. Incertezas sobre como elas ou os bebês podiam ser infectados foram comuns.

Outro medo era de uma gravidez não planejada, pois estavam insatisfeitas com a oferta de métodos contraceptivos disponíveis nos serviços de saúde. No momento das entrevistas, a maioria usava hormônios injetáveis e relatou falta de informação e falhas nos métodos utilizados. O DIU não apareceu como opção e os homens mostraram-se ausentes do planejamento reprodutivo. Quase todos os entrevistados desconheciam a possibilidade de transmissão sexual do vírus zika e alguns ouviram informações sobre isso na televisão, mas não deram importância porque, na visão deles, não era um assunto recorrente na mídia.

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