Ciência e Saúde

Com eficiência e custo baixo, chip monitora exposição à luz solar

Além do custo baixo, novo sensor chama a atenção pelo uso simplificado. Ele pode, por exemplo, ser preso a peças de roupa e ter formatos variados. Segundo os criadores, a solução ajudará na prevenção e no tratamento de doenças na pele, como o câncer

Vilhena Soares
postado em 06/12/2018 06:00

chip monitora exposição à luz solar

A pele é o maior órgão do corpo humano e, devido à alta exposição ao meio ambiente, acaba mais suscetível a problemas provocados pelo excesso de radiação solar, como o câncer. Para evitar essas complicações, investigadores americanos criaram uma tecnologia que consegue monitorar o nível de exposição aos raios ultravioleta (UV). Eles destacam que o custo baixo e a eficiência são as principais vantagens do chip, quando comparado a aparelhos semelhantes. O trabalho foi publicado na última edição da revista Science Translational Medicine.

Os autores explicam que o objetivo principal do estudo foi criar uma solução mais acessível ao público. ;Quando você pensa em um dispositivo que pode ;vestir;, já pensa em algo para o pulso. O problema com esses aparelhos é que eles geralmente são caros e, com o tempo, os usuários perdem o interesse em usá-los. Todos nós temos alguns desses aparelhos sem carga na gaveta do banheiro;, conta ao Correio Xu Shuai, um dos autores do trabalho e pesquisador da Universidade de Northwestern.

Shuai explica que ele e sua equipe começaram a pensar em maneiras de evitar o uso de fios, algo que também não precisasse de bateria e que fosse imperceptível. O objetivo sempre foi fazer com que o usuário ;esquecesse; que está usando a tecnologia. Além dessas condições, havia ainda o fato de existirem poucos aparelhos com o objetivo de monitorar a exposição à radiação ultravioleta. ;Sabemos que os raios UV são onipresentes e que estamos em uma epidemia de câncer de pele. Esses dois desejos se ;casaram; para criarmos nossos dosímetros de luz sem fio, portáteis e sem bateria;, frisa.

O aparelho tem design system on a chip (sistema em um chip, em tradução livre), permitindo acesso sem fio, por meio de smartphone. O sensor de leitura individual fornece os dados de exposição solar captados (Veja infográfico). Voluntários saudáveis usaram a tecnologia durante a prática de atividades recreativas ao ar livre (incluindo caminhada e natação) durante quatro dias, e os autores observaram que os dispositivos foram funcionais e confiáveis no registro de doses de radiação solar UV.

Icterícia

Outro ponto de destaque é a possibilidade de fabricar os sensores em diferentes formas e tamanhos, o que pode ajudar a ;capturar; a exposição a raios UVA e UVB também na fototerapia clínica. Os cientistas monitoraram, com sucesso, a exposição de crianças submetidas à terapia de luz azul para icterícia. ;Para recém-nascidos com icterícia, esses dosímetros de luz podem garantir que eles sejam acompanhados a cada minuto e recebam a terapia de que precisam;, frisa Shuai.

O cientista sinaliza outras aplicações do dispositivo. ;Também usamos luz, incluindo UV, para terapia. Eu tenho dezenas de pacientes em fototerapia para psoríase e eczema. Esses dosímetros de luz podem nos ajudar a direcionar melhor o tratamento para determinadas áreas da pele e garantir que eles estejam recebendo luz terapêutica adequada.;

Curt Treu, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), acredita que a tecnologia pode ser extremamente útil na prevenção de danos causados à pele pelo Sol, principalmente para perfis específicos. ;Medir essa exposição pode ser interessante em indivíduos que são expostos constantemente à luz solar, como carteiros e pescadores, fora pessoas que já sofreram com câncer de pele;, explica. ;Outro ponto interessante é essa versatilidade. Você poderia prender o dispositivo e usá-lo facilmente. Os aparelhos atuais são bem maiores e não permitem essa facilidade;, compara.

Segundo o médico, a solução pode ajudar também no monitoramento da exposição solar ao longo dos anos, considerando que esse é um fator de risco para o surgimento de tumores na pele. Shuai e os colegas também preveem essa aplicação. ;Na área médica, vemos uma forte aplicação na dermatologia. Muitas vezes, me pergunto quanto de sol meus pacientes, sobreviventes de melanoma, estão realmente recebendo. Com esses sensores, poderemos parar de adivinhar;, frisa o autor do estudo.

O grupo de pesquisadores, que tem experiência na criação de biossensores há décadas, iniciou a comercialização do novo produto. ;Uma versão da tecnologia está disponível, em uma parceria com uma empresa especializada em produtos voltados para a saúde da pele;, conta Shuai. ;Estamos orgulhosos por fazer parte de uma nova geração de tecnologias. Acreditamos que esses dosímetros de luz atendem a uma importante necessidade clínica e de consumo.;

;Muitas vezes, me pergunto quanto de sol meus pacientes, sobreviventes de melanoma, estão realmente recebendo. Com esses sensores, poderemos parar de adivinhar;

Xu Shuai, pesquisador da Universidade de Northwestern e um dos autores do estudo

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