Ciência e Saúde

Nova pesquisa indica que sal pode induzir reação alérgica

Substância promove respostas imunológicas ligadas ao surgimento da dermatite atópica e outras complicações inflamatórias da pele. A descoberta feita por cientistas da Alemanha poderá ajudar no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas

Correio Braziliense
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postado em 23/02/2019 07:00
Sal
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Técnica de Munique demonstrou, em laboratório, que o sal leva à formação de células imunológicas chamadas Th2, que ficam ativas em condições alérgicas, como a dermatite atópica. Os cientistas também detectaram concentrações elevadas de cloreto de sódio na pele dos pacientes de alergias alimentares.

Nos países industrializados, quase uma em cada três pessoas é afetada por alergias em algum momento da vida. Uma em cada 10 crianças sofre de dermatite atópica. As células-T desempenham papel importante nas condições imunológicas do tipo. Embora sejam um aspecto vital da resistência do corpo a infecções, se não controladas, também podem desencadear respostas patológicas e começar a atacar partes do próprio organismo em contato com substâncias inócuas, conhecidas por alérgenos.

Quando isso ocorre, as células Th2, um subgrupo de células-T, podem causar condições inflamatórias da pele, como a dermatite atópica. Isso envolve um aumento da produção das proteínas interleucina 4 (IL-4) e interleucina 13 (IL-13). Mas cientistas ainda não sabem o que desencadeia o ataque autoimune.

O sal de mesa, conhecido cientificamente como cloreto de sódio, é essencial para a saúde de seres humanos e animais. No corpo, ocorre na forma de íons sódio e cloro. No estudo, Christina Zielinski, professora da Universidade Técnica de Munique demonstrou que o sódio pode induzir uma reação nas células-T humanas que faz com que elas produzam quantidades aumentadas das proteínas IL-4 e IL-13. Na presença do sal, alguns tipos de células-T, que não causam alergias, podem, se transformar em Th2, desencadeando a reação alérgica.


Reversão


As alterações são revertidas quando a célula-T é novamente exposta a níveis mais baixos de sal. ;Consequentemente, os sinais iônicos desempenham um papel na geração e no controle das células Th2;, diz Christina Zielinski. O resultado do estudo foi publicado na edição desta semana da revista Science Translational Medicine.

Como especialista em dermatologia, Zielinski diz que seu interesse de pesquisa é a dermatite atópica. Por isso, ela investigou se as regiões da pele afetadas por essa alergia, caracterizada por secura, rachaduras, vermelhidão e coceira, exibiam níveis elevados de sódio. A análise revelou que as quantidades de sal nas lesões dos pacientes da doença eram até 30 vezes mais altas que nas áreas saudáveis da derme.

;Os níveis mais altos de sódio na pele afetada combinam nitidamente com outra característica da dermatite atópica;, diz Christina Zielinski. ;Sabe-se, há algum tempo, que os pacientes com essa condição apresentam níveis elevados da bactéria Staphylococcus aureus na pele. Trata-se de micro-organismos que prosperam sob condições salinas, diferentemente das bactérias comensais, que são prejudicadas pelo sal.;

A pesquisadora acredita que esse conhecimento prévio e os resultados da nova pesquisa são forte indicativo da associação entre o sal e a dermatite atópica. ;No entanto, ainda não conseguimos mostrar como essas grandes quantidades de sal chegam à pele;, admite. ;Por essa razão, também não temos certeza se uma dieta com pouco ou muito sal pode influenciar nessa ou em outras condições alérgicas.; A equipe espera responder a essa e a outras perguntas em novos estudos interdisciplinares.

33%
Dos adultos que vivem em países industrializados são afetados por alergia em algum momento da vida

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