postado em 04/05/2019 07:00
Uma ampla pesquisa conduzida por cientistas do Reino Unido mostra que, quando submetidos a um tratamento eficaz com antirretrovirais, homens gays não transmitem o vírus da Aids. A equipe acompanhou cerca de mil casais homossexuais, sendo um deles soropositivo, ao longo de oito anos. O resultado do trabalho, publicado na revista especializada The Lancet, reforça a importância de facilitar o acesso ao tratamento como uma política estratégica de combate à Aids.
A pesquisa foi feita em 14 países europeus, com voluntários que tiveram relações sexuais sem proteção ao longo dos oito anos de acompanhamento. Outra condição imposta pelos cientistas foi de que o parceiro soropositivo tinha que apresentar uma carga viral indetectável, graças ao uso recomendado de medicamentos antirretrovirais. Até o fim do trabalho científico, nenhum caso de transmissão de HIV foi detectado.
A conclusão reforça dados obtidos na primeira fase do estudo, realizada em 2016, quando nenhuma contaminação foi registrada após 1,3 ano de acompanhamento de 900 casais heterossexuais e homossexuais submetidos às mesmas condições. Na ocasião, os pesquisadores permaneceram prudentes e optaram por conduzir um estudo a longo prazo.
;Desta vez, nossos resultados dão uma prova conclusiva para os homens gays de que o risco de transmissão do HIV com uma terapia antirretroviral que suprime a carga viral é zero;, ressalta, em comunicado, Alison Rodger, professora na University College London e uma das autoras do estudo. Apesar dos resultados extremamente positivos, os investigadores frisam que não se pode excluir totalmente o risco de transmissão do vírus HIV, em particular por relações anais em um intervalo temporal mais longo.
Estigmatização
O princípio Indetectável = Intransmissível, segundo o qual uma pessoa sob tratamento não transmite mais o vírus da Aids, é defendido há vários anos por associações que lutam contra a doença. Apesar disso, ;os médicos generalistas, que não são especializados na área, mas que acompanham a maioria dos pacientes com HIV, sempre dizem que há ;menos risco; de transmissão;, comenta Aurélien Beaucamp, presidente da associação francesa Aides. ;Esse estudo pode nos ajudar a passar a mensagem de que não há risco;, acrescenta.
Alison Rodger tem opinião parecida quanto aos possíveis impactos do estudo do qual participou. ;Essa mensagem poderosa pode ajudar a pôr fim à pandemia de HIV, evitando a transmissão do vírus e combatendo a estigmatização e a discriminação enfrentadas por muitas pessoas que vivem com o vírus;, frisa a cientista.
O princípio Indetectável = Intransmissível surgiu em 2008, em um relatório da Comissão Federal Suíça para Problemas Ligados à Aids (CFSS). Depois de uma onda inicial de oposição, passou a fazer parte da estratégia de organizações voltadas para o combate à epidemia da Aids, como a o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids)
Desafio global
O programa da ONU tem como meta erradicar a epidemia da doença até 2030, com base em três pilares: que 90% infectados tenham conhecimento de sua soropositividade, que 90% deles tenham acesso aos antirretrovirais e que 90% das pessoas sob tratamento tenham uma carga viral indetectável.
Resultados como o conduzido pelos cientistas britânicos podem ajudar países a atingir a meta. Os autores, porém, ressaltam que o caminho a seguir ainda é muito longo, já que menos de dois terços (59%) dos soropositivos estão em tratamento, com disparidades significativas entre países centrais e periféricos.
Desde o início da epidemia da doença, nos anos de 1980, 78 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV e 35 milhões morreram. Apesar dos avanços na prevenção e nos tratamentos, há ainda 1,8 milhão de novos contágios e quase 1 milhão de óbitos por ano, de acordo com a Unaids.
"Essa mensagem poderosa pode ajudar a pôr fim à pandemia de HIV, evitando a transmissão do vírus e combatendo a estigmatização e a discriminação;
Alison Rodger, professora na University College London e uma das autoras do estudo
Médico infecta mais de 90 pacientes
Ao menos 90 pessoas, incluindo 65 crianças, foram inoculadas com HIV no sul do Paquistão por um médico que usou uma seringa contaminada em pacientes. A informação foi divulgada ontem por autoridades do país asiático, que prenderam o médico. Segundo a polícia, o profissional, que não teve o nome divulgado, é soropositivo. O primeiro alerta sobre a prática se deu na semana passada, depois que 18 crianças que moravam na periferia de Larkana foram diagnosticadas com o vírus. ;O sangue dos pais das crianças infectadas também foi analisado, mas os resultados deram negativo;, diz Azra Pechuho, ministra de Saúde da província de Sindh, onde fica Larkana.